A mobilidade social é se refere, de forma geral, à possibilidade que os indivíduos têm de se deslocar para outros estratos ou classes dentro de uma sociedade. Logo, abrange as transformações que os membros de um grupo podem sofrer quanto à sua posição na estrutura socioeconômica. O conceito é amplamente discutido na Sociologia, e seus estudos têm surgido, principalmente, a partir de duas correntes teóricas: as chamadas teorias funcionais da sociedade ou teorias do consenso e, as chamadas teorias do conflito.
As teorias funcionalistas da sociedade — cujos representantes estão Saint Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857), Émile Durkheim (1858-1917), Talcott Parsons (1902-1979), entre outros— assumem como pressuposto geral que a ordem social se baseia em acordos tácitos, de modo que as mudanças sociais ocorram de forma lenta e ordenada, dando margem à possibilidade de mobilidade social das pessoas no sentido ascendente, ou seja, rumo a melhores condições materiais de vida. A partir desse quadro, a estratificação social é resultado da divisão do trabalho, baseada nas qualificações e habilidades dos indivíduos. A ascensão social, nesse sentido, é produto de um esforço meritocrático, na medida em que a distribuição de bens escassos depende de um sistema de recompensas.
Assim, a estratificação social, para o funcionalismo, não implica conflito, mas se explica pelas necessidades do sistema social, pensado como um todo orgânico. Por sua vez, a mobilidade ocorre pela capacidade dos agentes desempenharem com sucesso as funções que lhes são atribuídas de acordo com o seu cargo, tendo como ponto de partida a igualdade de oportunidades dos indivíduos.
O sociólogo russo Pitirim Sorokin (1889-1968), juntamente com o economista austro-americano Joseph Schumpeter (1883-1950), são considerados os fundadores da sociologia da mobilidade social, de matriz pré-funcionalista, que será elaborado por Talcott Parsons anos depois. Segundo Sorokin, a mobilidade dos indivíduos – ou seja, a passagem de uma posição social para outra, num sentido vertical (hierárquico) ascendente ou descendente, é uma das características definidoras das sociedades ocidentais contemporâneas. Os estratos sociais são determinados por três dimensões: econômica, política e ocupacional, e sua interação não supõe, ao contrário do ponto de vista das teorias do conflito, uma luta entre classes.
Os debates em torno da noção de mobilidade, historicamente, têm se estabelecido entre dois polos: enquanto o funcionalismo seguiu uma vertente liberal, as teorias do conflito foram articuladas na herança marxista, apoiadas na noção da divisão da sociedade em classes antagônicas.
As teorias do conflito, diferentemente daquelas de inclinação funcionalista, não tematizaram o problema da mobilidade social como tal. Isso se deve ao fato de que os primeiros não aceitam o pressuposto da igualdade de oportunidades entre os indivíduos, mas tomam como ponto de partida a desigualdade de condições materiais que resulta da divisão social em classes opressoras e oprimidas. Considerando que, para o funcionalismo, o mérito individual é suficiente para justificar teoricamente a ascensão social, para as teorias neomarxistas do conflito, as condições de exploração tornam a mobilidade social impossível na prática.
Para que ocorra uma verdadeira transformação das condições materiais de existência dos sujeitos, dentro de uma sociedade dividida em classes, deve ocorrer uma reestruturação radical das relações sociais de produção —não apenas um aumento ou diminuição da remuneração salarial recebida—, tal que a propriedade privada dos meios de produção seja eliminada e, com ela, ocorra a abolição das classes.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Mobilidade Social. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/mobilidade-social/. São Paulo, Brasil.
