Conceito de Inteligências Múltiplas

Marcoantonio Villanueva Bustamante | Janeiro 2024
Doutorado em Psicologia

A teoria das inteligências múltiplas desenvolvida por Howard Gardner postula que o intelecto humano é composto por um conjunto de habilidades necessárias para resolver problemas pertencentes a diferentes domínios, estes envolvem elementos do pensamento abstrato para sua execução.

Como somos bebês e começamos a realizar comportamentos de forma independente, os adultos ao nosso redor começarão a avaliar nosso desempenho nesses comportamentos. Por exemplo, se começarmos a “falar”, ou melhor, a balbuciar as nossas primeiras palavras e as atribuirmos corretamente aos objetos a que nos referimos, todos indicarão que somos “muito inteligentes” ou “que somos muito inteligentes”. À medida que crescemos, esta avaliação do quão inteligentes somos se consolida ao ingressarmos no sistema educacional, por meio da aplicação de provas e posterior atribuição de notas. Dessa forma, os alunos com notas mais altas tendem a ser descritos como os mais inteligentes da sala. Embora a avaliação do desempenho dos alunos não seja ruim, o problema são as expectativas que o corpo docente desenvolve em relação a esses alunos.

Desta forma, permanece a questão: por que é que as avaliações são assumidas como um indicador de inteligência? A psicologia poderia nos dizer por que tal evento ocorre.

Semelhante ao estudo da personalidade, os psicólogos interessaram-se pelo estudo da inteligência e duas linhas claras de pesquisa foram estabelecidas. Por um lado, um grupo estava interessado em investigar os elementos que compõem a inteligência, enquanto outro grupo se concentrou em determinar a forma como ela poderia ser avaliada. Como o tema central deste texto são as inteligências múltiplas, não nos concentramos nessas duas linhas, basta dizer que David Weschler sintetizou ambas as áreas em sua obra, e consolidou a definição mais utilizada para descrever a inteligência, desta forma, “Inteligência é a capacidade global que os indivíduos possuem para agir intencionalmente, pensar racionalmente e se adaptar ao ambiente em que residem.” Com isso, como base, desenvolveu as escalas de inteligência Weschler (WAIS para adultos e WISC para bebês), que avaliam o QI (que não é o mesmo que inteligência) através de 4 dimensões gerais: Índice de compreensão verbal, Índice de raciocínio perceptual, Índice de trabalho. índice de memória, índice de velocidade de processamento; Dessa forma, a inteligência foi concebida como um elemento único que se reflete em elementos de processamento lógico. Assim, as pessoas, e os psicólogos em geral, presumiam que a inteligência se referia a um fenômeno único que se refletia principalmente no desempenho no campo acadêmico.

Esta visão dominante no campo da inteligência levou à estigmatização das pessoas “menos inteligentes”. Nesse sentido, o psicólogo americano Howard Gardner e sua equipe se perguntaram como era possível que essas pessoas que tinham bom desempenho acadêmico fossem, às vezes, menos habilidosas em outras áreas de suas vidas. Assim, Gardner fez uma crítica ao modelo dominante que pode ser resumida nos seguintes pontos:

• A visão da inteligência tem sido uniforme e reducionista, como uma construção unificada.

• A inteligência tem sido medida através de um instrumento padronizado (pessoalmente considero esta uma das principais limitações das escalas Weschler, prova disso são os estudos realizados numa população não ocidentalizada com estas escalas)

• O estudo da inteligência tem sido realizado sem levar em conta o contexto cultural e social dos indivíduos (um ponto que anda de mãos dadas com o meu comentário anterior)

• Foi assumido que a inteligência é individual e reside dentro da pessoa, ignorando o ambiente, as interações interpessoais, as ferramentas desenvolvidas ou a acumulação de conhecimento.

Inteligências múltiplas classificadas por Gardner

As críticas levaram Gardner a propor uma visão alternativa da inteligência. Porém, é preciso destacar que, assim como Weschler, Gardner manteve a ideia de como a inteligência permite resolver problemas, mas também considerou a capacidade de desenvolver produtos que sejam valiosos em algum elemento cultural.

Assim, Gardner afirma que por o indivíduo enfrentar muitos problemas ao longo de sua vida, ele também necessita de múltiplas habilidades, ou melhor, múltiplas inteligências para poder resolvê-los. Neste quadro, a teoria das inteligências múltiplas postula a existência de oito tipos diferentes de inteligência.

• Inteligência lógico-matemática: Permite resolver problemas lógicos e matemáticos, caracteriza os cientistas e utiliza amplamente o hemisfério lógico do cérebro. É o que normalmente se supõe ser a única inteligência existente.

• Inteligência linguística: utiliza ambos os hemisférios e refere-se à capacidade de comunicar e dominar as línguas existentes. Ocorre em poetas, escritores e até políticos.

• Inteligência espacial: Às vezes chamada de inteligência visuoespacial, permite-nos observar o mundo e os seus elementos a partir de múltiplas perspectivas. Ocorre em maior grau em artistas visuais, como pintores, fotógrafos ou escultores, mas também em arquitetos ou publicitários.

• Inteligência musical: Refere-se a uma arte que é apresentada a todas as pessoas do mundo, porque universalmente todas as culturas do mundo desenvolveram a música. Porém, esses músicos virtuosos têm essa inteligência mais desenvolvida.

• Inteligência corporal – Cinestésica. Refere-se à capacidade de usar o próprio corpo e suas partes para resolver problemas. Caracteriza atletas, mas também dançarinos ou mesmo cirurgiões.

• Inteligência naturalista. É utilizado para observar e estudar a natureza de forma integrada. Ocorre em biólogos.

• Inteligência emocional: É constituída por “subinteligências” que nos permitem conduzir a nossa existência.

o Inteligência intrapessoal: É a capacidade de nos compreendermos. Não está associado a nenhuma atividade específica, pois todos deveríamos tê-lo.

o Inteligência Interpessoal: É a capacidade de compreender os outros e relacionar-se com eles de forma eficaz.

Finalmente, Gardner sustenta que a inteligência é uma habilidade que pode ser desenvolvida; e embora até certo ponto a genética tenha influência sobre isso, é possível explorar os seus elementos e desenvolver outros.

Imagem: Fotolia. lplusd

Artigo de: Marcoantonio Villanueva Bustamante. Licenciado em Psicologia, formado pela Faculdade de Psicologia da UNAM, México. Doutor em Psicologia pela UFRO, Chile. Investigador independente que faz parte de várias equipes de pesquisa no México e no Chile.

Referencia autoral (APA): Villanueva Bustamante, M.. (Janeiro 2024). Conceito de Inteligências Múltiplas. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/inteligencia-multipla/. São Paulo, Brasil.

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