Conceito de Autoimagem

Lilén Gomez | nov. 2022
Professora de Filosofia

A autoimagem é a percepção que temos de nós mesmos, baseada em um constructo global representativo que damos a outras pessoas. A autoimagem não se baseia exclusivamente na aparência física, mas leva em conta a identidade em sua totalidade, por exemplo, a partir de nossos gestos, modo de falar, modo de vestir, nossas ideias e sentimentos. Na psicologia, o conceito de autoimagem é de grande importância, pois as emoções e pensamentos que se tem sobre si mesmo influenciam o bem-estar mental.

A noção de autoimagem em psicologia

O filósofo e psicólogo americano W. James (1842-1910) desenvolveu o conceito de autoimagem, observando que ele se baseia na capacidade de distinguir entre os pensamentos que pertencem ao eu e os que não pertencem. Tal autoconsciência constitui um fenômeno subjetivo, que é percebido como uma sensação. A autoimagem, nesse sentido, está intimamente ligada à ideia de uma identidade pessoal, pela qual mantemos uma unidade do nosso eu ao longo do tempo.

Enquanto a identidade pessoal é o sentimento que o eu tem de si mesmo, a autoimagem se constrói não a partir do “eu”, mas do “meu”, que inclui não apenas a nossa pessoa, mas tudo o que podemos chamar de “nosso”. O “meu” é classificado em três tipos: material, que se refere às realidades físicas que possuímos, ou seja, nosso corpo e todos os nossos bens materiais; social, pelo qual temos consciência da imagem que os outros têm de nós; e espiritual, que reúne os estados de nossa consciência, nossas capacidades, disposições e processos psíquicos.

As facetas do “meu” em que se configura a autoimagem têm impacto emocional na consciência do eu que as engloba, o que traz consequências para a vida psíquica, na medida em que se apropria delas em maior ou menor grau. Isto é, o eu abrange todas as dimensões do “meu”, e nossa consciência sobre o eu é afetada pelo impacto que essas dimensões têm em nossa autoimagem, de acordo com o nível de importância que atribuímos a elas.

James aponta que a autoimagem, seja positiva (autocomplacência) ou negativa (autoinsatisfação), nem sempre corresponde às qualidades objetivas reais, positivas ou negativas, de cada pessoa, mas a maneira como essa pessoa se vê parece condicionada pela própria estimativa, estabelecida com base no sucesso que se tem na realização dos objetivos propostos por si mesmo. Assim, por exemplo, se um indivíduo assume o objetivo de ganhar muito dinheiro, privilegiando a dimensão material do “meu”, e não o alcança, sua autoavaliação será negativa.

A ideia de James sobre a relevância que adquire a comparação entre expectativas e sucesso na autoimagem foi retomada por outros autores, enfatizando a noção de que o impacto psicológico na autopercepção que a execução de uma ação tem não depende estritamente do resultado da referida ação, mas fundamentalmente da sua comparação com o resultado esperado dessa ação.

Então, se conseguirmos realizar uma atividade que consideramos fácil, ou se falharmos em uma atividade que consideramos difícil, o impacto não será o mesmo que falhar em uma atividade que esperávamos concluir ou realizar uma tarefa que vemos como árdua. Dessa forma, nossas expectativas dependem de nossa autoimagem, na medida em que nos consideramos capazes ou não de realizar determinada ação, mas, ao mesmo tempo, nossa auto-imagem é afetada pelo sucesso ou fracasso em realizar tal ação, dependendo da maneira como a antecipamos.

Autoimagem e redes sociais

As técnicas de produção da autoimagem foram se transformando ao longo dos diferentes períodos históricos. Atualmente, a circulação digital de imagens pelas redes sociais configura uma forma específica de nos vincularmos à identidade, algo característico das sociedades contemporâneas.

A “selfie” converteu-se na forma mais difundida de auto-apresentação através da imagem, de tal forma que se tornou um dos dispositivos privilegiados de construção identitária na sociedade ocidental.

As análises das ciências sociais e humanas a respeito das selfies mostram certa ambivalência, na medida em que o fenômeno pode ser entendido como um sintoma narcisista típico das sociedades do capitalismo tardio, em cujo contexto a própria subjetividade se apresenta como uma mercadoria que é colocada em um mercado de imagens, para consumo. Assim, como outras interpretações sugerem, esta é uma prática de visibilidade de subjetividades subalternas, como uma ferramenta de comunicação para distribuir causas e forjar alianças com outros atores sociais.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (nov., 2022). Conceito de Autoimagem. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/autoimagem/. São Paulo, Brasil.

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