De modo geral, entendemos por essência o que algo representa em si mesmo, isto é, aquilo que responde o porquê de uma coisa ser como ela é. Nesse sentido, a essência se distingue da existência, na medida em que está se refere ao mero fato de algo ser, mas não o que é em si.
A conceituação da essência constitui um dos temas centrais da metafísica (e da filosofia como um todo) desde a Antiguidade. A problemática da essência deu origem a outros grandes problemas filosóficos, como, por exemplo, a separação entre a substância, com suas notas distintivas e invariáveis, e seus atributos ou acidentes, que podem apresentar variações. Outro grande problema relacionado com a problemática da essência, ligado à distinção com respeito à existência, é o da separação entre o caráter físico e o caráter essencial dos objetos (em sentido amplo), ou seja, se a essência existe além do material.
Teorias da essência na antiguidade grega
O filósofo grego Platão (427 a.C. – 347 a.C.) foi o primeiro a articular uma doutrina da essência como verdade da própria realidade, que podemos acessar através do intelecto, como resultado de um processo dialético. Em muitas de suas obras, Platão apresenta os diálogos entre Sócrates e diferentes interlocutores, nos quais se lança o que se conhece como a “questão socrática” ou “método socrático”. O personagem de Sócrates, que dirige o processo dialético por meio de perguntas e respostas, questiona seu interlocutor sobre o que é o conceito em questão.
Normalmente, Sócrates insiste na questão da essência do que é discutido, que não pode ser respondida a partir de exemplos. Assim, por exemplo, quando se pergunta por que a beleza é a beleza, não basta mencionar uma variedade de objetos belos, mas é preciso indagar sobre a “beleza em si”, ou seja, sua essência única ou ousía*(*substantivo grego para essência). Para Platão, a essência, na qual consiste a natureza de uma coisa, equivale à noção de Ideia (eidos) como realidade substancial suprassensível. Então, podemos conhecer a essência das coisas, isto é, apreender as Ideias, através da atividade contemplativa e racional do entendimento.
Por sua vez, seu discípulo Aristóteles (384 aC – 322 aC), sustenta que a essência é a primeira substância, aquilo que se afirma na definição de uma coisa, expressando sua unidade atemporal, ou seja, seu próprio ser, invariável no tempo. Ao contrário da concepção platônica, a essência é um princípio inerente ao indivíduo, como um composto de matéria e forma onde cada coisa singular é identificada com sua essência, que a faz ser como é.
As essências não são algo separável do composto, pois não possuem uma entidade que exista independentemente das realidades particulares e concretas que determinam. A separação que Platão estabeleceu entre o mundo das ideias e o mundo sensível, para Aristóteles, resulta em um problema, pois, se as essências e os entes fossem separados, não haveria conhecimento possível. A expressão em linguagem da forma das entidades é o que torna possível o seu conhecimento.
A recuperação fenomenológica das essências
Já na modernidade, o filósofo alemão G. W. F. Hegel (1770 – 1831) explica a realidade como a união entre essência e aparência. Sob a doutrina da essência, o que realmente é se distingue da maneira como o fenômeno aparece, ou seja, essência e aparência estão dialeticamente relacionadas.
Por outro lado, no início do século XX, Edmund Husserl, considerado o fundador da corrente fenomenológica, postula uma concepção de essência em termos de necessidade: a essência de uma coisa é o conjunto de predicados necessários para sua definição.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (nov., 2022). Conceito de Essência. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/essencia/. São Paulo, Brasil.
