A responsabilidade consiste em um valor ético em virtude do qual os sujeitos reconhecem e assumem as consequências da realização de um ato, ou seja, assumem a responsabilidade para com os outros, se encarregando da atenção e do cuidado dos demais. Uma pessoa responsável é aquela que está comprometida com uma determinada demanda, por exemplo, o desempenho de um trabalho.
Aristóteles dedicou uma importante parte de sua obra à ética, como um campo de pensamento cuja finalidade é responder à questão de como viver bem. A questão da responsabilidade diz respeito a preocupações éticas. Em linhas gerais, na ética aristotélica, para que uma ação seja de responsabilidade de um indivíduo, é necessário que ela seja voluntária e realizada por escolha. Um ato voluntário é aquele que um indivíduo realiza espontaneamente, em oposição aos atos realizados com relutância.
Todo ato voluntário requer previamente uma escolha, isto é, um desejo deliberado não movido pelas paixões, mas pelo intelecto. Assim, uma ação é de responsabilidade do agente somente se for escolhida pelo agente. Nesse sentido, as ações de crianças e animais não seriam responsáveis, pois não advêm de escolhas deliberadas, mas da satisfação imediata de apetites. Consequentemente, se trata de uma teoria da responsabilidade baseada na racionalidade.
Na Modernidade, o filósofo Immanuel Kant (1724-1804) recupera a importância da escolha em sua teoria da responsabilidade, tomando como ponto de partida o livre arbítrio humano. Esta consiste na capacidade de escolher independentemente da sensibilidade, ou seja, sem ser constrangido por qualquer determinação emocional imposta pela natureza (como no caso da vontade animal).
Uma ação, para ser moral, deve ser livre e, para ser livre, não pode ser reduzida ao âmbito fenomênico, mas deve ter um caráter inteligível. O homem é a causa de seus atos em virtude de sua própria racionalidade.
Assim, a relação entre racionalidade e vontade também aparece na teoria kantiana: a responsabilidade diz respeito apenas aos seres racionais, que possuem a faculdade da razão prática, pela qual são capazes de decidir agir de acordo com as leis morais.
Ao mesmo tempo, o livre-arbítrio é aquele que se submeteu às leis morais, pois obedecer à lei moral é responder a uma exigência que a vontade impõe a si mesma. Um homem é, então, plenamente responsável quando é livre, isto é, quando sua vontade obedece à lei moral e, portanto, é autônoma.
Hannah Arendt (1906-1975) e Emmanuel Lévinas (1906-1995) são dois autores de referência para pensar hoje uma teoria da responsabilidade.
Ao longo de sua obra, Arendt insiste na necessidade de que os homens assumam a responsabilidade na medida em que ocupam um lugar no mundo, junto com outros homens. A condição humana está intimamente ligada à obrigação de tomar conta do mundo. A teoria da responsabilidade de Hannah Arendt —assim como a de Lévinas— foi profundamente marcada pelo evento histórico de genocídio perpetrado pelos regimes totalitários do século XX, em particular, o nacional-socialista (nazismo).
Pelo simples fato de fazer parte da humanidade, nossa condição humana exige que assumamos a responsabilidade pelo passado, na medida em que somos responsáveis de que os crimes perpetrados não se repitam no presente, assumindo a responsabilidade pelas consequências dos atos que não cometemos nós mesmos, mas nossos semelhantes.
No caso de Lévinas, a responsabilidade com o outro é essencial à ética. A alteridade, que torna o outro radicalmente diferente, está na base de sua metafísica. Para o filósofo, a responsabilidade nunca depende da própria escolha, mas sempre do encontro com o outro, que nos constitui como seres responsáveis.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (ago., 2022). Conceito de Responsabilidade. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/responsabilidade/. São Paulo, Brasil.