Conceito de Autocontrole

Agustina Repetto | Janeiro 2023
Licenciada em Psicologia

O autocontrole é a capacidade de regular e exercer controle sobre nossos comportamentos, pensamentos e emoções, como uma habilidade que começa a se desenvolver desde o momento em que nascemos devido à influência de nosso ambiente social e cultural, através das diferentes instituições encarregadas de nossa socialização, como a família e a escola. Sendo uma habilidade relacionada às funções executivas, encontra, assim, seu maior período de desenvolvimento entre seis e oito anos.

De acordo com numerosos pesquisadores, o autocontrole é o esforço consciente para superar impulsos indesejados e o cancelamento de comportamentos autoritários, com especial destaque para a dimensão comportamental. Eles o entendem como um mecanismo que faz parte de outro maior, o da autorregulação, este último também encarregado de regular as esferas emocional e cognitiva. Para eles, o autocontrole seria um mecanismo, dentro da autorregulação, encarregado de regular o próprio comportamento com base na consecução de objetivos pessoais.

Nessa perspectiva, à medida que crescemos, exercemos maior controle sobre diferentes aspectos do nosso ser. Aprendemos a controlar os esfíncteres e os movimentos do nosso corpo, a satisfazer as nossas necessidades de formas culturalmente aceitas – quando temos sede não saltamos como um pássaro para beber água de uma poça -, aprendemos a comer e dormir em determinados horários, adiar gratificações imediatas para atingir metas e cumprir objetivos que eventualmente nos trarão maiores recompensas a longo prazo, internalizamos diretrizes sociais e muitas vezes fazemos coisas que não nos agrada, mas as fazemos do mesmo modo por obrigação. Todas essas questões fazem parte da vida em sociedade, sendo adquiridas durante os processos de socialização.

O autocontrole é “desejável”?

A resposta é: depende. Embora seja desejável e saudável o desenvolvimento da capacidade de autocontrole uma vez que ela é necessário tanto para o nosso funcionamento em sociedade -controlando os impulsos agressivos, por exemplo – como para atingir nossas metas e objetivos pessoais. O excesso de autocontrole pode gerar dificuldades de adaptação às mudanças, produzir desconforto emocional e levar à inibição de várias dimensões vitais, promovendo a rigidez de nossos pensamentos e o estabelecimento de padrões pouco flexíveis de comportamento. Este último geralmente ocorre, por exemplo, em personalidades perfeccionistas ou superadaptadas.

Infelizmente, vivemos numa sociedade que recompensa o sucesso e a adaptação a padrões e estereótipos culturais que, por vezes, nos podem até parecer implausíveis – não chore, isso é coisa de menina!, diz o pai ao filho -. O controlo excessivo das próprias emoções, como no caso exemplificado acima da inibição do impulso de chorar, baseado num estereótipo de gênero, pode levar a uma posterior dificuldade na expressão das emoções e consequentemente, uma invalidação delas, o que pode ter repercussões negativas na autoestima, na gestão inteligente das emoções e nas relações interpessoais.

Por outro lado, a falta de autocontrole pode nos levar a comportamentos antissociais, compulsivos e viciantes, pensamentos automáticos negativos e falhas na regulação emocional. Há estudos que indicam a importância do autocontrole na execução de respostas positivas e na redução de comportamentos que podem ser contraproducentes para o indivíduo, tanto pessoal quanto socialmente. De fato, estes estudos mostram que uma adequada capacidade de autocontrole está positivamente relacionada com um bom rendimento académico, e, ao mesmo tempo, com uma diminuição de comportamentos agressivos, redução de comportamentos delinquentes, menor prevalência de transtornos alimentares e um menor uso de substâncias aditivas.

Por que algumas pessoas se controlam mais ou menos que outras?

Existem pesquisas que correlacionam a variável ansiedade – como um traço de personalidade, ou seja, como a tendência estável de perceber as situações como ameaçadoras – e a variável autocontrole, em que seus resultados concluem que um maior nível de ansiedade está relacionado com uma menor percepção de autocontrole. Há também pesquisas que correlacionam a falta de controle dos impulsos com transtornos de personalidade, como transtorno antissocial e transtorno de personalidade limítrofe.

Por outro lado, há pesquisas que indicam que uma baixa percepção de autocontrole corresponde a estilos pessoais, sem que estes constituam transtornos, nos quais as pessoas:

– Perceber estímulos ameaçadores mais facilmente do que outros
– Possuem uma maior sensibilidade do sistema de alerta
– Têm menos tolerância para a incerteza.
– Apresentam uma baixa tolerância à frustração.
– Têm medo de perder o controle
– Têm um estilo cognitivo rígido.

Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.

Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Janeiro 2023). Conceito de Autocontrole. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/autocontrole/. São Paulo, Brasil.

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