Hábitos são respostas comportamentais a estímulos específicos que ocorrem regularmente, automaticamente e sem um processo reflexivo. Por isso, não representa um esforço físico ou mental para as pessoas.
É comum considerar hábitos como aquelas atividades que não representam necessidades básicas (por exemplo, comer, dormir, etc.), mas que repetimos ao longo do dia. Assim, as pessoas os categorizam como bons hábitos (por exemplo, ler, economizar dinheiro ou fazer exercícios) ou maus hábitos (por exemplo, beber álcool, fumar ou roer unhas). Porém, o que faz com que um comportamento seja considerado um hábito? A psicologia, a partir de seus múltiplos paradigmas, tem feito uma série de propostas que tentam responder a esta questão e, embora existam múltiplas conceituações, o consenso geral propõe que um hábito É um comportamento recorrente que ocorre em um contexto específico e não requer um processo cognitivo para seu desenvolvimento.
Por serem hábitos que as pessoas realizam todos os dias para atingir um objetivo, os hábitos representam uma oportunidade de disciplina psicológica para mudança comportamental. Por exemplo, recentemente no campo da psicologia da saúde investigou-se como a formação de hábitos favoreceria o desenvolvimento de comportamentos positivos para a saúde, como o aumento da adesão ao tratamento em pacientes com doenças crônicas como o diabete.
Um dos elementos-chave para compreender e formar hábitos são as pistas contextuais. Dada a natureza comportamental automática dos hábitos, estes requerem a presença de determinados estímulos associados ao contexto situacional que permitem a sua ativação; esses estímulos podem ser aspectos do ambiente, de outras pessoas ou até mesmo uma sequência específica de ações. Esses estímulos, que doravante serão chamados de pistas contextuais, são internalizados pela pessoa e tornam-se representações mentais que ativam o sistema sensório-motor para dar a resposta adequada a uma determinada situação. Desta forma, uma vez associadas as pistas contextuais a um comportamento, a pessoa responde aos estímulos sem a necessidade de um processo reflexivo no qual decide como deve responder a determinada situação.
Por exemplo, pacientes com diabete podem formar hábitos positivos para a sua saúde; supondo que o objetivo seja fazer um teste de glicemia, as dicas contextuais podem ser um horário específico do dia (estímulo ambiental), seu parceiro lembrando você de fazer isso (outra pessoa) ou fazer o exame antes de tomar o cafe da manha (sequencia de ações).
O pressuposto básico dos hábitos é a aprendizagem instrumental, ou seja, um comportamento aprendido através da repetição e buscando uma recompensa final. Além disso, quando as pessoas realizam a repetição de comportamentos, inicia-se também um processo de associação de pistas contextuais com as ações a serem realizadas; Essa associação permite que a presença desses estímulos ative os comportamentos necessários em eventos futuros.
Consequentemente, a interação entre a ação e a pista contextual consolida a automaticidade do comportamento e gera um novo hábito. É necessário mencionar que, embora a repetição de comportamentos seja realizada de forma intencional, a associação entre resposta e pistas contextuais é um processo “acidental” e do qual as pessoas relatam não ter tido conhecimento. Durante a formação do hábito, os mecanismos cognitivos (por meio de pistas contextuais) e neurais (por meio da liberação de dopamina) associados à memória processual passam a apresentar alterações que favorecem o desenvolvimento de comportamentos automáticos.
Embora as pessoas possam desenvolver hábitos positivos, a realidade é que também podem ter hábitos indesejáveis, por isso é necessário perguntar-nos: podemos mudar um hábito após formado? As evidências que respondem a esta pergunta podem ser desanimadoras.
Em 2006, uma revisão da literatura realizada por Webb e Sheeran determinou que as intervenções desenvolvidas para mudança de hábitos influenciaram a intenção de realizar comportamentos realizados esporadicamente; no entanto, tudo indica que os hábitos mais arraigados não são afetados por estas intervenções. Foi proposto que as dicas contextuais são a causa da ineficiência das intervenções, ou seja, devido à natureza das dicas contextuais, elas ativam o comportamento sem que o indivíduo o queira.
Embora as evidências acima possam deixar o leitor com um sentimento de pessimismo ao pensar que se tivessem um hábito negativo não conseguiriam se livrar dele, dia a dia surgem intervenções que tendem a ser cada vez mais eficazes. Por um lado, foi proposto que devem existir ações inibitórias dos comportamentos para evitar a sua repetição; Mas, por outro lado, também tem sido levantada a necessidade de abordar os aspectos ambientais, uma vez que, como sugerem as evidências, as pistas contextuais são uma das principais barreiras à mudança de hábitos.
Artigo de: Marcoantonio Villanueva Bustamante. Licenciado em Psicologia, formado pela Faculdade de Psicologia da UNAM, México. Doutor em Psicologia pela UFRO, Chile. Investigador independente que faz parte de várias equipes de pesquisa no México e no Chile.
Referencia autoral (APA): Villanueva Bustamante, M.. (Março 2024). Conceito de Hábito. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/habito/. São Paulo, Brasil.
