Conceito de Tragédia

Lilén Gomez | Setembro 2022
Professora de Filosofia

TragediaA tragédia constitui uma categoria literária no contexto do fenômeno social do teatro na Grécia antiga, para expor histórias verídicas, de ficção ou que mesclam elementos de ambas, geralmente caracterizadas por um clima de aflições e fatalidades. Da mesma forma, o termo descreve eventos graves da realidade social cotidiana.

A origem histórica da tragédia grega

A tragédia, como gênero artístico, se origina em Atenas por volta do século VI a.C., atingindo o seu ponto de maior esplendor no século V a. C. do qual segue o início de seu declínio. É uma expressão que se desenvolve no contexto da polis, cidade, uma vez consolidadas determinadas condições materiais.

No plano cívico-religioso, a vida pública ateniense experimentava um clima de liberdade e autonomia, que se expressava de forma festiva. Esse sentido de festividade estava ligado a uma relação de familiaridade com os deuses, ou seja, a vida religiosa não constituía uma esfera separada da vida pública, profana, pois havia uma estreita ligação entre as duas.

A partir da incorporação da figura de Dioniso ao panteão, Atenas abre espaço para a oferta de festas comemorativas para adorá-lo, de tal forma que, nas festas dionisíacas, a força do culto é exaltada como elemento distintivo do corpo cívico ateniense.

Já no plano poético-discursivo, as festas introduzem um elemento decisivo no desenvolvimento da tragédia: a noção de drama, apoiada na mimésis, ou seja, na imitação.

Por último, as festividades dionisíacas abrem a possibilidade de um espaço de encontro cívico, que será a condição para o desenvolvimento do teatro, como espaço em que os indivíduos se reúnem para contemplar algo. Assim, a confluência dessas três condições —o sentido da festa, o elemento poético da mimesis e a infraestrutura teatral— torna-se o ponto de partida propício para o desenvolvimento da tragédia grega.

Estrutura da tragédia grega

A estrutura dramática da tragédia apresenta diversos elementos: começa com um prólogo, no qual é apresentado um resumo da trama da peça, mostrando o passado do herói trágico, que é o protagonista, até chegar ao seu presente.

Em seguida, prossegue o canto do coro (párodos), que dá origem aos episódios a partir dos quais se articula a trama, representada pelos atores. O coro dialoga ao longo da performance com os personagens, expressando seus pensamentos, e intervém entre cada episódio para apontar o curso dramático da ação, por meio de ideias de teor filosófico e moral. O coro e o herói alternam entre cantar e recitar, expondo assim o debate contra uma determinada questão conflitiva (agon), como a transgressão de uma norma, a vingança, a justiça, etc. Por fim, a tragédia conclui com o êxodo (exodos), após o último episódio, em que o herói toma consciência de sua própria responsabilidade pelos atos ocorridos anteriormente.

Esquilo, Sófocles e Eurípides foram autores reconhecidos como referência do gênero trágico grego, ao longo da história. Entre as obras trágicas mais paradigmáticas, podemos citar Prometeu Acorrentado, de Esquilo; Antígona e Édipo Rei, de Sófocles; ou Medeia, de Eurípides.

A função social da tragédia

Em sua Poética, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) aponta a função “pedagógica” da tragédia, por meio dos elementos de mimesis e kathársis. O traço formal característico da tragédia é a representação por imitação (mimesis) de uma ação que, pela compaixão e terror que desperta no espectador, provoca um sentimento de libertação de tais sensações (kathársis). A tragédia imita uma ação (que é realizada pelos personagens), cuja plausibilidade reside no fato de que a sucessão de atos é racionalmente necessária, devido à sua própria estrutura. À medida que a trama avança, revela-se um mal que consiste no resultado racional de uma ação necessária realizada pelo herói trágico e que, inevitavelmente, ele acaba sofrendo em primeira pessoa.

O sofrimento do herói leva o espectador ao sentimento de medo, por identificar-se com ele, e de que isso lhe aconteça em sua própria carne. Tal medo o faz sentir pena do herói e, consequentemente, sentir o desejo de evitar o mal. O que acontece, então, é que com esse desejo ocorre uma transformação moral do espectador, que tende a corrigir as paixões que levariam ao infortúnio como o observado no sofrimento do herói trágico.

Aí reside o valor catártico da tragédia, que se traduz em valor prático e político, pois provoca no espectador um aprendizado para a vida. Tal aprendizagem só é possível dada a distância estética que separa o espectador dos atos que a tragédia imita, pois, se a distância contemplativa fosse anulada, não poderia ocorrer a catarse, mas apenas uma sensação de medo.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Setembro 2022). Conceito de Tragédia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/tragedia/. São Paulo, Brasil.

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