A psicologia política se concentra no estudo do comportamento que surge da interação do ser humano em relação a vários processos sociopolíticos. Segundo essa definição, não é apenas a união da psicologia com a ciência política, pois também está ligada a outras disciplinas como a sociologia, a antropologia e a história.
A complexidade da psicologia política impossibilita situá-la como mais um aspecto da divisão da psicologia, pois é um campo transdisciplinar que obriga o psicólogo político a olhar para o trabalho de outras disciplinas a fim de proporcionar um olhar mais completo sobre o comportamento de uma pessoa em relação à sua esfera política.
A psicologia política surgiu e se desenvolveu, teoricamente como tal, em meados do século XX, embora seus antecedentes mais importantes se deem no final do século XIX na Europa, mais precisamente em 1986, quando o sociólogo e físico Gustave Le Bon publicou seu livro “Psicologia das multidões” onde aborda sobre a psicologia da massas. Nessa obra, Le Bon faz um estudo extremamente importante para a psicologia social, mas também menciona a psicologia dos indivíduos com relação às instituições políticas e com relação ao processo no qual as massas eleitorais tomam decisões.
Um segundo momento importante para esta psicologia é durante a década de 1930, quando estudos realizados pelos cientistas políticos Charles Meriam e Harold Laswell destacaram a importância da psicologia para entender o impacto da ciência política nas pessoas. Laswell publicou em 1930 o livro “Psychopathology and Politics”, onde faz uma aproximação dos traços de personalidade e patologia presentes no comportamento dos atores políticos.
Erroneamente, tentou-se delimitar a psicologia política como o mero estudo do comportamento eleitoral individual, quando este é apenas uma linha de pesquisa em um quadro de estudos muito mais amplo.
A psicologia política engloba vários fenômenos entre seus objetos de estudo tais como o comportamento eleitoral, a filiação a uma determinada ideologia ou partido político, o perfil do líder político e sua influência social, os processos de identificação, bem como a motivação que leva uma pessoa a participar como político. A visão de onde parte a psicologia política é entender como a vida política influencia e determina, se for o caso, no comportamento humano.
Morton Deutsch, em seu artigo “What is Political Psychology?”, levanta as seguintes questões que ele chama de ‘chaves’ no estudo da psicologia política:
1. O indivíduo como ator político: Aborda a perspectiva individual do comportamento político.
2. Coligações e estruturas políticas: Analisa a contraparte do indivíduo. Aqui o interesse tem muito a ver com a composição social e política de grupos que compartilham ideologias ou lógicas de funcionamento.
3. Relações entre grupos políticos: Tem como objetivo analisar a interação de grupos (não de indivíduos), cujos interesses e ideologias não são necessariamente os mesmos, mas por condições políticas e sociais estão determinados a coexistir.
4. Processos políticos: Tudo o que relaciona processos, tanto individuais quanto coletivos, e que desencadeia uma consequência de natureza política, será objeto de estudo deste tema. Exemplos: persuasão, percepção, conflito, mobilização.
5. Estudos monográficos: Análise detalhada de casos representativos de um determinado tema. Quando há um desenvolvimento detalhado que explica o trabalho de pesquisa realizado e seu escopo, então é um estudo monográfico.
6. Desenvolvimento humano e economia política: Trabalhos focados de forma crítica no ambiente político e nas consequências disso não só no comportamento, mas na psique do indivíduo. Análise de igualdade, justiça, democracia, etc.
Na América Latina, a psicologia política foi construída com um sentido de identidade baseado nas necessidades e particularidades da região. A Psicologia Política surgiu no contexto latino-americano, na segunda metade da década de 1980 (Rodríguez Kauth, 2008). Psicólogos como Ignacio Martín Baró e Maritza Montero, convocados de diferentes vertentes da psicologia, para construir uma psicologia política que considerasse elementos de outras áreas definidas como a psicologia social comunitária ou a psicologia da libertação para determinar uma área de estudo que não apenas se presta a analisar questões como intenções eleitorais ou inclinações ideológicas, mas sim suas descobertas, que permitem um estudo crítico dos processos políticos e históricos e como eles determinam o comportamento coletivo e individual das pessoas.
Na América Latina, uma proposta de psicologia política foi construída nas últimas décadas que abrange diferentes temas e abordagens teóricas. Discute-se na construção de uma metodologia própria e que atenda não só as necessidades do trabalho do psicólogo político, mas também as necessidades sociais da comunidade, município, sociedade, país em questão. O produto desta iniciativa tem sido uma série de trabalhos inovadores em diferentes latitudes da região latino-americana, sendo os países de maior destaque Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, México.
Artigo de: Gemma Alvarado. Licenciada em Psicologia. Mestre em Humanidades pela Universidade Autônoma do Estado de México.
Referencia autoral (APA): Alvarado, G.. (Junho 2023). Conceito de Psicologia Política. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/psicologia-politica/. São Paulo, Brasil.