O sucesso é um acontecimento pessoal satisfatório por meio do qual avançamos ou alcançamos um objetivo. É resultado de uma construção sociocultural subjetiva baseada nos critérios particulares de seu protagonista e influenciado pelo reconhecimento do ambiente testemunhal, capaz de se estender ao nível do grupo quando se compartilha ou trabalha conjuntamente sobre um mesmo interesse. Neste artigo analisamos o conceito de sucesso a partir das abordagens da meritocracia e da justiça social, em termos das circunstâncias e possibilidades que cada pessoa tem e percebe o sucesso dentro do funcionamento da sociedade.
Meritocracia é uma teoria que sustenta que o sucesso individual é o resultado do mérito pessoal. De acordo com essa teoria, as pessoas que se esforçam, trabalham duro e são talentosas têm mais chances de sucesso. Em geral, em uma sociedade capitalista, o sucesso é medido pelo nível socioeconômico e pelo poder. Portanto, quem tem maior poder aquisitivo e poder de impor suas decisões aos demais tende a ter mais oportunidades de sucesso.
O problema dessa ideia, no entanto, é que ela dá a ilusão de que quem se esforçar o suficiente pode conseguir, ignorando a desigualdade de oportunidades e as condições materiais de existência. Nessa perspectiva, a culpa recai sobre aquele que não o alcança, atribuindo o insucesso a uma série de características pessoais como falta de vontade, talento ou habilidade. Isso torna invisível a desigualdade sócio estrutural que o próprio sistema econômico produz e reproduz. Assim, esta teoria do sucesso não leva em conta os privilégios ou desvantagens que existem entre as pessoas desde o nascimento, como seu nível socioeconômico, origem, gênero, orientação sexual e outros fatores que podem influenciar suas chances de sucesso. Os fatores acima podem afetar a capacidade do indivíduo de acessar oportunidades e recursos e, portanto, afetar a conquista do sucesso na vida.
Por exemplo, a diferença salarial entre homens e mulheres no mundo é cada vez mais conhecida, onde para o mesmo tipo de trabalho, os homens recebem mais do que as mulheres. Este é um exemplo claro de como nascer com certas características contingentes, como ser homem ou mulher, pode ajudar ou atrapalhar certas oportunidades, como receber um salário mais alto.
Uma alternativa à teoria da meritocracia é a perspectiva da justiça social, que se concentra na justiça e na igualdade de oportunidades para todos os membros de uma sociedade, independentemente de sua origem, gênero, orientação sexual ou status socioeconômico. Nessa perspectiva, reconhece-se que existem desigualdades estruturais na sociedade que limitam as oportunidades de determinados grupos e que, para alcançar a justiça social, devem ser implementadas políticas e medidas públicas que reduzam essas desigualdades e promovam a equidade.
A justiça social questiona também a ideia de que o sucesso individual se deve apenas ao mérito pessoal, reconhecendo que o sucesso e o insucesso dependem em grande medida das oportunidades e recursos de que cada um dispõe, bem como de fatores estruturais e contextuais que influenciam o alcance de metas e objetivos. Por isso, tem como foco criar um ambiente em que todos tenham oportunidades iguais de desenvolver seu potencial e alcançar seus objetivos pessoais, independentemente das condições em que nasceram.
A mídia muitas vezes reforça as ideias e valores associados à meritocracia. É comum encontrar filmes, séries e propagandas que promovem a ideia de que quem tem sucesso merece porque o alcançou com perseverança, esforço e dedicação. Por exemplo, se pensarmos em anúncios de produtos como relógios, perfumes ou carros, podemos perceber como é veiculada a ideia de que a aquisição desses bens é um sinal de sucesso, o que pode gerar expectativas irrealistas e reforçar a crença de que o sucesso depende do poder de compra. Outro exemplo claro de como a mídia influencia nossa forma de perceber o sucesso são as redes sociais. Por meio de aplicativos onde o conteúdo visual é compartilhado, pessoas que viajam para lugares exóticos e caros ou que possuem um estilo de vida com alto poder aquisitivo são muitas vezes percebidas como bem-sucedidas.
Por outro lado, a mídia também pode contribuir para perpetuar estereótipos e preconceitos que limitam as oportunidades de determinados grupos. Por exemplo, a representação das mulheres na mídia é muitas vezes limitada aos papéis tradicionais de gênero, o que pode transmitir a ideia de que as mulheres têm menos potencial e menos oportunidades de sucesso do que os homens. Da mesma forma, a representação de determinados grupos étnicos e culturais pode ser tendenciosa e contribuir para perpetuar preconceitos e estereótipos que limitam suas chances de sucesso.
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Julho 2023). Conceito de Sucesso. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/sucesso/. São Paulo, Brasil.
