No campo da Filosofia, a axiologia é o ramo que aborda ao espectro dos valores e julgamentos valorativos, bem como os problemas relacionados à decisão humana em situações críticas, nas quais há um conflito potencial entre o que pode ser feito e o que deve ser feito. Nesse sentido, a axiologia apresenta estreita ligação com os campos da ética e da filosofia moral.
A origem da palavra axiologia, influenciada pelo francês axiologie, formado pelo grego ἄξιος (áxios), que se refere a “valioso”, e λόγος (lógos), de “discurso” é recente. O primeiro a utilizá-la, no início do século XX, foi o pensador francês Paul Lapie (1869 – 1927), para se referir a valores morais e éticos. Posteriormente, o filósofo alemão Eduard Von Hartmann recuperará o termo para referir-se à fundamentação de seus estudos, de modo que a axiologia se consolida, naquele momento, como uma disciplina autônoma sobre valores.
No entanto, a reflexão sobre valores e juízos de valor remonta à Antiguidade grega, época em que os problemas relacionados à valoração eram estudados como objeto de análise filosófica. Nos primórdios da sociedade grega, organizada em torno de um sistema socioeconômico escravista, os valores (cuja realização era ‘areté‘, termo que pode ser traduzido como “virtude”) eram considerados uma característica superior, típica dos nobres ‘aristoi‘, que formavam a aristocracia. A maior virtude, nesse sentido, incluía riquezas materiais, assim como qualidades espirituais. Ela não era acessível a nenhum cidadão e categoricamente negada aos escravos.
Então, não era uma condição que pudesse ser cultivada ou aprendida pela observação de um determinado comportamento, mas sim recebida por herança, juntamente com a condição nobre, formada pelos proprietários de terras. Com o desenvolvimento do comércio e o desenvolvimento progressivo das formas democráticas de governo, o objeto da filosofia deslocou-se do âmbito da natureza para o âmbito do humano e do político – ou seja, para a questão da vida na polis – e, consequentemente, a reflexão sobre valores adquiriu maior centralidade. Isso pode ser observado, por exemplo, nos Diálogos platônicos ou em obras como a “Ética a Nicômaco” de Aristóteles, no final do século V a.C. e durante o século IV a. C.
Até a modernidade, o estudo dos valores estava, portanto, restrito ao campo da moral e fortemente condicionado por ideias sobre o bem e o mal. O filósofo Immanuel Kant (1724 – 1804) analisa os valores dentro dessa perspectiva, enquanto, os teóricos da escola de pensamento utilitarista identificam valor com utilidade (como o próprio nome indica), de modo que a reflexão sobre os valores visa maximizar o bem-estar para o maior número de pessoas.
A disciplina axiológica como tal, desenvolvida a partir do século XX, não só leva em conta os valores morais, mas também considera a valoração como um dos fundamentos do conhecimento em geral. Assim, para autores como Wilhelm Windelband (1848-1915), todos os juízos filosóficos são atravessados por juízos valorativos (do tipo “isto é verdade”) e não têm por objeto juízos de fato (como, por exemplo, as leis naturais). A validade dos juízos filosóficos, então, tem um caráter normativo, ao contrário dos juízos factuais, relativos à descrição científica do mundo circundante.
A distinção entre fatos, considerados neutros, e valores, com carga normativa, foi significativa na origem da axiologia como disciplina autônoma. Por sua vez, com base nas contribuições da teoria marxista, destacou-se o conteúdo histórico —e, neste sentido, material e objetivo, mas também variável— dos sistemas de valores, bem como sua importância na organização das sociedades de cada época.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Axiologia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/axiologia/. São Paulo, Brasil.