Idade média é o período da história do mundo, com ênfase na Europa, entre a queda de Roma no ano 476 d.C. e o início do renascimento no século XIV. Tal período também era conhecida como Idade das Trevas, expressão utilizada pelos humanistas renascentistas para simbolizar uma época em que a ignorância reinava.
A chamada Idade Média é um termo, como quase todos, cunhado numa época posterior à referida era. Autores como Luis Weckmann designam este momento como o período compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente e a entrada do Renascimento. O Bispo de Alería na Ilha de Corsa, Itália, Giovanni Andrea de Bossi (chamado de Bussi por outros), referiu-se a tal momento pela primeira vez como tempestade média e a partir de então este termo se popularizou como a Idade Média. Embora os estudos históricos aprofundados tenham começado no final do século XVIII, os séculos anteriores chamavam a atenção dos estudiosos por configurar, a seu ver, um momento sombrio, assolado pela ignorância, conduzido pela barbárie e encabeçado pelo fanatismo religioso devido à que, em todos os aspectos da vida social, Deus era o centro da existência universal e, portanto, do próprio homem.
De acordo com os critérios historiográficos gerais a idade média pode ser dividida em quatro momentos, cada um marcado por determinadas características, que em sequência, permitem um melhor conhecimento e compreensão deste período histórico possibilitando a análise de toda sua extensão. Sem dúvida, tal classificação é geral e, portanto, arbitrária com os processos econômicos, políticos e sociais de determinadas jurisdições e determinados espaços de escalas menores, porém, como dito acima, é necessário para auxiliar na compreensão de dito processo como um todo.
1. Primeira idade Média – Momento de transição do mundo clássico para o início da Idade Média
Do século V ao VIII – momento em que a antiguidade clássica teve seu último aparecimento. A queda do Império Romano do Ocidente ocorreu em 476 DC em Constantinopla e os povos germânicos iniciaram sua migração em massa para o sudeste do continente europeu. No Oriente, Bizâncio recebeu a herança de Roma e abrigou as primeiras formas de cristianismo que viriam a sofrer tantas mudanças e transformações.
Do século VIII ao XI – Período caracterizado pela expansão do império muçulmano e pela chegada (ou segunda onda) de eslavos, vikings, povos das estepes e grupos de sarracenos que ofereceram resistência bélica e cultural à sociedade cristã do Império Romano no Ocidente. As sociedades européias foram abaladas pelas invasões bárbaras e isso levou à ascensão do império carolíngio (reino franco em homenagem ao grande Carlos Magno) e otoniano (pelos governantes alemães que compartilhavam o nome de Otto, também conhecidos como saxões) cuja resistência organizada em face às ameaças estrangeiras, lançou as bases para as batalhas posteriores que permitiriam a existência de um momento culminante da Idade Média.
Do século XI ao XIV – a consolidação do Sacro Império Romano-Germânico como força de coesão, refúgio e proteção do Cristianismo Ocidental. Ao mesmo tempo, a força política e econômica do Pontificado e a consolidação das monarquias aparecem no cenário da história. Foi o momento natural da consolidação do feudalismo como instituição económica da sociedade e o momento propício para a gênesis da vida universitária, bem como da expansão dos centros urbanos e de um comércio mais alargado que tingiu de vida deste momento histórico.
Do século XIV ao século XV – A crise do sistema em vigor, que entrou em colapso quando a globalização se consolidou graças às viagens interoceânicas, colocaram a Europa em contato com civilizações de outros continentes até então desconhecidos, razão pela qual muitos autores marcam o fim desta etapa da história com a “descoberta” da América em 1492. No entanto, um dos fatores que mais caracterizou esse momento foi a crise cultural e espiritual que mais tarde deu lugar ao mundo do Renascimento e à compreensão e reflexão sobre o homem como centro da existência e não a divindade.
Embora a lenda negra que reinou na historiografia sobre este período ser um tempo de regressão, sua reivindicação foi alcançada graças à realização de valiosos estudos históricos, especialmente após a Revolução Francesa em 1789. Hoje o conceito de Idade Média continua guardando vestígios de identificação com aquela fase escura que não permitia o desenvolvimento do espírito humano em nenhuma de suas formas. As investigações do século XX, especialmente da escola francesa dirigida por Marc Bloch e das gerações de intelectuais que se seguiram em torno da escola dos Annales, forneceram dados que hoje permitem identificar essa etapa com a dos heróis medievais, o amor à vida dos santos, a gestação do parlamentarismo e o surgimento da arte sacra, para citar apenas alguns. Três elementos podem, sem dúvida, ser guias para a compreensão de todo o processo nas suas diferentes áreas: a herança do mundo romano, a chegada do mundo alemão e a fortificação do cristianismo naquele espaço que Bloch identifica como Europa e onde vivem os maometanos, bizantinos e eslavos, na área geografia cercada pelo Mar Tirreno, o Mar Adriático, o Rio Elba e Oceano Pacífico.
A Idade Média vai além das recordações de uma era nebulosa, é também a fase em que surgiram os feudos e com eles os grandes senhores feudais transformando a posse da terra na moeda mais importante e cujas relações trariam novas formas de relacionamento entre os homens. O feudalismo como instituição política e econômica veria neste momento histórico o estado natural de sua gestação e a expansão do poder e da guerra entre tantos cavaleiros que derramaram sangue em nome da proteção de sua terra. Assim, este não é, em hipótese alguma, um período de passagem entre o mundo clássico e o Renascimento, mas sim uma parte vital e precedente do que hoje entendemos como civilização ocidental.
Artigo de: Karina Mora Mendoza. Graduado em História pela UMSNH, Professora e Doutora pelo Colégio de Michoacán. Realiza pesquisas históricas sobre o século XIX em relação ao discurso e uso dele em temas como a história das mulheres e a construção da Nação.
Referencia autoral (APA): Mora Mendoza, K.. (Maio 2023). Conceito de Idade Média. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/idade-media/. São Paulo, Brasil.