Conceito de Moral

Lilén Gomez | ago. 2022
Professora de Filosofia

Entendemos por moral o conjunto de normas que regulam, na forma de regras e códigos de conduta, o comportamento dos indivíduos dentro de uma determinada sociedade. A moral tem sido objeto de estudo de vários campos do conhecimento, como a teologia, a filosofia e a sociologia.

Moral na teologia

Do ponto de vista da teologia católica, o fundamento das normas morais tem sido objeto de debates eclesiásticos que alcançaram uma resposta decisiva sob a Encíclica de João Paulo II, segundo a qual questões envolvendo conceitos morais não dizem respeito apenas a observância das normas positivas, mas também de forma global, na plenitude do trabalho cristão.

Nesse sentido, a moral não deve ser entendida como uma imposição que vem de fora, na forma de um mandato contrário à liberdade do homem. Ao contrário, há um vínculo constitutivo entre verdade e liberdade assim como entre fé e moral, de tal forma que a moral é considerada como um caminho para a realização do homem. A dimensão teológica da moral é determinada por seu fundamento final que é a colaboração entre a ação humana e a ação divina na plena realização do homem. A bondade moral, então, está sujeita à revelação divina. É por isso que a separação da moral de seu fundamento teológico, quando abordada a partir de uma perspectiva racionalista, é questionada, neste ponto, por sua insuficiência espiritual.

Moral racionalista

A perspectiva racionalista, da qual Immanuel Kant (1724-1804) foi um de seus maiores expoentes, teve influência decisiva sobre os estudos filosóficos da moral. No sistema filosófico kantiano, a razão prática (cujo campo de atuação é a ação), da qual deriva a filosofia moral, tem preeminência sobre a razão teórica (que opera no campo do conhecimento). O uso da razão prática não está orientado para o saber, mas para o agir e, por sua vez, a ação humana é determinada por vários motivos, sejam eles sensatos ou racionais. A lei moral, para Kant, emana da razão prática, e torna-se possível através da autonomia da vontade e da liberdade do homem.

A forma como essa lei moral é formulada consiste no que o filósofo chama de imperativo categórico: é uma lei prática que vale incondicionalmente para qualquer ser racional, independentemente de qualquer condicionamento subjetivo.

Os imperativos categóricos são equivalentes a leis morais, universais e necessárias. Então, a lei moral não é condicionada pelo conteúdo do princípio, mas por sua forma – é apenas um imperativo categórico aquilo que, como máxima subjetiva, é desejável para se tornar uma lei universal (objetiva). Nesse sentido, a moral não depende de um real conteúdo metafísico ou teológico, mas estritamente de sua forma racional, que é objetiva para qualquer ser racional e, portanto, também universal. Consequentemente, a moral opera como um conjunto de regras que, sendo universalmente válidas, devem ser assumidas pela vontade subjetiva como guia para qualquer ação.

A crítica nietzscheana da moralidade ocidental

A crítica da moral ocidental elaborada pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) em sua Genealogia da Moral e em toda a sua obra de modo geral, abriu um relevante precedente para a tradição do pensamento crítico. Nietzsche se refere à cultura ocidental como uma cultura moralmente doente, como consequência da separação que ela estabelece entre racionalidade e vida. Nesse aspecto, a metafísica e a teologia como fundamentos da moral respondem ao mesmo esquema, na medida em que se baseiam em valores de verdade absolutos que, para existirem como tais, necessariamente negam o devir dos vivos.

A cultura ocidental está em declínio, pois é determinada por uma moral que nega a vida para afirmar o doente, o fraco: a moral surge como resultado das relações desiguais de poder na sociedade, como justificativa para a imposição do fraco, a casta aristocrática, sobre os mais fortes, transformados em escravos. Então, o resultado da moral é uma inversão em virtude da qual se reafirmam os espíritos fracos, procurando sacrificar a vida para preservar seu poder.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Moral. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/moral/. São Paulo, Brasil.

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