Normalmente, os membros de uma espécie formam grupos. Mesmo quando os indivíduos são solitários, eles estão dispersos em uma determinada área e mantêm vínculos entre si (por exemplo, para se reproduzirem). Esses grupos de organismos formam uma população. Desta forma, o conceito mais simples e intuitivo de população é pensá-la como um grupo de indivíduos da mesma espécie que coexistem num espaço e tempo específicos. Porém, veremos que o conceito pode se tornar muito mais complexo a partir desta definição. Existem duas abordagens principais no estudo de populações: a abordagem ecológica da ecologia e a abordagem genética da genética populacional. Imagem de Scusi, pela Fotolia.
Do ponto de vista ecológico, a população é uma unidade funcional dentro do ecossistema. Todos os membros dessa população se comportarão de forma mais ou menos semelhante e terão papéis equivalentes dentro do ecossistema. São analisadas as interações entre os indivíduos da população com seu ambiente e analisado como a população influencia e é influenciada por seu ambiente.
Além disso, cada população terá características únicas e poderá ser diferente das demais populações da mesma espécie. Essas características são dadas pelo ambiente e sua relação com outras populações.
Cada espécie forma uma população, mas população e espécie não são sinônimos. Uma espécie é, em termos simples, cada tipo diferente de ser vivo. Já uma população é o grupo de seres vivos da mesma espécie que coexistem. Por exemplo, os ratos são uma espécie (Rattus rattus), existem ratos em todo o mundo, mas em cada local existe uma população diferente de ratos, que podem ter características próprias.
Do ponto de vista genético, uma população é um grupo de organismos da mesma espécie que partilham o mesmo conjunto genético numa determinada área. O pool genético refere-se ao total de alelos de diferentes genes que estão disponíveis na população. Por exemplo, vamos supor um gene com 6 alelos: a, b, c, d, e, f. Em cada organismo só pode haver dois, mas em todos os organismos da população pode haver mais. Uma população desta espécie pode ter os alelos a, b, c, e outra população pode ter os alelos e e f.
Nas populações humanas sabe-se que em diferentes áreas alguns alelos são mais frequentes e outros menos frequentes. Nas populações do norte da Europa, os alelos de olhos claros são mais comuns do que na América do Sul.
O pool genético de uma população é mantido pelo fluxo genético, ou fluxo gênico, que nada mais é do que a possibilidade de livre troca de genes: que cada membro da população possa, pelo menos em teoria, reproduzir-se com qualquer outro e não haja barreiras a essa reprodução.
Se houver barreiras, o fluxo gênico é interrompido e começa um processo chamado deriva genética, que lentamente faz com que os pools genéticos da população se diferenciem.
Nessa perspectiva, uma população é abordada como reservatório de variabilidade genética. As frequências de alelos e genótipos são exploradas, examinando como a genética populacional muda ao longo do tempo.
As populações são caracterizadas pela dinâmica populacional: o número de indivíduos que compõem a população pode flutuar por diversos motivos. Cada população tem uma taxa de natalidade (indivíduos nascidos a cada 1.000), uma taxa de mortalidade (indivíduos que morrem a cada 1.000) e uma taxa de crescimento. Essas taxas são os parâmetros populacionais, são características de cada população e é comum que variem entre diferentes populações da mesma espécie.
A dinâmica populacional é um campo de estudo muito extenso e complexo.
São populações “fragmentadas” ou grupos de populações dispersas numa área. Embora estejam geograficamente separadas, estas populações desenvolvem um fluxo genético constante e o seu pool genético é mantido. Como não são atendidos os requisitos para tratar cada uma como uma população, considera-se que a metapopulação é o conjunto de todas as subpopulações que estão interagindo.
Vamos supor uma população hipotética de aves migratórias. Alguns indivíduos ficam e outros migram. Quando os migrantes partem, aqueles que ficam formam uma subpopulação residente, enquanto aqueles que partem formam uma subpopulação migratória.
Quando os migrantes retornam, as duas subpopulações voltam a ter fluxo gênico, porque as aves podem se reproduzir livremente entre si. Essas aves têm uma dinâmica metapopulacional.
Nas metapopulações, todas as subpopulações estão conectadas por fluxo gênico, ou seja, por laços reprodutivos. Um migrante de um lugar pode reproduzir-se perfeitamente com um membro de outra subpopulação.
As metapopulações influenciam a resistência de uma espécie à extinção, uma vez que uma metapopulação pode ser extinta, mas as outras não.
Se alguma subpopulação local for extinta, indivíduos de outras subpopulações poderão repovoar o habitat vago. Isto reduz o risco de a espécie desaparecer completamente. Neste caso, a subpopulação recolonizadora é a população fonte ou população de enfermeiros, e é geralmente a maior subpopulação. As subpopulações periféricas, geralmente menores, são chamadas de populações sumidouros.
De certa forma, uma espécie que possui dinâmica metapopulacional é menos vulnerável à extinção do que uma espécie que possui uma única população pequena. Mas, para garantir que uma espécie tenha dinâmica metapopulacional, é necessário garantir que as subpopulações possam efetivamente conectar-se, permitindo a passagem de indivíduos de uma subpopulação para outra. Esta é a importância de criar corredores protegidos que liguem manchas de habitat para facilitar as migrações entre subpopulações. Estes corredores são uma técnica de conservação que serve, por exemplo, para permitir a ligação entre duas áreas naturais protegidas.
Artigo de: David Alercia. Licenciado em Biologia pela Universidade Nacional de Córdoba, especializado em gestão ambiental, trabalha com turismo científico.
Referencia autoral (APA): Alercia, D.. (Fevereiro 2024). Conceito de População. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/populacao/. São Paulo, Brasil.
