Quando ouvimos falar de revolução russa, rapidamente os nomes que nos veem à mente são Lênin, Stalin e comunismo. Porém esta revolução é algo mais complicado do que se pode imaginar, sendo o comunismo uma de suas principais manifestações, que acabou saindo politicamente vitoriosa, mas não necessariamente a mais representativa.
A Rússia e seu império, apesar de ser uma potência da época (final do século XIX e início do século XX), era um país em que a maioria da população vivia de forma miserável e ancorada em uma tradição que não soube superar a época do feudalismo, com um campesinato que apesar de ser libertado na teoria, na prática continuou a servir como se fosse a propriedade de seu senhor.
Nas cidades, as condições de vida não eram necessariamente melhores, assim como os trabalhadores eram explorados pelos grandes proprietários das fábricas. Por outro lado, a classe nobre era improdutiva, sem dizer que a igreja ortodoxa estava apenas à sombra do poder, muito às claras e com pouca dissimulação.
Estas condições constituíam o terreno propício para fortalecer os ideais esquerdistas e revolucionários, especialmente nas grandes cidades, onde havia mais acesso a livros e notícias e as ideias circulavam de forma mais rápida e fluente.
A participação do império dos czaristas neste conflito foi marcada pelo uso das classes populares como “matéria de propaganda”, pela inutilidade dos seus comandos (o que resultou em derrotas ostensivas e grandes matanças), assim como nas dificuldades causadas tanto nas trincheiras que vinham de trás e de frente.
Isto agravava uma situação que já se conhecia desde a derrota na Guerra Russo-Japonesa (de fevereiro a setembro de 1905), uma derrota que levaria a uma primeira tentativa revolucionária.
A atitude da família real, com o czar Nicolau II no comando, não ajudou a apaziguar os ânimos do povo.
Em fevereiro de 1917, uma série de greves nas fábricas de Petrogrado (São Petersburgo, capital imperial) foi aquecendo progressivamente até chegar a uma explosão violenta. O czar fez o exército intervir, mas os soldados começaram a juntar-se como os revolucionários.
O regime começou a entrar em colapso, fruto do desgosto popular relacionado à pobreza e à opressão, fatores que a repugnante gestão do tempo de guerra havia agravado.
Finalmente todas as tropas de Petrogrado, enviadas para reprimir a rebelião, acabaram mudando de lado e unindo-se aos seus compatriotas; afinal de contas, as forças armadas também faziam parte daquele povo que lhes eram solicitados para atacar.
O triunfo da revolução na capital obrigou o czar a abdicar, não tanto pela pressão popular, mas sim pela política.
Os líderes viam um risco na revolução, onde a mesma poderia se estender a mais cidades e consequentemente tornar-se incontrolável. Desta forma, esperavam aplicar reformas, porém conservando a ordem que lhes interessava (além dos seus cargos).
O problema é que este plano de transição suave, pacífico e, acima de tudo, controlado, não saiu muito bem.
Longe de sua aprovação com o comunismo e da má reputação posterior, os soviets não passaram nada mais de uma forma de organização para permitir que a sociedade funcionasse de forma normal, assumindo tarefas que o governo não podia realizar (como a provisão de alimentos) ou que os líderes de certas áreas não queriam ou impediam.
No czar, depois de abdicar seu irmão (que, por sua vez, rejeitou a coroa) foi sucedido por um governo provisório que desde o primeiro momento foi superado pelos acontecimentos.
O governo provisório não satisfez uma das principais demandas dos revolucionários: sair da guerra. Esta aspiração foi capitalizada pelo partido bolchevique, liderado por Lênin.
Lênin soube como canalizar o desconforto de muitos em relação à classe dominante. Seu “jogo” consistia em tornar-se um defensor das opiniões e das correntes mais radicais, como solicitar a expropriação das terras nas mãos dos grandes terratenentes.
A pressão exercida pelos bolcheviques se amortizava com uma perseguição que obrigava Lênin a refugiar-se na Finlândia.
Assim, o governo provisório tentava recuperar a ordem da situação e dispor de um exército que, pelo menos, poderia aguentar uma Alemanha que não perderia a oportunidade de se lançar sobre o Império Russo.
Porém o povo já estava excessivamente desgostado e suprimido. Os bolcheviques, inicialmente minoritários, estavam ganhando posições graças à sua defesa de postulados radicais, com cada vez uma maior parte do povo radicalizando-se como única forma de alcançar seus propósitos.
Apesar deste crescimento e consequente influência era notável que Petrogrado e Moscou (muito mais que o resto do país) eram as cidades do centro do poder.
Em outubro de 1917, Lênin viu chegar o momento de assumir o poder pela força. Estabeleceu este o início da revolução de outubro.
O próximo passo de Lênin e seus aliados foi dissolver o governo provisório e criar seu próprio governo, que começaria imediatamente a negociar a paz com o Império alemão, da qual seria selado o tratado de Brest-Litovsk.
Este tratado estabeleceu perdas territoriais, que levariam a vários conflitos de guerra após a Primeira Guerra Mundial.
A oposição também se organizava, reunindo de czaristas a democratas. Uma organização militar.
Deixamos para trás a revolução, com um governo constituído, e passamos para um novo episódio, a Guerra Civil Russa. Mas isso é outra história.
Imagem: Fotolia. bakhtiarzein
Referencia autoral (APA): Editora Conceitos.com (nov., 2017). Conceito de Revolução Russa. Em https://conceitos.com/revolucao-russa/. São Paulo, Brasil.