As Identidades coletivas são refúgios de identificação compartilhados entre grandes grupos de pessoas em uma sociedade. É importante destacar que a terminologia e as explicações teóricas podem ser diferentes dependendo da disciplina que aborda esta categoria.
Se partirmos do entendimento de que a identidade é percebida como um conjunto de traços e características que definem um ser, objeto ou situação de forma particular e específica em relação a outro ser, objeto ou situação, é possível entender que identidade tem a ver com aquilo que nos torna diferentes dos outros, caso contrário, não se poderia estabelecer um limite entre o eu e o outro, ou entre nós e os “outros”. Embora dois grupos identitários possam compartilhar algumas características semelhantes, o que importa é a perspectiva geral daqueles pelos quais diferem, como ocorre entre os grupos indígenas, que compartilham o fato de pertencer a comunidades pensadas como tal, embora características como vestimentas, cosmovisões, maneira de comer, maneiras de honrar e celebrar o que consideram sagrado, entre muitos outros aspectos de uma longa lista de eteceteras, são essencialmente diferentes.
As identidades coletivas não são imutáveis ao longo do tempo, ou seja, não são construções fixas que permanecem inalteradas nos grupos sociais. Os elementos definidores alternam-se e combinam-se com a aurora dos tempos, pelo que são flutuantes, maleáveis e sobretudo permeáveis a diversos fatores. As identidades coletivas são sempre sociais, pois como dito anteriormente, só é possível nos identificarmos diante dos outros. Por outro lado, para a existência de identidades coletivas é preciso primeiro estabelecer a identidade individual, pois a autoidentificação com o que somos acontece dentro de um grupo, mas para que isso ocorra, primeiro nós desenvolvemos dentro da nossa própria autopercepção. Então, é possível projetá-las com os outros e começar aquela ‘dança’ entre o que penso que sou e o que não sou, e assim, procuro e encontro referências para me espelhar com os outros. Este é um processo bastante irregular ou circular que não tem um início definido, pois desde o nascimento nos são dadas certas características que nos tornam herdeiros de identidades coletivas, por exemplo, ser brasileiro, ser de um determinado estado ou cidade, a prática de uma religião (quando os pais a incutem em seus filhos como parte dos valores familiares). Outras identidades são escolhidas por ressonância pessoal, relacionadas a vontade de fazer parte de grupos identificados, por exemplo, pela música, esportes ou afiliações ideológicas como puks, feminismo ou veganismo.
Portanto, as identidades coletivas são a forma que participamos da sociedade como parte de determinados grupos cujas ações ou características são definidas por certas práticas. A identidade coletiva é nossa forma de pertencer ao mundo social, sendo que essas identidades são infinitas e muitas vezes coexistem em nosso ser, embora possam ser contraditórias. Por exemplo, uma universitária pode fazer parte de uma comunidade indígena que se define pelo respeito à tradição da população indígena em que nasceu, pode ser constituída por valores de um mundo rural que privilegia o amor à terra e trabalho braçal, mas, desde sua existência como universitária, também poderia fazer parte de um coletivo feminista que reivindica a igualdade de direitos trabalhistas entre homens e mulheres, bem como a inserção das mulheres nos espaços públicos.
As identidades coletivas nos abrigam e muitas vezes nos permitem avançar pelo mundo resguardados de ataques e inseguranças cujo alvo são seres humanos isolados que não fazem parte de um grupo que apoie suas ações, porém, essas identidades coletivas também podem resultar em fardos difíceis de carregar quando um de seus membros não se identifica totalmente com as práticas e valores culturais que compartilham, tornando a ligação com essa identidade coletiva uma sentença em situações muito particulares como, por exemplo, ser um migrante latino-americano tentando fazer parte da cultura norte-americana, experimentando a discriminação e o preconceito apenas pelo fato de ser um cidadão de nações consideradas de “terceiro mundo”. As identidades coletivas são inerentes à existência humana, são mutáveis e moldáveis, mas também são fardos culturais que atravessam os corpos e podem resultar em limitações para a construção de perspectivas e trajetórias pessoais que se apresentam como novas.
As identidades mais importantes, a nível social, são aquelas que estão ligadas à construção da nação, por exemplo, ser brasileiro, mexicano, colombiano, argentino, espanhol, etc. Dizemos que são as mais importantes porque a construção dessas identidades requer um aparato burocrático e estatal chave que implica processos educativos, propagandísticos e culturais onde a história, por exemplo, desempenha um papel fundamental ao fornecer elementos do passado que unem milhões de pessoas ao redor de uma identidade nacional coletiva. Por isso, elementos como o hino, a bandeira, uma história nacional repleta de heróis e vilões cumprem um papel que homogeneíza a multiplicidade de identidades vividas individualmente e que se expandem à medida que fazem parte de tantos outros grupos. Neste caso, as identidades coletivas são todos nós existindo em comunidade.
Imagem: Fotolia. filipefrazao
Artigo de: Karina Mora Mendoza. Graduado em História pela UMSNH, Professora e Doutora pelo Colégio de Michoacán. Realiza pesquisas históricas sobre o século XIX em relação ao discurso e uso dele em temas como a história das mulheres e a construção da Nação.
Referencia autoral (APA): Mora Mendoza, K.. (Maio 2023). Conceito de Identidade Coletiva. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/identidade-coletiva/. São Paulo, Brasil.