Conceito de Temporalidade

Lilén Gomez | nov. 2022
Professora de Filosofia

O termo temporalidade refere-se à noção de tempo, ou seja, pertencer a uma sequência ordenada de eventos. A questão do tempo constitui um problema filosófico por excelência, que tem sido objeto de investigação desde tempos muito remotos, chegando aos dias de hoje.

A origem do conceito de tempo no Ocidente

Na origem da noção filosófica ocidental de temporalidade está a controvérsia entre as ideias de dois grandes filósofos pré-socráticos do século V aC., de um lado, Parmênides de Elea, e, do outro, Heráclito de Éfeso. Parmênides, cuja herança será retomada mais tarde por Platão, argumenta que as essências são imutáveis: o universo não foi criado, mas é eterno, e não há nada que interrompa sua continuidade. Isso se explica, pois só é possível o ser, enquanto nada não o é, portanto, não pode haver algo anterior ao ser que o gerou. Se houvesse algo fora do ser, não seria.

Pelo contrário, Heráclito descreve o real como a constante mudança das coisas. O devir é, para o filósofo, a única coisa que pode ser invariável, pois tudo está em permanente transformação. O tempo, nesse sentido, se expressa como um movimento que implica a passagem indefinida de um estado a outro. Assim, a concepção heraclitiana do tempo assume que o tempo é eterno e sempre existiu, e se identifica com a própria evolução das coisas.

Mais tarde, no século IV aC., Aristóteles, seguindo a tradição parmenidiana-platônica, sustenta que há uma dimensão do universo que é eterna, mas na qual nem tudo é imóvel. O ser pode se dar de duas maneiras: em potencia e em ato. A passagem da potencialidade ao ato pressupõe um movimento. Aristóteles, então, explica a noção de tempo como uma medida de movimento, pela qual podemos conceber um antes e um depois. Tudo o que é suscetível de geração e destruição ocorre, necessariamente, contido no tempo.

Assim, há duas esferas de existência: uma corpórea, mundana, que é mutável; e outro eterno, atemporal, que permanece imutável. A temporalidade, então, estaria circunscrita ao plano do corpóreo. Mas, como condição de possibilidade do nosso mundo (como o conhecemos), deve haver uma eternidade no atemporal que deu origem ao tempo e, com ele, ao universo da existência corporal e espacial.

O tempo como categoria subjetiva

Já na modernidade, Immanuel Kant (1724-1804) propõe uma concepção de natureza como um conjunto de fenômenos que nos aparecem segundo nossas próprias estruturas subjetivas e não como são em si. Na experiência, as coisas dão à percepção através das formas puras da sensibilidade, isto é, o tempo e o espaço.

Nesse sentido, o tempo é uma estrutura a priori (independente da experiência), constitutiva da subjetividade transcendental e, portanto, uma condição de possibilidade da própria experiência e não um conceito empírico extraído dela. É, então, a maneira pela qual nosso entendimento organiza as informações provenientes da sensibilidade, no ato de conhecer o mundo.

Nietzsche e a herança heraclitiana

A concepção de temporalidade de Friedrich Nietzsche inscreve-se, – ao contrário da herança hegemônica ocidental de cunho platônico-parmênideo, – na linha de pensamento aberta por Heráclito, chegando a radicalizar suas teses. Nietzsche apresenta um deslocamento da noção do eterno retorno do mesmo, retomada da tradição, segundo a qual o tempo não avança progressivamente em linha reta, mas cada instante está permanentemente retornando só que modo diferente e, portanto, transformado.

A concepção do eterno retorno, de mãos dadas com a ideia de amor fati, supõe conceber cada instante como se ele fosse se repetir eternamente e, consequentemente, agir de tal forma que, se acontecesse, desejaríamos o retorno infinito de cada instante.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (nov., 2022). Conceito de Temporalidade. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/temporalidade/. São Paulo, Brasil.

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