Entendemos por troca o intercâmbio recíproco de uma coisa por outra (sejam elas objetos materiais ou não), com base em um valor arbitrário atribuído a cada uma delas, cujo ato pode ocorrer entre pessoas, organizações ou entidades (como nações).
Na medida em que as sociedades humanas devem satisfazer necessidades ilimitadas, mas dispõem de recursos produtivos escassos, isto é, limitados para o fazer, deparam-se com uma série de problemas económicos fundamentais, tais como, o que se produz, como e para quem. Para responder estas questões, as sociedades organizam suas economias de acordo com duas variáveis, por um lado, a especialização e, por outro, a troca. A especialização consiste em direcionar a produção para um determinado ramo, de modo que, para obter bens diversificados em uma economia especializada, é necessário trocar os bens produzidos por outros. Por exemplo, se uma região tem maior acesso a madeira, mas não tem algodão, ela pode trocar seus recursos com outra região que tem algodão em abundância e pouca madeira. Dado que os sujeitos dificilmente podem satisfazer suas necessidades individualmente —pois nem sempre têm todos os recursos à sua disposição nem os meios para transformá-los—, eles tendem a buscar formas de trocar com os outros o que têm em abundância por aquilo que é escasso. O mesmo ocorre no nível macroeconômico, nas trocas em maior escala.
A forma mais básica de troca é o escambo, que consiste no intercâmbio entre indivíduos de um bem ou serviço por outro, segundo uma equivalência estabelecida por conveniência entre os atores da troca. À medida que a transação envolve mais participantes, o escambo torna-se mais complexo, apresentando diferentes limitações: por exemplo, a necessidade de encontrar outro indivíduo entre muitos com coincidência de necessidades ou a indivisibilidade de determinados bens entre os atores.
Quando o dinheiro é criado, um valor de troca arbitrário é atribuído aos objetos, de modo que as limitações do escambo desaparecem, facilitando assim as transações entre muitos atores do mercado. No entanto, a introdução de um intercambio monetário – que deu origem ao desenvolvimento do sistema capitalista – trouxe novos problemas, derivados da substituição do valor de uso dos objetos pelo seu valor de troca, o que, por sua vez, leva a uma alienação dos trabalhadores, que são separados do produto de seu trabalho. Nesse sentido, o intercambio mercantil considera apenas os preços, omitindo as relações sociais entre as pessoas que participam da produção.
Ao mesmo tempo, a divisão do trabalho baseada na especialização e a troca em escala local e internacional tem gerado grandes desigualdades entre os atores sociais e entre os Estados, assim, por exemplo, os países produtores de matérias-primas são relegados economicamente em relação às grandes potências mundiais, cujo principal capital é industrial e financeiro.
No campo da Antropologia, o conceito de troca é levado para além de uma restrição à esfera econômica, considerando a troca social como um de seus objetos fundamentais de análise. Nessa linha, um dos exemplos paradigmáticos tem sido o estudo do renomado antropólogo Marcel Mauss (1872 – 1950), em sua obra ‘Ensaio sobre a Dádiva (1925)’, onde ele discorre sobre as formas de troca no que ele chama de “sociedades primitivas”, sob a figura da dádiva. Coincidentemente, sua lógica também pode ser observada nas sociedades atuais.
Mauss apontou duas dimensões na dádiva, como presente generosamente oferecido: um figurativo (aparência) e outro necessário. Assim, o que o autor destaca é que, em geral, na troca não apenas um objeto é dado e outro é recebido, mas uma simbologia que acompanha os objetos é trocada, dotada de um significado singular. O caráter da troca, tomando o exemplo de Mauss, é essencialmente simbólico.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Troca. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/troca/. São Paulo, Brasil.