A Reforma Protestante foi o resultado de um movimento de transformação dentro da fé cristã, iniciado na Alemanha no século XVI, que resultou na divisão da Igreja Católica, da qual nasceu o protestantismo. O contexto de época foi atravessado por uma série de reformas tanto no âmbito cultural como religioso, sob a influência do Humanismo renascentista. O impacto de tais reformas atingiu não apenas o campo da teologia, mas uma multiplicidade de esferas, como história, literatura, filologia, educação, artes, ciências.
O ambiente social em que se gesta o movimento da Reforma Protestante é uma situação de declínio geral das formas medievais de religiosidade, que tem como contrapartida o processo de secularização do poder a partir da gênese dos Estados modernos na Europa, em cuja base se deu o surgimento do modo de produção capitalista.
Perante a crise generalizada da teologia escolástica, cujas duas fontes principais foram, a ruptura entre fé e razão e a própria crise da autoridade eclesiástica, manifestaram-se diferentes impulsos para a transformação do cristianismo, em duas direções principais. A primeira propunha a criação de uma nova teologia, desprezando a teologia escolástica tradicional (o movimento de reforma protestante se inscreverá nessa linha, juntamente com o movimento humanista de Erasmo de Roterdã).
A segunda defendia a renovação da teologia escolástica medieval, recuperando sua essência genuína e, ao mesmo tempo, adaptando-a aos novos valores culturais dos tempos modernos, influenciados pelo Humanismo.
Martinho Lutero (1483-1546), teólogo, filósofo e frade católico, foi um dos principais promotores da Reforma Protestante, ocorrida em 1517. O objetivo da Reforma, declarada por Lutero, era recuperar a “pureza” do Evangelho, obscurecido pelo aristotelismo, pelo qual a teologia se confundia com a razão, e pela tirania do papado romano, que se manifestou nos privilégios concedidos à nobreza e na decadência moral dos clérigos, que transformaram a igreja em um negócio sob as ordens do papa.
No sistema teológico luterano, a absoluta transcendência de Deus, cuja divindade permanece inacessível aos seres humanos, é considerada um princípio teológico fundamental. Desta concepção básica decorrem dois princípios, que serão decisivos para a Reforma. Por um lado, o princípio da “exclusividade”, que implica que a salvação na fé cristã é apenas mediada por Cristo, ou seja, não há intervenção humana, ao contrário do princípio pelo qual se orienta o sistema católico, que agrega a participação da Igreja à ação de Cristo, como intermediária entre o homem e a palavra de Deus.
Por outro lado, o princípio da “passividade”, pelo qual o homem só pode permanecer passivo diante da ação divina, ou seja, somente Deus pode salvar a alma humana, portanto, nenhuma ação realizada pela criação pode ser salvadora, se não vem do Criador.
Como consequência de ambos os princípios, o resultado é que tudo o que se interpõe entre o mundo humano e a ação salvífica de Deus deve ser suprimido, ou seja, toda realidade material, criada, que se afirma como instrumento da graça de Cristo é negada. Com isso, o poder da instituição eclesiástica seria devastado, pois nenhum sacerdócio teria o poder de se promover como representante da autoridade de Deus na terra. Daqui para frente, o poder da Igreja enfraquece e entra em conflito com o da autoridade política.
Na medida em que a piedade cristã consiste na fé na salvação de Cristo, sem intermediários externos, a religiosidade é tratada como um assunto particular de cada indivíduo. Portanto, a Palavra de Deus, por meio das Escrituras, deve ser interpretada sem mediação. Nesse sentido, o movimento protestante toma como marco a tradução da Bíblia, primeiro, para o alemão, e depois para outros idiomas, para que o povo possa acessar diretamente sua leitura. A teologia se restringe, então, ao conhecimento da Sagrada Escritura sob inspiração divina por parte de cada fiel.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (nov., 2022). Conceito de Reforma Protestante. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/reforma-protestante/. São Paulo, Brasil.