A Antropologia Social é uma ciência social voltada para o estudo da cultura e a compreensão do homem através de sua sociedade, entendendo-o como uma entidade com características sociais que o definem e lhe conferem identidade, mas o reconhecem como um indivíduo inerentemente social.
Os primórdios da antropologia situam-se no final do século XIX, nos países hegemônicos da Europa. Muito provavelmente naquela época ainda não se chamava “Antropologia”, mas eram os princípios teóricos do método científico para um encaminhamento social. A intenção dessas ciências sociais nascentes era explicar por que havia tantas diferenças de desenvolvimento entre as diferentes entidades e territórios. Essa preocupação em conhecer o outro foi o que motivou, em grande medida, que o evolucionismo de Darwin fosse transferido para a compreensão das sociedades e por que algumas se consideravam “atrasadas” ou estagnadas em formas de vida mais simples, aparentemente, do que a das grandes cidades, que viviam o auge da industrialização e do eurocentrismo.
Havia a ideia errada, mas unilateral, de que o desenvolvimento só chegava a certas áreas, enquanto havia algumas chamadas “civilizações primitivas”, que tinham tecnologias, religiões, crenças e organizações sociais e políticas diferentes daquelas em que vivia a hegemonia da Europa. Entre a busca de colonizar, invadir e aculturar ditas comunidades, essas sociedades hegemônicas iniciaram incipientemente as ciências sociais.
A abordagem voltada para o humano, sua natureza social e suas organizações e crenças, foi o que deu origem à antropologia social, como disciplina e ramo das ciências sociais. Recebe o nome de antropologia porque, etimologicamente, refere-se aos antigos gregos anthropos (homem) e logos (conhecimento), sendo assim o “conhecimento do homem” ou do ser humano, sendo a partir desse momento um nome que viria a reforçar a ideia do seu trabalho, objetivos e interesses.
Assim, os grandes precursores e pais da Antropologia seriam os cronistas, os viajantes, os intelectuais que narravam suas aproximações da filosofia, da economia, da política e até dos esquemas jurídicos. Através de seus escritos e de suas análises, mesmo sem saber, eles criariam os postulados da antropologia. Essas resenhas ou descrições das abordagens, julgamentos, avaliações, comparações, crônicas, anedotas ou qualquer outra que lhe parecesse, marcaram as bases, como já mencionamos, da Antropologia, criando o conceito de etnografia, que viria a ser a braço direito do estudo do homem. Vale ressaltar que as etnografias surgiram por meio do etnocentrismo, ou seja, considerando uma única civilização como detentora do conhecimento geral e permitindo a avaliação das demais. O mesmo, foi resguardado perante o método científico “adequado”, para chamá-lo de alguma forma, ao campo social.
Em primeira mão, na época em que esta disciplina surgiu, o método comparativo e a teoria da evolução eram os fundamentos que reforçavam a disciplina, pois concordava com a ideia do positivismo e do desenvolvimento, fomentava o pensamento ilusório da unidade psíquica humana e o apático alcance na pirâmide da evolução e do desenvolvimento, por mais repetitivo que isso possa parecer.
Esta disciplina, ramo de estudo das ciências sociais, que permite estudar o homem na perspectiva do desenvolvimento social, tornou-se gradualmente uma ciência em si. Muitos autores, ao longo do desenvolvimento e definição da antropologia social, têm mencionado que este é um ramo da sociologia que permite especificidade na cultura, o que lhe confere um significado diferente. Contudo, é importante reconhecer que o método da Antropologia é único e permite a compreensão de dentro e é aí que se cria um ponto importante para a definição da antropologia social: a cultura.
O antropólogo social estuda a cultura e, ironicamente, para definir o que é cultura, decidiu estudar Antropologia, o que torna esta situação um ciclo infinito de (in)definições. Embora a cultura seja um termo bastante complexo que continua a ser um ponto de debate e que poderia merecer outro trabalho como este, poderíamos simplificá-lo como as características que um grupo de uma sociedade tem em comum. Assim, a antropologia social se concentra nessas características, como a instituição da família, a organização política, a estrutura legal, as crenças, as tecnologias e formas de trabalho, a economia, etc.
Basta rever algumas das obras mais importantes da Antropologia Social para poder compreender um pouco mais o seu alcance e, portanto, a sua definição. Por exemplo, considerado o pai da antropologia moderna, temos Bronislaw Malinowski, cujo título mais famoso é “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, obra na qual o antropólogo britânico (de origem polonesa) projetava a necessidade de um estudo etnográfico que fosse feito a partir da totalidade dos aspectos sociais, culturais e mesmo psicológicos da comunidade. Outro exemplo é a obra “A sociedade Primitiva” de Morgan Lewis que explica e classifica os diferentes estratos da sociedade e quais características devem ser levadas em conta para tal classificação; Franz Boas com o relativismo cultural, descrito principalmente em sua obra “Cultura e Raça” e Émile Durkheim, que escreveu “O Suicídio”, bem como um número infindável de outros autores, aos quais valeria a pena abordar mais profunda e individualmente.
Podemos dizer que a Antropologia Social é um ramo das ciências sociais que permite estudar o próprio homem, usando a cultura como ponto de fuga e entendendo-o como ser social, através de todas as suas características após este filtro. Sua origem determinou seu estudo como a oportunidade de descobrir o outro e compreender sua singularidade através de si, – como um todo, da sociedade -, em relação ao que, quem estuda, reconhece como ponto de partida.
Por fim, vale ressaltar que a antropologia vem se definindo e redefinindo ao longo dos anos, nascendo do evolucionismo e se transformando a cada vez que novas escolas de pensamento nascem e são adotadas. Da mesma forma, a amplitude do que a cultura abarca tem aberto os braços dessa ciência para poder abarcar cada vez mais características, desde as perspectivas estruturalistas, ecológico-culturais, funcionalistas, particularidades históricas e outras. Hoje em dia, a antropologia aposta na multidisciplinaridade e na transversalidade das ciências, com a intenção de compreender melhor ao homem, não como individuo, mas como um ser que inerentemente esta inserido em um mundo que não o escolheu, entretanto, que o marcará para sempre.
Artigo de: Tania Mariel Luna Albarrán. Graduada em Antropologia Social pelo Instituto de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Autônoma do Estado de Hidalgo. Amante da teoria mais do que da prática. Seus interesses estão centrados na antropologia urbana, no urbanismo e na habitabilidade.
Referencia autoral (APA): Albarrán, T. M. L.. (Março 2023). Conceito de Antropologia Social. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/antropologia-social/. São Paulo, Brasil.
