Personalidade é a construção individual que cada pessoa cria baseada em fatores socioculturais, biológicos, físicos e genéticos. Identifica as singularidades de cada pessoa dentro da sociedade, manifestando-se em sua forma de se comportar.
O que torna as pessoas diferentes umas das outras ou que em uma mesma situação faz cada uma agir de uma forma particular? Por que às vezes explicamos ou até justificamos o comportamento de uma pessoa com base em seu jeito de ser? Por que fazemos conjecturas e antecipamos as reações que os outros podem ter? É comum atribuir motivos internos a um dado comportamento, tais como os pensamentos e emoções das pessoas. Por exemplo, quando dizemos que “Matías grita com Marco porque é agressivo” e que “Camila se preocupa demais porque está nervosa” estamos explicando seu comportamento com base em um traço interno: o primeiro, baseado na agressividade, e o segundo, baseado no nervosismo.
Quando escolhemos dizer algo a uma pessoa porque ela é mais compreensiva do que outra, também estamos orientando nosso comportamento com base em características pessoais. Da mesma forma, quando nos referimos a nós mesmos a partir de características que consideramos nos definir, estamos nos referindo a aspectos internos. Todas essas questões têm a ver com a personalidade. Assim, a personalidade pode ser compreendida como uma organização dinâmica da psique que se expressa em padrões individuais relativamente estáveis de comportamento, pensamento e emoção. A análise dessas diferenças individuais é precisamente a análise da personalidade.
Embora a pesquisa sobre personalidade tenha sido um dos campos de especialização onde ocorreu uma das maiores produções de conhecimento dentro da psicologia, os especialistas não chegaram a uma definição unânime. Isso não deveria nos surpreender porque é o que comumente acontece com a maioria dos constructos psicológicos.
Na busca por compreender o que nos torna únicos e por que agimos de determinada forma, os pesquisadores desenvolveram diferentes instrumentos que permitem analisar as diferenças individuais. Hoje, a teoria explicativa que adquiriu grande relevância na comunidade de especialistas é o Modelo dos Cinco Grandes. Criada pelos referentes McCrae e Costa, a teoria defende que a personalidade é composta por cinco grandes dimensões ou fatores básicos, nos quais as pessoas se situam em algum ponto dentro do espectro que cada fator representa. Portanto, existem tantas combinações possíveis quanto pessoas no mundo. Os autores sustentam que a composição particular da personalidade, ou seja, a forma como as dimensões se combina, permanece estável ao longo da vida.
– Neuroticismo: Pessoas com altos níveis de neuroticismo são mais instáveis emocionalmente e mais sensíveis a estímulos adversos do que aquelas com níveis baixos. Os últimos são mais otimistas
– Abertura à experiência: Refere-se à tendência de experimentar coisas novas, de fazê-las de forma criativa e original, de modificar ativamente o contexto de acordo com as próprias necessidades. Uma pessoa com muita abertura para experimentar é aquela que aceita desafios e enfrenta situações desconhecidas. Enquanto uma pessoa com pouca abertura para experiências vai preferir ficar com o que já conhece e fazer as coisas de forma mais rotineira.
– Responsabilidade: Pessoas que se esforçam para atingir seus objetivos, que refletem e são mais organizadas, tendem a ser mais responsáveis do que aquelas que não são tão responsáveis e preferem a espontaneidade.
– Extroversão: Quem tende a buscar estímulo social, ou seja, quem gosta de interagir com as pessoas, se envolver em atividades sociais ou praticar esportes em grupo, é mais extrovertido do que quem prefere ficar sozinho ou fazer atividades individuais.
– Amabilidade: Aquelas pessoas que tendem a ser mais condescendentes, a querer que os outros gostem delas, são mais gentis do que aquelas que criticam ou questionam outras pessoas.
Embora as dimensões descritas acima forneçam uma base útil para entender a personalidade, elas não descrevem totalmente a idiossincrasia de cada pessoa, pois não explicam as diferenças mais sutis que nos tornam únicos. Para os autores, os cinco grandes fatores são universais, ou seja, encontram-se em todas as pessoas, independentemente da cultura em que se desenvolvem.
Nesse sentido, poderíamos pensar que é a partir da interação entre as tendências inatas e o contexto em que nos encontramos, que vamos modulando nossa posição no espectro das diferentes dimensões.
Existem pesquisas que estudaram o desenvolvimento de crianças e sugerem que desde o nascimento trazemos tendências que marcam nossa personalidade. Com a socialização e as diferentes experiências, algumas tendências se desenvolvem e se acentuam, fazendo parte da personalidade do indivíduo e outras, por não terem sido reforçadas pelo contexto, perdem força. Portanto, a conformação da personalidade implica o resultado de uma complexa interação entre fatores disposicionais herdados e o contexto social e cultural do qual fazemos parte.
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Janeiro 2023). Conceito de Personalidade. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/personalidade/. São Paulo, Brasil.