Conceito de Troca

Lilén Gomez | Março 2023
Professora de Filosofia

Entendemos por troca o intercâmbio recíproco de uma coisa por outra (sejam elas objetos materiais ou não), com base em um valor arbitrário atribuído a cada uma delas, cujo ato pode ocorrer entre pessoas, organizações ou entidades (como nações).

A troca sob a perspectiva Econômica

Na medida em que as sociedades humanas devem satisfazer necessidades ilimitadas, mas dispõem de recursos produtivos escassos, isto é, limitados para o fazer, deparam-se com uma série de problemas económicos fundamentais, tais como, o que se produz, como e para quem. Para responder estas questões, as sociedades organizam suas economias de acordo com duas variáveis, por um lado, a especialização e, por outro, a troca. A especialização consiste em direcionar a produção para um determinado ramo, de modo que, para obter bens diversificados em uma economia especializada, é necessário trocar os bens produzidos por outros. Por exemplo, se uma região tem maior acesso a madeira, mas não tem algodão, ela pode trocar seus recursos com outra região que tem algodão em abundância e pouca madeira. Dado que os sujeitos dificilmente podem satisfazer suas necessidades individualmente —pois nem sempre têm todos os recursos à sua disposição nem os meios para transformá-los—, eles tendem a buscar formas de trocar com os outros o que têm em abundância por aquilo que é escasso. O mesmo ocorre no nível macroeconômico, nas trocas em maior escala.

A forma mais básica de troca é o escambo, que consiste no intercâmbio entre indivíduos de um bem ou serviço por outro, segundo uma equivalência estabelecida por conveniência entre os atores da troca. À medida que a transação envolve mais participantes, o escambo torna-se mais complexo, apresentando diferentes limitações: por exemplo, a necessidade de encontrar outro indivíduo entre muitos com coincidência de necessidades ou a indivisibilidade de determinados bens entre os atores.

Quando o dinheiro é criado, um valor de troca arbitrário é atribuído aos objetos, de modo que as limitações do escambo desaparecem, facilitando assim as transações entre muitos atores do mercado. No entanto, a introdução de um intercambio monetário – que deu origem ao desenvolvimento do sistema capitalista – trouxe novos problemas, derivados da substituição do valor de uso dos objetos pelo seu valor de troca, o que, por sua vez, leva a uma alienação dos trabalhadores, que são separados do produto de seu trabalho. Nesse sentido, o intercambio mercantil considera apenas os preços, omitindo as relações sociais entre as pessoas que participam da produção.

Ao mesmo tempo, a divisão do trabalho baseada na especialização e a troca em escala local e internacional tem gerado grandes desigualdades entre os atores sociais e entre os Estados, assim, por exemplo, os países produtores de matérias-primas são relegados economicamente em relação às grandes potências mundiais, cujo principal capital é industrial e financeiro.

A troca sob a visão da Antropologia

No campo da Antropologia, o conceito de troca é levado para além de uma restrição à esfera econômica, considerando a troca social como um de seus objetos fundamentais de análise. Nessa linha, um dos exemplos paradigmáticos tem sido o estudo do renomado antropólogo Marcel Mauss (1872 – 1950), em sua obra ‘Ensaio sobre a Dádiva (1925)’, onde ele discorre sobre as formas de troca no que ele chama de “sociedades primitivas”, sob a figura da dádiva. Coincidentemente, sua lógica também pode ser observada nas sociedades atuais.

Mauss apontou duas dimensões na dádiva, como presente generosamente oferecido: um figurativo (aparência) e outro necessário. Assim, o que o autor destaca é que, em geral, na troca não apenas um objeto é dado e outro é recebido, mas uma simbologia que acompanha os objetos é trocada, dotada de um significado singular. O caráter da troca, tomando o exemplo de Mauss, é essencialmente simbólico.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Troca. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/troca/. São Paulo, Brasil.

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