Em geral, uma “ideia” é a maneira pela qual conceitos ou objetos são representados em nossa mente, por meio da atividade do entendimento. É uma noção fundamental e amplamente debatida no campo da Filosofia, desde a Antiguidade até os dias atuais.
A doutrina platônica das ideias é considerada fundamental para a filosofia, tornando-se objeto de estudo e tema de debate clássico. Embora seja considerada a teoria mais representativa de Platão (427 a.C. – 347 a.C.), o filósofo não apresenta uma exposição sistemática dela ao longo de sua obra, mas, mesmo em relação aos diálogos mais distantes, ele levanta dificuldades e objeções, que se refletem, posteriormente, em suas concepções ontológicas.
Seguindo seu mestre Sócrates, Platão sustenta que o verdadeiro conhecimento não se refere ao mundo que podemos perceber -múltiplo, temporário, mutável-, mas às essências das coisas, que se encontram nos conceitos – universais, singulares e invariáveis-. Tomando como ponto de partida a perspectiva socrática, Platão especifica a diferença ontológica entre a natureza dos conceitos —denominado “Ideias” — e, a das coisas materiais. Consequentemente, o mundo se divide em dois: o mundo das ideias, inteligível ou suprassensível, e o mundo do sensível.
Há uma diferença no grau de existência entre os dois mundos: o real se encontra no mundo das ideias, que são as essências de tudo o que existe, enquanto os objetos sensíveis consistem em cópias ontologicamente degradadas desses arquétipos ideais, nos quais o ser é “misturado” com o não-ser. Por exemplo, um triângulo equilátero vermelho é um caso particular (uma cópia) da ideia de um triângulo, mas não é a ideia em si, assim como uma determinada mesa não é uma representação de todas as mesas possíveis. Em outras palavras, as Ideias são os modelos que cada uma das coisas “imita”. Assim, o verdadeiro conhecimento (episteme) é aquele que trata das Ideias, enquanto o conhecimento que alcançamos pelos sentidos é, estritamente falando, mera opinião (doxa).
As ideias no empirismo clássico
David Hume (1711-1776), um dos principais representantes do empirismo clássico, sob a influência de John Locke (1632-1704), propõe uma distinção fundamental entre impressões e ideias, como fenômenos da compreensão humana. A diferença está no grau de intensidade de cada uma delas: enquanto chegamos às impressões diretamente, pelos sentidos, no caso das ideias, tomamos consciência delas por meio da reflexão, pela qual são menos vivazes. Por sua vez, as ideias sempre derivam de impressões anteriores, sejam elas ideias simples ou complexas (compostas por uma associação de ideias simples, de acordo com princípios próprios de compreensão).
Para Hume, ideias como a substância, a identidade do “eu”, ou a causalidade não têm um real correlato na experiência, mas sim, são o resultado de associações que o entendimento faz entre conjuntos de impressões que geralmente ocorrem juntos na experiência. Assim, por exemplo, quando nos encontramos diante de um objeto, atribuímos a ele uma existência substancial independente, porque o observamos permanecendo igual a si mesmo através de uma sucessão de estados particulares.
O idealismo transcendental kantiano
Na metafísica de Immanuel Kant (1724-1804), as Ideias adquirem um papel heurístico, como guias para a expansão do conhecimento por meio da razão. Kant propõe a existência de três Ideias, que dão unidade a todos os nossos conceitos e, ao mesmo tempo, configuram “polos” que os organizam. Estas são a ideia da alma, que representa a unidade absoluta da consciência, a ideia do mundo, que dá unidade aos conceitos do fenomênico externo à consciência, e a ideia de Deus, como unidade absoluta do pensamento em geral, abrangendo o mundo interior e exterior.
As ideias são um produto da razão, que não consistem por si só em conhecimentos, pois transcendem a experiência, mas têm a função reguladora de organizar a tarefa infinita do conhecer, dando-lhe uma “finalidade” específica.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (nov., 2022). Conceito de Idéia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/ideia/. São Paulo, Brasil.