O termo nação, com raiz no latin nāscī —cuja interpretação se refere a “nascer” — originalmente, transmite a ideia de um grupo de pessoas nascidas no mesmo lugar. Atualmente, o conceito de nação refere-se de maneira geral a um corpo político, no sentido moderno da expressão, não unido exclusivamente por uma base étnica comum dada pelo local de origem de seus membros, mas por diferentes características comuns.
Os fenômenos nacionais foram pensados a partir de duas grandes perspectivas. Em primeiro lugar, a nação foi representada como forma de identidade essencial de um coletivo, que permaneceria constante ao longo da história. Assim, cada região expressaria sua própria identidade, ao longo do tempo. Esse ponto de vista tem sido associado, por sua vez, à ideia de que tal identidade nacional seria um traço natural, típico da espécie humana.
A segunda perspectiva, de natureza construtivista ou historicista, ao contrário, sugere que as nações são construções culturais próprias dos seres humanos que resultam de processos históricos contingentes, ou seja, não determinados por uma natureza essencial. Essa abordagem foi trabalhada por autores como Eric Hobsbawm (1917-2012) ou Étienne Balibar (1942).
Normalmente, os conceitos de estado e nação são usados, no discurso atual, como sinônimos. No entanto, no campo da Filosofia, da Ciência Política ou do Direito, trata-se de dois conceitos técnicos que se referem a entidades diferentes, bem como possuem diferentes poderes jurídico-normativos. A nação é composta por um grupo de indivíduos que se reúnem por motivos culturais e históricos comuns (entre os quais, podemos citar, língua, tradições, festividades, modos de vida, origem étnica, religião), enquanto o Estado é a forma como se organiza politicamente um território.
O fenômeno nacional é atravessado pela dimensão do sentimento dos indivíduos que o compõem, ou seja, não se define em termos objetivos, mas pelo objeto comum que compartilham que é muitas vezes ambíguo. Nesse sentido, a nação pode ser definida (seguindo Max Weber, 1864-1920) em termos de um sentimento, consciência ou psicologia social compartilhados, que se manifesta concretamente no contexto de um Estado (ainda que uma nação possa existir sem se organizar sob uma forma de estado).
A subjetividade coletiva que reúne os membros da comunidade, ao mesmo tempo, estabelece uma distinção em relação aos que não fazem parte dela. A diferença entre o “nós” da nação e o “eles” do estrangeiro resulta em um antagonismo constitutivo do fenômeno nacional. A partir das relações de exclusão que se traçam em relação ao que existe fora da comunidade, estabelece-se um critério de demarcação da própria comunidade. As fronteiras são, neste sentido, uma condição de possibilidade de construção nacional, pois permitem afirmar uma identidade comum, em oposição ao exterior.
Segundo o sociólogo Nortbert Elias (1897-1990), a origem das nações modernas é fruto de um processo recente, embora as ideologias nacionais geralmente representem a nação como uma entidade muito antiga e a mostrem como algo eterno. No entanto, as sociedades foram organizadas como estados nacionais, inicialmente na Europa, após a segunda metade do século XVIII. No antigo mundo, as sociedades não tinham o caráter de uma nação. Este se desenvolvera concomitantemente com os processos de industrialização modernos.
O século XIX foi marcado pelo confronto entre a aristocracia proprietária, as classes médias industriais e as classes trabalhadoras. A ascensão das classes empresariais, que passaram a reivindicar maior participação nos assuntos de Estado contra a dominação das classes altas, levou a uma reorganização do poder que marcou o ponto de partida para a fundação dos Estados nacionais. A construção das nações e a industrialização fazem parte de um mesmo processo de transformação. Isso porque, nas sociedades feudais, a distribuição do poder era extremamente desigual, mas, com o surgimento das classes médias, o poder foi redistribuído, dando origem a partidos de massa, que se estabelecem como instituições regulares, base do Estado-nação.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Setembro 2022). Conceito de Nação. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/nacao/. São Paulo, Brasil.