Conceito de Aristocracia

Karina Mora Mendoza | Fevereiro 2023
Doutora em História

Originalmente, a aristocracia é concebido como um sistema que funciona com base na seleção criteriosa dos indivíduos com maior capacidade em suas respectivas áreas -embora o conhecimento fosse restrito às elites-, cuja participação permite contribuir para o crescimento de extratos ou do conjunto da sociedade, conforme as práticas estabelecidas.

A aristocracia é um termo que foi assimilado em nossa língua, como tantos outros, sem questionar exatamente o significado a que se refere. Costumamos usá-lo para designar algo que está simplesmente muito “acima” do que entendemos como normal e acessível. Mas o que podemos entender como aristocracia? Comecemos lembrando que os termos da linguagem que usamos hoje estão geralmente ancorados em um espaço-tempo específico e que, portanto, surgiram como respostas de comunicação para dar nome ou título a objetos, eventos ou processos que precisavam ser nomeados.

A palavra aristocracia de forma etimológica remonta ao século XV quando o sistema grego de signos entendia aristrokatia como o governo dos melhores. Aristos, que designava o melhor ou o melhor, juntava-se a krátos, para acrescentar força ou poder. Assim, uma aristocracia é a referência a um grupo dentro de outro maior, identificado como o melhor, primeiro pelo mesmo grupo e depois por outros que o reconhecem de uma posição externa. Assim, a princípio, a palavra se refere a um sentido amplo onde a distinção é obtida por fazer parte dos melhores de uma sociedade.

No entanto, apesar de o uso mais amplo do termo identificá-lo com os estratos mais altos de uma comunidade, ao longo do tempo a aristocracia teve apropriação e uso com características específicas em cada etapa da história; na antiguidade clássica, na Idade Média, na idade moderna ou na idade contemporânea.

Da antiguidade clássica ao presente

Na antiguidade clássica Aristóteles entendia que a forma de governo deveria ser a dos melhores, porém, baseada no mérito, inclusive naqueles que simbolizavam areté, a virtude. Nessa época, as classes altas começaram a se identificar com a representação e prática das virtudes, pois sua posição social facilitava o acesso ao conhecimento e à prática de valores que não estavam disponíveis para as camadas mais baixas, as pessoas comuns. Assim, a aristocracia passou a ser entendida como o governo do qual participam apenas alguns poucos notáveis.

No entanto, essa forma de entender e designar aqueles que seriam melhores para governar gradualmente se desvaneceu do conceito original que o mundo clássico havia construído. Na Idade Média, a aristocracia era composta por aqueles que haviam alcançado a distinção do Rei, concedendo-lhes títulos para legitimar suas qualidades e separá-los do restante da população. Por isso, com o passar do tempo, esses personagens exaltados se identificaram profundamente com a nobreza. Em princípio, estas distinções concedidas pelos senhores feudais deviam responder a atos de valor que os tornassem merecedores de tal graça e assim receber títulos nobiliárquicos em reconhecimento de atos dignos e heróicos.

Os cavaleiros, marqueses, príncipes, duques ou condes, começaram a acumular distinções ao longo dos anos e com isso vão se formando as casas aristocráticas. Estes foram herdados por linhagem sanguínea, constituindo descendentes ilustres ao longo do tempo, longo processo que mais tarde levaria à identificação dos homens como parte da aristocracia, embora em essência suas ações não fossem mais reflexo da prática do areté, da virtude. , uma vez que tais distinções foram conquistadas por meio de herança familiar. Assim, para serem considerados aristocratas, bastaria terem nascido em uma família alcançada pela graça de um príncipe, como diria Nicolau Maquiavel.

Portanto, a ideia mais fiel ao termo seria a do mundo clássico que preconiza o governo dos melhores, mas dos melhores nas virtudes consagradas na sabedoria e no conhecimento. Estes seriam os principais e mais aptos por sua erudição e virtudes e teriam a capacidade de direcionar o Estado ao ponto ético, ao do verdadeiro bem. Essa identificação de distinção recorria ao filtro da riqueza econômica, pois somente os chamados bem-nascidos, os agathói, podiam cultivar tais virtudes, cujos privilégios de nascer em famílias que suprissem as necessidades básicas garantiam que seus membros conseguissem cultivar as virtudes até que os integraram em sabedoria para governar.

Atualmente, o conceito se popularizou para falar dos melhores em quase todos os campos, como a aristocracia fundiária -os melhores para possuir a terra, a aristocracia política -os melhores para exercer o poder-, a aristocracia econômica -os melhores para possuir, por exemplo, os meios de produção ou monopólios econômicos- ou a aristocracia intelectual -aqueles reconhecidos por possuir o mais alto conhecimento-, embora para isso não sejam mais necessários os títulos nobres que o rei dá à nobreza, nem a herança de tais títulos numa linhagem familiar, mas antes pertencem a um pequeno grupo que, por razões de poder político, económico ou intelectual, continua a distinguir-se do resto da sociedade.

Artigo de: Karina Mora Mendoza. Graduado em História pela UMSNH, Professora e Doutora pelo Colégio de Michoacán. Realiza pesquisas históricas sobre o século XIX em relação ao discurso e uso dele em temas como a história das mulheres e a construção da Nação.

Referencia autoral (APA): Mora Mendoza, K.. (Fevereiro 2023). Conceito de Aristocracia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/aristocracia/. São Paulo, Brasil.

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