É uma teoria popular em diversos campos, principalmente no trabalhista-empresarial, que diz que uma pessoa que está dentro de sua zona de conforto encontra-se em um estado de achatamento mental, no qual a falta de estímulos a leva a manter uma postura predominantemente passiva e não atitude muito empreendedora.
É comum encontrar discursos que circulam, principalmente, nas redes sociais, nos convidando a sair da nossa zona de conforto. Embora seja um conceito amplamente citado e que vem ganhando espaço dentro das teorias da psicologia popular (aquelas que circulam sem serem verificadas) e do coaching, não existem produções acadêmicas ou científicas formais que acompanhem ou apoiem o que se sustenta neste tipo de conteúdo.
O indivíduo está em sua “zona de conforto”, quando seu contexto não é ameaçador, sente que pode controlá-lo ao comportando-se rotineiramente usando suas estratégias habituais para resolver os conflitos que surgem em seu cotidiano, sem correr nenhum risco. Além disso, a zona de conforto está relacionada ao desempenho. Destaca-se que, ao permanecer em tal estado de segurança e conforto, possibilitado pela zona de conforto, não é possível aumentar o desempenho, apenas mantê-lo constante. Isso impediria o crescimento pessoal gerando estados de apatia, relutância e vazio existencial.
Assim, em síntese, estas teorias relacionam o estado de conforto com: um contexto confortável, seguro e pouco ameaçador, a ausência de correr riscos, o desempenho constante, a falta de crescimento pessoal e a presença de determinados problemas de saúde mental.
Essas teorias – que não têm apoio empírico – nos convidam a sair de nossa zona de conforto com a promessa de que um desempenho maior e melhor nos espera fora dela. Além disso, sustentam que, se ficássemos na zona de conforto, veríamos nossa felicidade se reduzir e nosso tédio aumentar pela falta de incentivos estimulantes.
Em suma, por um lado, apontam que sair da zona de conforto é a entrada para o sucesso e, por outro, que permanecer na zona de conforto gera menos felicidade do que apostar no desconforto.
O problema dessas teorias é que elas não consideram e invisibilizam o contexto social, buscando respostas e compromissos individuais para resolver problemas estruturais comuns à grande maioria das pessoas que vivem na sociedade. São estratégias individualistas que se concentram exclusivamente em colocar a responsabilidade no indivíduo, deixando de lado a análise das condições de produção e das responsabilidades dos Estados que produzem e reproduzem as desigualdades sociais.
Em relação a isso, parece importante ser cauteloso ao afirmar que ao “sair da zona de conforto” encontramos um espaço para crescimento pessoal e de maior rendimento. Primeiro, porque não há evidências de que isso seja necessariamente assim e tal exigência pode gerar desconfortos e frustrações maiores do que os que se supõe evitar.
Segundo, porque mais do que um convite estas teorias soam como uma afirmação imperativa e pergunto-me de que lugar é dito às pessoas o que elas têm de fazer e com base em que benefícios para pedir que assumam certos riscos.
Terceiro, faz parecer que quem não sai da sua zona de conforto é porque não quer, tornando-se uma questão meramente voluntarista que também torna invisíveis, como apontamos anteriormente, as condições macro e microcontextuais.
Quarto, culpabilizam as pessoas que não saem de sua zona de conforto ou mesmo aquelas que, diante da imprevisibilidade e turbulência de seu ambiente, procuram o que pode diminuir o desconforto que ele gera, ou seja, aquelas que querem entrar em uma área que lhes oferece maior conforto e segurança.
E por último, porque equiparar maiores rendimentos com o crescimento pessoal é, no mínimo, questionável.
Não há uma referência exata de quem foi o primeiro a relacionar o conceito de zona de conforto ao experimento realizado em 1908 pelos psicólogos Robert M. Yerkes e John D. Dodson. Na verdade, os autores nem falam em zona de conforto. O que eles investigaram foi como hábitos simples são gerados no comportamento dos camundongos.
Yerkes e Dodson investigaram a modificação do comportamento e a formação de hábitos em camundongos com base na relação entre a força do estímulo e a taxa de aprendizado. Para fazer isso, eles realizaram um estudo experimental no qual treinaram camundongos para escolher entrar em uma caixa branca em vez de uma preta. Cada vez que os ratos escolhiam a caixa preta, eles aplicavam um choque elétrico, cujo nível variava entre fraco, médio e alto.
O que os pesquisadores viram foi que se o estímulo (choque elétrico) fosse muito fraco ou muito alto, não funcionava como motivação para escolher a branca ao invés da preta. Além do mais, se fosse muito alto, tornava-se prejudicial para o rato. Portanto, concluíram que um estímulo com intensidade média era muito mais favorável para a aquisição do hábito (de entrar na caixa branca) do que as demais intensidades. Observaram também que conforme aumentava a excitação produzida pelo estímulo aversivo, ou seja, conforme aumentava a intensidade do choque elétrico, aumentava também a taxa de resposta desejada, ou seja, o rato entra mais vezes na caixa branca do que na preta. No entanto, este último ocorreu até certo ponto, pois se gerassem muita excitação, o rato não conseguiria realizar o comportamento desejado. Esta última é conhecida como lei de Yerkes e Dodson. A conclusão geral do estudo foi que um hábito facilmente adquirido é aquele que não requer associações complexas, enquanto a formação de hábitos mais difíceis requer estímulos relativamente fracos e moderados.
Pelas características mencionadas, pode-se dizer que o experimento está mais próximo das teorias comportamentais do que do conceito de zona de conforto. Além disso, no experimento, os pesquisadores levaram em consideração variáveis contextuais, como condições de discriminação visual tais como o brilho das caixas.
Mudanças pessoais são necessárias, primeiro, se forem desejadas. Depois, se existem padrões de comportamento ou atitudes que nos causam desconforto e/ou que nos levam a consequências que não queremos. Também quando temos dificuldades para atingir nossos objetivos ou metas pessoais.
Uma possível alternativa para sair da zona de conforto pode ser:
● Refletir sobre as áreas ou aspectos em que quero me desenvolver
● Avaliar quais comportamentos preciso melhorar e incorporar e quais reduzir ou eliminar
● Avaliar as habilidades que possuo, as que desejo melhorar e as que preciso adquirir e desenvolver.
● Trabalhar a tolerância à incertezas e a frustração.
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Janeiro 2023). Conceito de Zona de Conforto. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/zona-de-conforto/. São Paulo, Brasil.