Conscientizar é a ação de trazer ao conhecimento de uma ou mais pessoas um determinado assunto ou, no caso, de tornar-se consciente, falamos da percepção de algo por nós mesmos. O termo vem do latim conscientia, que designa uma forma de saber, por exemplo, conscientia hominum, ou seja, conhecimento comum a vários indivíduos.
Na obra do filósofo e pedagogo brasileiro Paulo Freire (1921 – 1997), autor da corrente educacional denominada “pedagogia do oprimido” e referente fundamental das pedagogias críticas latino-americanas, o conceito de consciência é considerado um dos núcleos-chave no processo educativo. A premissa do modelo de educação desenvolvido por Freire é que ele não pode ser pensado separadamente das condições de vida e realidades sociais dos alunos. Ao mesmo tempo, a partir de sua formação marxista, Freire entende que tais condições são atravessadas por relações de opressão econômica e política, de modo que a educação tem papel essencial na libertação dos oprimidos.
Para o autor, no processo educativo a dimensão cultural se conjuga com a história e a política e, por sua vez, as responsabilidades dos indivíduos se confundem com as do grupo social, integrando assim a vida de cada um na vida comunitária. Nesse sentido, o processo de sensibilização se apresenta como uma articulação entre a esfera individual e a comunitária.
A conscientização e a libertação são consideradas aspectos indissociáveis, pois a primeira consiste no exercício de um olhar crítico sobre a realidade, em que a existência de opressores e oprimidos é possibilitada a partir do engano e da ignorância. Nesse sentido, a alfabetização, no contexto da Educação Popular, é uma ferramenta decisiva para a transformação das desigualdades, uma vez que os oprimidos tomam consciência de sua situação como tal e de que estão sendo vítimas de uma violência estrutural.
Em sua análise do processo de conscientização, Freire descreveu três fases distintas, por meio das quais os oprimidos são capazes de definir seus problemas, refletir sobre as causas e, finalmente, agir de acordo com o objetivo de transformar a situação inicial. Como ponto de partida, os oprimidos encontram-se sobrecarregados com problemas que não conseguem distinguir e, portanto, também não conseguem resolver, resignando-se a uma situação de impotência em que só esperaram que ela mude por si mesma. Uma vez que consegue reconhecer os problemas, mesmo que apenas em termos individuais, passa a refletir sobre as causas deles, mas não os relaciona com as condições sistêmicas da sociedade. Então, ele não direciona sua ação contra as verdadeiras causas de sua opressão, mas confronta seus pares (família, colegas de trabalho) ou até mesmo se culpabiliza. Por fim, uma vez alcançada a reflexão crítica, ela permite compreender a estrutura do sistema opressor, que se divide entre opressores e oprimidos. Assim, ele é capaz de reconhecer seu lugar dentro desse sistema e rejeitar a ideologia do opressor, a fim de atuar em prol da libertação de seus semelhantes e de si mesmo.
O esquema descrito por Freire apresenta, em linhas gerais, o processo de conscientização. No entanto, isso não ocorre em todos os casos da mesma forma, variando as fases de acordo com a sociedade específica em questão.
Atualmente, em diferentes contextos, tem-se proposto a utilização do modelo de conscientização educacional para o tratamento dos problemas ambientais e a abordagem das mudanças climáticas, com o objetivo de que as sociedades dimensionem o impacto que as atividades econômicas têm em um sistema capitalista sobre o meio ambiente em nível global, que nas últimas décadas atingiu um patamar crítico para uma multiplicidade de formas de vida, inclusive a humana.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Conscientizar. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/conscientizar/. São Paulo, Brasil.