A realidade é o conjunto dos corpos físicos existentes, suas manifestações e formas de relação em torno dos acontecimentos, cuja percepção recai sobre a subjetividade do conhecimento de cada pessoa e a interpretação que ela é capaz de construir.
A metafísica platônica caracteriza-se por ser uma proposta dualista, que opõe, por um lado, um mundo inteligível e, por outro, um mundo sensível. Dentro desse esquema, a realidade está localizada no mundo inteligível, ou seja, no mundo das ideias. Nisto consiste o âmbito próprio do ser e das essências de tudo o que existe.
As coisas que vemos no mundo sensível que habitamos como seres humanos nada mais são do que cópias degradadas dessa realidade arquetípica: universal, perfeita, necessária, objetiva, imutável, inespacial. Ou seja, nossos sentidos não nos permitem acessar a realidade, só podemos saber o que é real por meio de nossa atividade intelectual, ou seja, por meio da razão.
Na Alegoria da caverna, Platão apresenta sua teoria das ideais a partir da imagem de um grupo de homens acorrentados em uma caverna de tal forma que conhecem apenas as sombras projetadas na parede oposta a saída, mas não os objetos reais que as produzem. O homem que consegue se livrar das correntes e sair da caverna, conhece o mundo real, mas é preciso muito esforço. Desta forma, a alegoria mostra a ascensão gradual ao conhecimento —o conhecimento da realidade—, como resultado de um árduo trabalho.
Na medida em que a teoria platônica concebe a realidade como uma esfera externa, que pode ser conhecida pelos seres humanos, podemos entendê-la como uma forma de realismo ontológico ou epistemológico.
A disputa dos universais é conhecida como o problema filosófico levantado pela realidade ontológica dos termos universais, ou seja, a que tipo de entidade tais termos correspondem. Esse assunto era característico das discussões escolásticas durante a Idade Média. Diferentes pensadores medievais —como Porfírio ou Boécio— levantam a questão de como é possível a existência de uma realidade separada das coisas que observamos, o que estaria enraizado em termos ditos universais.
Assim, questiona-se se os universais poderiam existir à parte das coisas e, se assim fosse, em que consistiria sua existência em relação ao mundo. O comentário de São Tomás à Física de Aristóteles ensaia uma resposta que mais tarde seria retomada pelo realismo científico: nosso conhecimento mais imediato é o sensível, que precede o conhecimento intelectual, mas, no entanto, procede à margem das ideias que temos sobre os entes.
Ao considerar uma coisa, primeiro nos é revelado seu gênero e depois suas particularidades singulares. Em todo universal o singular existe em potencialidade, que pode então se manifestar em ato. Há um certo grau de universalidade que é indispensável para toda ciência e um grau maior de universalidade que pertence à metafísica.
A corrente filosófica contemporânea que, nas últimas décadas, é reconhecida sob o nome de realismo especulativo (incluindo autores como Q. Meillassoux, G. Harman, M. Gabriel, entre outros), responde criticamente às ideias do construtivismo, pelas quais foi afirmado que a realidade não é um dado externo, mas que depende, de uma forma ou de outra, dos esquemas subjetivos pelos quais simultaneamente a acessamos, dando-lhe forma.
O interesse do realismo especulativo está em recuperar a possibilidade de um discurso sobre a existência de uma realidade independente dos sujeitos humanos, que não estaria subordinada à sua capacidade de acessá-la. Ou seja, em última instancia, sustenta-se a possibilidade de uma realidade objetiva existir em virtude de sua própria atuação, sem a necessidade de um sujeito humano para dar conta dela. O interesse dessa abordagem reside na recuperação do agir da realidade que nos cerca, entendendo que ela interage com nossos próprios atos como seres humanos, mas que não está simplesmente em posição de disponibilidade passiva.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Realidade. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/realidade/. São Paulo, Brasil.