Conceito de Trabalho

Karina Mora Mendoza | Setembro 2023
Doutora em História

Trabalho é uma ação desempenhada cujo resultado final e trocado por algo de valor, geralmente dinheiro. Representa o esforço realizado pelo ser humano com a finalidade de produzir a própria riqueza. Do ponto de vista teórico, este tema tem sido abordado sob diversos ângulos, sejam eles económicos, sociais ou históricos, principalmente pela sua abrangência relevante em termos do desenvolvimento da humanidade. Karl Marx alerta no primeiro volume de O Capital que o trabalho é um processo que ocorre entre a natureza e o homem, onde o homem gerencia e controla sua própria ação para conseguir uma troca com a natureza. Assim, o homem utiliza as ferramentas naturais que possui (o corpo) para buscar e extrair materiais da natureza e assim conseguir um uso benéfico para sua existência.

A origem do trabalho

O trabalho pode ser entendido como a possibilidade de transformar uma coisa em outra, a capacidade de materializar algo que antes pertencia apenas ao mundo da “ideias”. Nesta dimensão falamos de trabalho como uma vertente do processo civilizacional onde essa atividade já pertence exclusivamente ao ser humano. Esta possibilidade de transformação, de um objeto A em um B, como resultado de um filtro mental prévio para conceber um resultado possível, é, em essência, a explicação mais básica do trabalho.

Nesse sentido, por exemplo, a natureza fornece frutos, mas é o ser humano quem os transforma em possíveis conservas ou compotas. Os fatores que intervêm no processo são a sua própria finalidade. Assim como os recursos naturais para alcançá-lo (o objeto) e as ferramentas que você precisa para executar o processo, seja a sua própria corporeidade ou os utensílios que você fez anteriormente (a criação de ferramentas).

É importante compreender que, se os objetos são fornecidos diretamente pela natureza sem intervenção sobre eles, por exemplo os peixes de um lago ou os frutos de uma árvore, eles são simplesmente objetos da natureza, porém, se houver intervenção humana sobre eles que lhes proporcionou um tratamento, falamos então de matéria-prima.

Para Marx, o interessante foi entender como em diferentes momentos da história os seres humanos tiveram que usar os objetos da natureza, ali depositados em seu próprio benefício, sem mais delongas, como insumos que lhes permitem sobreviver, e então sim, ter a força e a capacidade física para prosseguir com outros objetos que necessitavam ser transformados naquilo que antes estava exposto como matéria-prima.

Na verdade, ele baseia grande parte da sua reflexão na argumentação de que não se consegue a classificação das etapas económicas observando o que se faz em cada uma, mas sim analisando como se faz, pois é o processo de trabalho que tem caracterizado o desenvolvimento das sociedades ao longo do tempo e, portanto, a capacidade e o sucesso que têm demonstrado em estender o poder da sua corporeidade como ferramentas de transformação a outros artefatos que permitem a continuidade de processos mais complexos levados a cabo pelo homem que, eventualmente, conduzirão a um produto e posteriormente também a um serviço.

O produto ou serviço é o resultado do processo de trabalho sobre um objeto, portanto, é também um valor que não é tangível (materialmente), mas que se torna a própria base da razão de tal produto ou serviço, uma vez que tem o objetivo de servir como um bem maior para a sociedade já é intrínseco. Procura transcender a própria subsistência física, ou seja, graças ao trabalho assim entendido, o ser humano consegue atravessar a barreira da sobrevivência para um modo específico de subsistência.

Este modo de subsistência se tornará a cada etapa da história uma forma diferente de construção e organização da sociedade, com características e funções específicas, mas em todos os momentos a sequência chave permanece no fato de que sempre haverá um trabalho realizado que fornecerá um produto ou serviço com diferentes graus de complexidade. O importante nesta análise é conseguir uma compreensão detalhada de que o trabalho não é o produto, ou vice-versa, mas que é complementar a um processo de construção mental e físico, da possibilidade de projeção humana sobre um resultado previsível entendido como fim (produto ou serviço).

Com isso entendido, o trabalho pode ser compreendido em tantos aspectos quantas forem as complexidades humanas: trabalho braçal, trabalho manual, trabalho intelectual, etc. As sociedades modernas também podem focar a classificação do trabalho de acordo com a demografia da população que o realiza: trabalho infantil, trabalho feminino, Trabalho urbano ou rural, para citar alguns exemplos.

Transformações históricas na dinâmica do trabalho

No início da história, e durante milhares de anos, o trabalho era realizado principalmente por mão de obra escrava, em posse de um proprietário que tinha o direito de usufruir ou faturar dos bens produzidos. Assim, o escravo era tratado como mais uma mercadoria, com possibilidade de ser vendido ou comprado. Esta situação é verificável a partir da civilização grega, do Império Romano e do comércio de indivíduos realizado durante a conquista da América. Este estado particular de trabalho terminou no século XIX (pelo menos de forma legal).

Anteriormente, durante a Idade Média, desenvolveu-se o regime feudal, onde a escravidão era excluída. Nesse caso, o trabalho era denominado servidão, sendo os servos homens livres, pois embora tivessem limites para suas ações, suas pessoas não eram propriedade de outrem. Basicamente, neste período e durante esta forma de organização social, o trabalhador (servo) fazia um contrato com um senhor feudal no qual aceitava trabalhar em troca de proteção. É o precedente mais parecido com a modalidade do que hoje chamamos de trabalho.

Diferença entre trabalho manual e intelectual

Um aspecto importante em relação ao trabalho é a definição entre “manual” e “intelectual”. O que isto significa? Trabalho manual é aquele que se desenvolveu desde os primórdios do ser humano como pessoa capaz de realizar “trabalho braçal”, e isso inclui desde os escravos até os homens que trabalharam com as primeiras máquinas a vapor, nos tempos da Revolução Industrial inglesa. Porém, esse tipo de trabalho não é coisa do passado, pois ainda é válido hoje. Pensemos, por exemplo, nos trabalhadores metalúrgicos ou mecânicos.

Contudo, durante o pós-guerra, uma nova forma de trabalho começou a desenvolver-se: o trabalho “intelectual”, com o aparecimento dos trabalhadores de “colarinho branco”, como eram chamados aqueles que ocupavam este tipo de emprego. E isso graças à noção de “mais-valia” também incorporada nesta época, que é a mesma que conhecemos como “valor agregado”: é o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que melhora e otimiza os bens manufaturados. Além dos bens, também nesta altura começa a ganhar moeda a ideia de “serviços”, que são todos os bens “intangíveis” (que não podemos tocar) que podemos adquirir: pacotes turísticos, seguros de vida ou contratação de um especialista para consertar o computador.

Desafios e bases de mercado nos tempos atuais

Atualmente, o trabalho é realizado em troca de salário. Assim, o trabalhador vende sua força de trabalho no mercado e recebe uma remuneração por isso. O empregador, por sua vez, contrata pessoal com o objetivo de obter lucro. Os interesses dos trabalhadores são protegidos pelos sindicatos, que negociam coletivamente os salários de acordo com cada setor específico. Além desta proteção, os trabalhadores estão protegidos por todas as leis trabalhistas. Nesse sentido, são notáveis as mudanças produzidas durante o The Walfare State, que ficou conhecido como Estado de Bem-Estar. Durante as décadas de 30 e 70, o Estado interveio fortemente, equilibrando as diferenças de interesses entre os capitalistas (o mercado) e os trabalhadores (mão de obra assalariada). Neste período, os trabalhadores alcançaram grandes conquistas para melhorar suas condições de trabalho, como férias remuneradas, horário fixo, folgas para desfrutar da família e do lazer.

As políticas neoliberais estabelecidas entre as décadas de 80 e 90 minimizam algumas destas conquistas de benefícios laborais, como a flexibilidade laboral: através desta política, o Estado beneficia os capitalistas, podendo separar um trabalhador da sua empresa, pagando uma remuneração inferior à aquelas anteriormente concedidos quando se termina o contrato de trabalho.

A falta de trabalho ou o desemprego é um dos males sociais e económicos que os Estados devem combater. Do ponto de vista económico, significa uma forma de desconsiderar recursos valiosos, e do ponto de vista social, conduz a situações de pobreza e miséria.

O trabalho é consagrado pelas Nações Unidas como um Direito Humano, pelo qual cada pessoa (ou seja, cada habitante deste planeta) tem a liberdade de escolher um emprego, de desfrutar de boas condições de trabalho e, claro, esta abolido todo tipo de escravidão ou servidão.

Artigo de: Karina Mora Mendoza. Graduado em História pela UMSNH, Professora e Doutora pelo Colégio de Michoacán. Realiza pesquisas históricas sobre o século XIX em relação ao discurso e uso dele em temas como a história das mulheres e a construção da Nação.

Referencia autoral (APA): Mora Mendoza, K.. (Setembro 2023). Conceito de Trabalho. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/trabalho/. São Paulo, Brasil.

  • Compartilhar
Copyright © 2010 - 2023. Editora Conceitos, pela Onmidia Comunicação LTDA, São Paulo, Brasil - Informação de Privacidade - Sobre