Conceito de Filosofia Pré-socrática

Lilén Gomez | Julho 2023
Professora de Filosofia

A chamada filosofia de pré-socrática compreende a visão elaborada pelos diferentes pensadores dos quais temos registros, na Grécia antiga, entre os séculos VI e V a.C., prévio ao surgimento da filosofia inaugurada por Sócrates.

Características gerais da filosofia pré-socrática

A principal preocupação dos filósofos representantes do período era o estudo da natureza (physis), pensada como um todo. Seus interesses eram nas áreas de matemática, astronomia, geografia, medicina e biologia. Por sua vez, sob a influência dos sofistas, também se indagaram no campo da epistemologia e da semântica.

Entre os filósofos pré-socráticos podemos citar Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes de Colofón, Pitágoras de Samos, Zenão de Eleia, Empédocles de Acragas, Diógenes de Apolônia, Demócrito de Abdera, Anaxágoras de Clazomene. Dois deles foram particularmente relevantes pela influência de suas ideias: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia.

As fontes dos filósofos pré-socráticos que se conservam são indiretas, geralmente recuperadas através de fragmentos citados por autores antigos posteriores a eles (como Platão, Aristóteles, Simplício, etc.), e de testemunhos sobre suas vidas.

Cosmogonias mitológicas

As ideias cosmogônicas sobre a estrutura do mundo, que estão na base do pensamento filosófico de caráter mais racionalista, provêm, paradoxalmente, de contextos mitológicos. Assim, as histórias de Homero e a Teogonia de Hesíodo são fontes privilegiadas para o pensamento filosófico grego em suas origens.

A concepção homérica, pré-filosófica, da alma (psyché), como um sopro insubstancial que, como uma influência, dá vida ao corpo e sobrevive no Hades após sua morte, é um antecedente de grande importância nos desenvolvimentos posteriores do pensamento grego (que, por sua vez, teve uma influência decisiva na história das ideias ocidentais). As filosofias pré-socráticas de Pitágoras, Tales, Anaxímenes e Heráclito são herdeiras da concepção homérica a esse respeito.

Da mesma forma, os esforços racionais para explicar a estrutura do universo – como o desenvolvimento de uma origem simples e única – também remetem à tradição poética anterior.

Heráclito de Éfeso

As histórias que chegaram até nós sobre a figura de Heráclito geralmente o apresentam como um personagem misantrópico, que se relacionava mal com seus concidadãos, preferindo brincar com as crianças. Foi apelidado de “o obscuro”, devido ao seu estilo enigmático de escrita, associado ao seu caráter “aristocrático”. A ele é creditado um único livro, “Sobre a natureza”.

Heráclito sugere que a constituição do mundo — ignorada pela maioria dos homens, que acreditam ter um pensamento particular — é essencialmente uma e se explica em termos do fundamento como princípio subjacente a todas as coisas. A aparência plural do universo é reunida em um todo coerente, do qual os homens fazem parte e ao qual, então, podem acessar logicamente. Os opostos estão ligados a um único processo invariável e este, por sua vez, é marcado por uma transformação permanente.

Tanto o logos como o fogo são figuras que, nos diferentes fragmentos, remetem ao referido princípio imanente que equilibra a pluralidade do todo, numa harmonia maior. Na imagem do rio, que chegou aos nossos dias sob a ideia de que “ninguém pode banhar-se duas vezes nas mesmas águas”, ilustra-se o conceito de mudança permanente como o único princípio invariável, constitutivo da realidade.

Parmênides de Eleia

A obra mais significativa de Parmênides que chegou até nós é seu poema, que lançou as bases metafísicas e epistemológicas que o platonismo mais tarde assumiria. Ali, ele proclama que existem apenas duas possibilidades, dois caminhos que o pensamento pode seguir, ambos mutuamente exclusivos: o caminho do ser e o caminho do não-ser.

O poema consiste em um argumento sobre a necessidade de rejeitar a segunda alternativa, por ser ininteligível. Só o caminho do ser é seguro e conduz à verdade, e a ela acedemos racionalmente, não pelas crenças ou pelos sentidos. A maioria dos homens não chega ao conhecimento da verdade —única, perfeita, invariável—, porque confunde os dois caminhos, porém, em nenhum caso, o que não existe pode ser pensado, portanto, vir a ser, de modo que nunca poderá ser verdadeiro.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Julho 2023). Conceito de Filosofia Pré-socrática. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/filosofia-pre-socratica/. São Paulo, Brasil.

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