A identidade pessoal, em linhas gerais, consiste no processo pelo qual os indivíduos constroem uma relação com eles mesmos por meio do desenvolvimento de sua imagem pessoal e a ligação com determinado grupo humano, além dos laços biológicos que os unem a um agregado de indivíduos ou outro. Muitas vezes, a identificação com determinada comunidade é construída pelo negativo, ou seja, os membros de um grupo são determinados a partir da exclusão daqueles que não fazem parte dele.
No campo da lógica clássica, o princípio de identidade é um princípio formal, que sustenta que toda entidade é idêntica a si mesma (ou seja, “A é A”). De acordo com este critério, “A” só é idêntico a “B” desde que “A” e “B” se refiram à mesma entidade.
A identificação com uma determinada comunidade supõe uma hierarquia de alguns traços sobre outros: na medida em que, empiricamente, cada indivíduo pode ser determinado a partir de uma infinidade de características, ele opta por destacar uma sobre as outras, em função da construção de uma determinada identidade. Por exemplo, um ser humano pode ser definido como sendo, ao mesmo tempo, filho, trabalhador, pai, membro de um clube, etc., porém, ao identificar-se como filiado a uma associação sindical, destacará sua característica de trabalhador, acima de suas outras características.
Ao longo da história, a identidade nacional, em virtude da qual os indivíduos se reconhecem como cidadãos de um Estado ou de uma comunidade política, tem sido uma das formas de identificação mais relevantes a nível social. Como consequência de uma crise das estruturas identitárias tradicionais, por volta da década de 1960, importantes movimentos organizados surgiram de uma política identitária dissidente – que admite uma sobreposição entre si, ou seja, uma interseccionalidade -, por exemplo, movimentos feministas, movimentos contra racismo ou o movimento lgbtqia+.
A transformação a que está associada a conformação de tais movimentos podem ser localizada em uma mudança na conceituação da identidade como produto da posição ocupada pelos indivíduos na estrutura social, que passa a ser considerada focando-se na dimensão discursiva do identitário, na qual se inscrevem as práticas de identificação. Então, a identidade passa a ser entendida como uma construção móvel, não inflexível.
O problema da identidade pessoal —entendida como a formação de indivíduos estáveis ao longo do tempo, conscientes de suas ações— tem sido um dos temas mais revisitados nas ciências sociais e humanas. No último século, multiplicaram-se os debates entre diferentes perspectivas teóricas sobre identidade. Podemos citar três grandes correntes que tematizaram essa questão. Em primeiro lugar, aquela que pensa a identidade a partir das teses do multiculturalismo, assumindo como pressuposto fundamental a distinção entre identidade e alteridade.
Em segundo lugar, a compreensão da identidade como processo de mesmice, que responde à construção da identidade como reflexão sobre si mesma, a partir de uma alteridade. Por fim, a corrente conhecida como “pós-estruturalista”, que coloca a noção de identidade como fruto de uma produção e, portanto, como elemento passível de transformação permanentemente.
Dentro desta última corrente, destacou-se a ideia – elaborada pela filósofa Judith Butler (1956) – da produção de identificações como resultado de atos performativos. Nessa perspectiva, nenhuma identidade consiste em um caráter essencial ou estável, mas é “atuada” permanentemente, por meio de ações que se repetem ao longo do tempo ou que podem ser atuadas de forma diferida. Nesse sentido, toda subjetividade é performática, pois não se afirma definitivamente, sendo recriada ao longo do tempo por meio da fala, gestos, modos de vestir, modos de se expressar, entre outros.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Identidade Pessoal. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/identidade-pessoal/. São Paulo, Brasil.