Conceito de Filosofia Moderna

Lilén Gomez | ago. 2022
Professora de Filosofia

A filosofia moderna engloba o conjunto de diversas correntes filosóficas nascidas no período da modernidade histórica, cujo início, convencionalmente, costuma ser datado tomando como ano de referência a queda de Constantinopla (1453) ou a conquista da América (1492), estendendo-se até a Revolução Francesa. (1789); isto é, abrangendo os séculos XV, XVI, XVII e XVIII. É necessário, no entanto, salientar que existem vários critérios para caracterizar a idade moderna. Isso pode ser pensado mais como um sistema de valores, antes que uma época estabelecida cronologicamente.

A questão da periodização

Frequentemente, a filosofia moderna está historicamente localizada na Europa no início do século XVII, seguindo o período renascentista, que é interpretado como uma transição do pensamento medieval para o pensamento moderno. Note-se que, tratando-se de processos históricos de transição, estamos falando de mudanças lentas e progressivas, para as quais é possível encontrar elementos que atualmente caracterizamos como “modernos” já nas filosofias renascentistas. Então, é preciso levar em conta que as cronologias, como critério de demarcação de épocas, têm limitações.

Há certos marcos de pensamento que servem para estabelecer uma demarcação da extensão da filosofia moderna: o cartesianismo, de René Descartes (1596-1650), a astronomia de Galileu Galilei (1564-1642), o método de observação e experimentação do Novum Francis O Organum de Bacon (1561-1626) ou as teorias da soberania política elaboradas por Thomas Hobbes (1588-1679).

Em certos casos, procura estabelecer uma relação causal direta entre os acontecimentos sociais e políticos que marcam o início da modernidade e o desenvolvimento das ideias filosóficas modernas. Embora essa relação exista, nem sempre é uma causalidade linear. Sem dúvida, as transformações nos esquemas políticos e nas formas de conceber o conhecimento, com o surgimento da ciência como esfera autônoma, a posição do indivíduo diante do mundo, serão temas centrais para a reflexão filosófica da época, para o momento em que essa reflexão terá sua própria influência na forma como essas áreas se configuram.

Características do pensamento filosófico moderno

As filosofias modernas recolhem os resultados do processo de “secularização” ocorrido durante o Renascimento, como parte da crise da instituição eclesiástica. A metafísica, de mãos dadas com a ciência da natureza, assim como a moral e a política, ou seja, o conhecimento em geral, se transforma em relação a esse processo.

A virada naturalista da filosofia pode ser pensada a partir de três características: a ciência passa a ser concebida como parte do projeto de dominação da Natureza, o conhecimento implica uma capacidade de agir sobre o que existe; por sua vez, a própria Natureza passa a ser considerada em termos mecanicistas, ou seja, os fenômenos naturais são explicados sob um esquema de relações de causalidade mecânica, o mundo pode ser entendido como um conjunto de partes conectadas sob relações físicas, não espirituais (mais tarde, a matéria vem ser pensado como inerte e disponível para uso humano); correlativamente, a agência sobre o mundo recai sobre a vontade divina, da qual o ser humano participa de forma privilegiada, acima de qualquer outro ente existente.
racionalismo e empirismo

A emergência do racionalismo moderno, com René Descartes como um de seus principais referentes, será paradigmática da expressão dessas transformações. A separação dualista entre intelecto e matéria, como proposta pelo cartesianismo, opera em conjunto com a hierarquização do homem sobre o mundo entendido como uma ordem inerte. Se a vontade é própria apenas do ser humano, cuja subjetividade é excepcional em relação ao resto do que existe, então somente o homem pode conhecer o mundo e apropriar-se dele para seu próprio benefício. Tal conhecimento terá um método próprio, pelo qual o ser humano poderá acessar a verdade. Na base dessas concepções estão duas ideias metafísicas fundamentais: substância e causalidade. O homem, como substância pensante, é capaz de conhecer a extensa substância que compõe o mundo e esse conhecimento avança graças às relações causais.

Com o empirismo, que vem questionar essas duas últimas ideias, o esquema metafísico cai e deve ser reajustado para salvar a possibilidade humana de conhecer. Embora o empirismo corra do centro da cena para a racionalidade humana, em seu lugar localiza a experiência sensível do homem, de modo que sua posição diante do mundo natural, atravessada por uma relação de dominação — característica do pensamento moderno — permanece através dessas mudanças.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Filosofia Moderna. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/filosofia-moderna/. São Paulo, Brasil.

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