1. Pessoas que compartilharam ou compartilham convivência numa residência e/ou possuem um grau de parentesco, na base de dois adultos que estabeleçam um vínculo capaz de adquirir reconhecimento jurídico, conforme a intenção de desenvolverem uma vida em conjunto, e a possibilidade de sustentar e criar uma prole. Na maioria dos países, a estrutura familiar manifesta uma visão de pluralidade, permitindo o reconhecimento dos direitos e responsabilidades de uma mãe/pai solteiro, dois pais/mães do mesmo sexo, um novo casal em que um ou ambos os atores podem ter um filho de um relacionamento anterior, etc., sobre a raiz do modelo religioso tradicional de um pai, uma mãe e a descendência de ambos.
2. Instituição social, cujas faculdades são regidas pela religião e/ou pelo Direito.
3. Relacionamento com base em um interesse, crença ou convicção. Exemplos: A) 'Uma congregação religiosa'. B) 'Uma equipe de trabalho'.
4. Referência de ordem e associação de espécies animais e vegetais, sistemas ou objetos com características comuns. Exemplos A) Identificação e agrupamento de classes de aranhas, rosas, família lexical de uma palavra, metais alcalinos, linha específica de smartphone, etc.
Etimologia: Pelo latim família, de famulus, para 'servo' ou mesmo entendido como 'escravo', como uma clara mensagem de posse pelo dono da casa. Uma origem que descreve o pater familias como um dono, um homem à frente, que deve ser servido, expondo uma acentuada desigualdade com incidência mesmo nos tempos atuais.
Normalmente, usamos o termo família para nos referirmos a um grupo de pessoas, ligadas por laços afetivos estreitos, que podem ou não estar mediados por laços de sangue. Atualmente, a família não é pensada apenas em termos de filiação biológica (parentesco consangüíneo), mas o conceito foi ampliado para conter outros tipos de convivência social. Nesse sentido, a família nem sempre foi compreendida da mesma forma ao longo da história.
A estrutura familiar constitui desde muito cedo um dos objetos centrais de estudo da sociologia e da antropologia. O campo de estudos sobre a família foi se transformando ao longo do tempo, na medida em que, com a transição da sociedade moderna para a sociedade contemporânea, ocorreram diversas mudanças na configuração da instituição familiar.
Um dos pioneiros no estudo do parentesco foi o antropólogo norte americano Lewis H. Morgan (1818-1881), que propôs uma classificação da família segundo critérios evolutivos. Mais tarde, a questão da família foi retomada no contexto da antropologia funcionalista do início do século XX, por autores como Bronislaw Malinowski (1884-1942), em cuja teoria a família se caracterizava por ter a função universal de criação dos filhos. Para isso, os membros das famílias precisavam ser bem definidos, dada a necessidade de distribuir os cuidados dos pequenos entre os adultos. Ao mesmo tempo, a parentalidade implicava o compartilhamento de um espaço para desenvolver as tarefas de cuidado e, por fim, a convivência entre os cuidadores e os filhos gerava o estabelecimento de vínculos afetivos entre eles. A família, nesse sentido, aparece como a unidade social básica, ideia que se manteve ao longo do tempo nas ciências sociais.
Em meados do século XX, Talcott Parsons (1902-1979) fundou a teoria dos sistemas sociais, que apontava a família “nuclear” como uma unidade mínima de parentesco. A família tratava-se de uma instituição que se adapta bem ao sistema econômico moderno e cuja função principal não está voltada para o sistema social, mas para o sistema de personalidade, ou seja, a socialização das crianças e a estabilização dos adultos em um grupo de pertencimento. Nesse sentido, caracteriza-se por dois tipos de relação, por um lado, a relação parental e, por outro, a relação conjugal.
As análises de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) em torno da instituição familiar são paradigmáticas na história da filosofia e da sociologia. A obra “A origem da família, do Estado e da propriedade privada” explica a origem da família monogâmica e sua evolução histórica como resultado da constituição da propriedade privada, entendendo seu desenvolvimento como consequência das necessidades impostas pela acumulação capitalista. Nesse sentido, o advento do comunismo supõe a abolição da família tal como está organizada na sociedade burguesa, ou seja, como instituição reprodutiva das forças de trabalho sob as formas do capital, segundo a qual as mulheres são tratadas como meros instrumentos de produção, enquanto as crianças são preparadas para sua futura inserção no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, a família, organizada de acordo com a reprodução do capital, torna-se mais uma esfera de exploração para as mulheres que, além de suas ocupações extradomésticas, devem se ocupar dos cuidado da casa.
Por sua vez, Émile Durkheim (1858-1917) —considerado o fundador da sociologia da família, como área específica, realizou um estudo comparativo das formas que a família adquiriu ao longo da história, desde as chamadas sociedades “primitivas” às do século XX. A partir disso, o autor chega à conclusão de que a família evolui em relação a dois fatores inter-relacionados: a extensão do grupo familiar que restringe-se correlativamente ao aumento da divisão do trabalho na sociedade. Durkheim aponta, por sua vez, uma transformação nos laços familiares que, inicialmente, derivavam da proteção dos bens domésticos e, posteriormente, os laços afetivos adquirem preeminência, sobre o objetivo de regulação patrimonial.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Família. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/familia/. São Paulo, Brasil.