Conceito de Violência Familiar/Doméstica

Renata González | Fevereiro 2023
Professora de Psicologia

A violência familiar ou doméstica é a mais recorrente e a mais silenciada, pois dentro de casa há menos regulamentação, é mais fácil guardar segredos e há maior probabilidade de naturalizar essas formas doentias de vinculação. Este tipo de violência é exercido por quem tem mais poder -físico, econômico, psicológico-, podendo ser o pai, a mãe, um ou mais filhos, irmãos, avô ou avó, etc., já que a dominação é algo muito particular dentro de cada estrutura familiar.

Existe uma relação consangüínea (exemplo: filhos biológicos) ou jurídica (exemplo: casamento, adoção) entre as pessoas que praticam esse tipo de violência, que as entende como “família” perante a lei e a sociedade. E ao contrário dos deveres e direitos que devem ser salvaguardados em casa, o medo e a intimidação reinam em muitas famílias, o que tem efeitos nefastos na convivência, na auto-estima, na segurança emocional e em tudo o que está relacionado com a saúde mental.

A violência, quando encontra um local adequado para se instalar, tende a aumentar, às vezes de forma sutil e outras vezes de forma mais abrupta.

É importante observar que a violência pode ser exercida por ações, assim como por omissões. No primeiro caso, podemos pensar, por exemplo, em espancamentos, insultos, trancar o outro em um quarto, gritaria, intimidação. Na segunda, igualmente grave, podemos imaginar uma criança que não é limpa ou alimentada, que não tem tempo afetuoso, é ignorada, não é levada ao médico, não é supervisionada quanto à segurança de suas brincadeiras, ou não é aos cuidados de qualquer adulto.

Tipos de violência familiar

1- A violência que faz maior “barulho” na sociedade, e a que mais nos assusta, é a violência física, dirigida ao corpo e produz uma lesão, deixando olhos roxos, queimaduras de cigarro, fraturas, às vezes chegando até a morte. No entanto, golpes que não marcam o corpo, geram dor e medo e também são violência, assim como omissões na proteção e no cuidado (por exemplo, não levar ao pediatra a uma criança que caiu de uma grande altura e está em estado de confusão).

2- Psicológico: é aquele que se expressa com intimidação, rejeição, ameaças, gritos, insultos, chantagens, abandono, exigências excessivas, desqualificação, falta de amor, zombaria, fazendo o outro acreditar que é estúpido ou exagerado, controlando o vítima em sua forma de vestir, falar ou lugares que frequenta, checar o celular, negar que fala com certas pessoas. Tudo isso vai contra o respeito à auto-estima e à singularidade da vítima, prejudicando sua saúde mental.

3- Econômico ou patrimonial: quem tem mais poder sobre a renda econômica ou patrimônio familiar pode usá-lo como “vantagem”, por exemplo, para extorquir o outro ou negar-lhe o uso do dinheiro para formação, pois isso lhe daria mais independência econômica . Outra forma que esse tipo de violência pode assumir é não permitir que o companheiro participe das despesas ou tenha celular próprio ou conta bancária e/ou não pague a pensão alimentícia, caso sejam separados.

4- A violência sexual ocorre também dentro de casa, de um membro do casal para o outro, quando não há consentimento; em relação a um ou mais filhos; pelos avós ou tios e tias; etc. Este é um tema tabu -por isso é menos divulgado- e a vítima se sente desprotegida -como nos casos anteriores-, vivendo com seu próprio agressor.

Em todos os tipos de violência, o papel do Estado é essencial para tornar visível que isso não deve acontecer e é punível por lei, colocando essa informação à disposição das vítimas e seus familiares -bem como da sociedade em geral- a mídia, campanhas de sensibilização e educação estatal -estatais ou privadas-.

Quem exerce a violência

A violência familiar pode ser orientada em todas as direções (para filhos ou netos, entre irmãos, para pais/mães, companheiro e/ou avós), com todos os tipos de intensidade e estratégias diversas, podendo gerar na vítima sofrimento, tristeza, depressão, ansiedade, raiva, impotência, pensamentos suicidas, falta de confiança e baixa auto-estima, medo, vergonha, etc.; tudo que a impeça de uma vida plena e com reconhecimento de seus direitos.

O agressor busca prejudicar o outro, submetê-lo aos seus próprios desejos, sem consideração ou empatia, reduzindo sua vítima à posição de objeto. Para que não denunciem, apelam à culpa, ao medo, à vergonha, à justificação dos seus atos, à naturalização ou à legitimação, fazendo com que a vítima acredite que tem razão, que a sua relação é saudável ou que não pode ser de outra forma.

Quem são essas pessoas violentas? Alguns são egoístas e consideram os outros como meios para seus fins, outros são extremamente impulsivos e/ou têm vícios que não conseguem controlar, outros encontram prazer em ter controle sobre seu ambiente e manipular os outros. Mas seja qual for a causa, não é justificativa e é motivo para nos distanciarmos física, virtual e emocionalmente desses indivíduos, para nos preservarmos.

Crianças abusadas são mais vulneráveis ​​a sofrer abusos na vida adulta, pelos danos que tiveram na infância, ou a se tornarem agressores e reproduzirem o vínculo, do lado inverso. Porém, pode-se sair da violência por meio do autoconhecimento, reflexão e revisão da própria história, o que muitas vezes requer o acompanhamento de um profissional psicólogo.

Artigo de: Renata González. Professora de Psicologia

Referencia autoral (APA): González, R.. (Fevereiro 2023). Conceito de Violência Familiar/Doméstica. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/violencia-familiar/. São Paulo, Brasil.

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