Conceito de Status Quo

Lilén Gomez | Março 2023
Professora de Filosofia

O status quo é a ordem social, política e econômica de um grupo humano, tanto a nível global quanto localmente. A expressão é empregada, de forma popular, em diversas situações, inclusive como referência pessoal de uma mudança. Entretanto, sua essência reside na associação, no plano econômico, com a consolidação do modo de produção capitalista e, no plano político, com a instauração de democracias representativas de caráter liberal.

Etimologia da expressão Status quo

A expressão statu quo é uma frase latina que se refere a uma ‘situação estabelecida’, uma ‘ordem/estado atual’ em resposta a determinado funcionamento social, particularmente político, religioso ou econômico. Statu vem do latim, que significa “estado”, “condição”, “posição”, que, por sua vez, se refere a ‘o quê?’, ‘de onde?’, ‘por quem?’, com raiz no pronome de propriedade interrogativa quo, de “quem?”.

No Brasil, é frequentemente escrita na forma plural “status quo“, o que, embora seja diferente do formato expresso nos dicionários portugueses e brasileiros, e fortemente rejeitada pela RAE (instituição que regula o uso na língua espanhola), é o modelo de preferência do Oxford English Dictionary e outras grandes referencias internacionais, gerando constante debate e confusão sobre qual seria a forma supostamente correta. Uma vez que ambas são baseadas na expressão original “in statu quo” se poderia pensar em uma recomendação de uso de acordo com o padrão estabelecido para o idioma. Vale destacar que, de acordo com as regras ortográficas em vigor, o status quo deve ser escrito em itálico ou, na sua falta, entre aspas. Como locução, o latim é uma língua que continua a viver no cotidiano. Não devemos esquecer que às vezes fazemos as coisas “ipso facto“, enviamos nosso “curriculum vitae” ou ficamos “in albis”.

Principais usos da expressão status quo

Na esfera socioeconômica: Em linhas gerais, o sistema de produção capitalista é baseado, por um lado, na propriedade privada e, por outro, na troca mercantil. A principal característica do capitalismo é a forma como ocorre a acumulação de capital nas economias de mercado. Entendemos por mercado a instituição dedicada à compra e venda de bens, serviços e fatores produtivos (ou seja, os recursos utilizados para a produção desses bens e serviços). Então, nas economias de mercado, as pessoas devem vender seu trabalho em troca de um salário, que depois trocam novamente por bens de consumo.

A classe proprietária dos meios de produção capta uma parcela do trabalho dos trabalhadores que não é remunerada (o que, na teoria marxista, se chama mais-valia). Esse excedente não pago permite que as classes proprietárias acumulem capital, produzido em detrimento das condições materiais das classes trabalhadoras. Nesse sentido, sob o regime capitalista, a renda, por definição, não é distribuída equitativamente, o que produz grandes desigualdades entre os diversos setores da sociedade. Na medida em que tais desigualdades fogem do controle, ocorrem falhas de mercado, pois não há consumidores suficientes para garantir uma demanda compatível com a produção, de forma que a capacidade de troca é interrompida.

Por outro lado, a democracia representativa —isto é, aquela em que o povo elege seus representantes para que decidam sobre questões que dizem respeito à vida do todo— consolida-se na Modernidade como um regime político que garante o desenvolvimento das economias de mercado. Este regime centra-se na proteção dos direitos individuais, tais como o direito à propriedade e à liberdade individual. Dessa forma, o modelo de democracia representativa dá lugar ao livre jogo do mercado, apoiando nas engrenagens do Estado as condições para garantir o livre comércio.

O aprofundamento das desigualdades, intransponíveis no status quo instaurado na Modernidade e vigente nas suas lógicas subjacentes até aos dias de hoje, tem como consequência um aumento permanente do conflito social. Em decorrência disso, diversos setores, geralmente pertencentes às classes populares e trabalhadoras, empreendem esforços para traçar estratégias rumo a novas formas de organizar a vida e, assim, transformar esse status quo. Tais estratégias são propostas como alternativas para a construção do poder popular no nível local. Em linhas gerais, o objetivo dessas estratégias é desafiar o poder corporativo sobre as formas de produção dos bens necessários à reprodução da vida, priorizando o bem-estar comum e a equidade frente as atividades lucrativas.

Projetos dessas características são considerados de forma integral, ou seja, não só introduzem mudanças no âmbito econômico —transformando as formas como são produzidos—, mas também no âmbito político e cultural, ao promover a participação e o envolvimento da comunidade nos assuntos que dizem respeito ao seu projeto de vida.

Status quo na esfera política: A expressão Status quo é muito usada na esfera da política, mais especificamente, no campo das relações diplomáticas entre as nações. A ideia fundamental desta locução é expressar que uma realidade política permanece estável. Assim, se um diplomata diz o seguinte: “as duas nações devem manter o atual status quo”, ele está afirmando que não quer mudar a situação e que é preferível que as relações entre as duas nações continuem exatamente da mesma maneira.

Em geral, quem defende o status quo de uma situação considera que é a melhor opção. Consequentemente, isso significa que há outros que pretendem mudar as circunstâncias e, portanto, anseiam por outro estado de coisas, outro status quo.

O status quo implica que há um equilíbrio de poder e há um grupo que pretende mantê-lo a todo custo, enquanto outros grupos consideram que é necessária uma mudança, uma nova ordem. Entende-se que, de forma diplomática, o conceito comunica um perigo – que a estabilidade política pode ser quebrada a qualquer momento-. Como tendência geral, os defensores do status quo são os que detêm o poder e consideram que a situação não deve mudar e qualquer proposta em contrário é considerada uma ameaça ou um perigo que pode quebrar a harmonia. Em vez disso, os grupos da oposição costumam questioná-lo. Nesse sentido, há uma mensagem implícita entre os defensores da preservação do status quo, que chegam a dizer que é melhor não mexer nas coisas, que tudo continue igual e que as mudanças são perigosas. Essa mensagem oculta, mas óbvia, tem sua lógica, pois na diplomacia internacional, onde como dissemos acima o termo é comumente usado, a diplomacia tem alguns interesses bem claros e outros ocultos.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Status Quo. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/status-quo/. São Paulo, Brasil.

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