A incerteza é a falta de confiança, ou seja, de certeza ou de um conhecimento sobre determinada situação. Em outras palavras, falamos de condições de incerteza quando os resultados possíveis de qualquer ação são indeterminados e imprevistos, de modo que não podem ser calculados com exatidão e estabelecidos antecipadamente.
De modo geral, é possível afirmar que todo conhecimento relacionado ao mundo supõe um grau de incerteza, pois o ser humano não é capaz de acessar verdades definitivas. No campo das ciências empíricas, o resultado de uma medição não é considerado completo se não indicar uma margem de incerteza associada, pois todas as medições envolvem erros (derivados dos próprios instrumentos de medição, do operador, etc.), entre os quais alguns podem ser corrigidos, mas outros são impossíveis de eliminar. Por outro lado, na área de estatística e probabilidade, também são consideradas faixas de incerteza, uma vez que nenhuma previsão é completamente certa.
Teorema desenvolvido pelo físico alemão Werner K. Heisenberg (1901 – 1976), considerado um dos pilares fundamentais da Mecânica Quântica. De acordo com esse princípio, é impossível realizar a medição precisa e simultânea das variáveis físicas pelas quais os fenômenos subatômicos são descritos, o que leva a uma falta de certeza no conhecimento do mundo natural. Então, há uma indeterminação natural que é inevitável.
Como resultado da publicação da pesquisa de Heisenberg, não apenas o campo da física foi afetado, mas também o da epistemologia e da própria filosofia, uma vez que a própria noção de objetividade científica tradicional foi questionada, em busca de sua substituição por uma noção de objetividade probabilística.
A incerteza desempenhou um papel decisivo nas origens da filosofia, e permanece como motor da questão filosófica, assim como do deslumbramento diante do mundo. A atividade do pensamento decorre da ignorância, como proclama a conhecida frase do filósofo grego Sócrates: “Só sei que nada sei”. Em muitas de suas obras, Platão (427 a.C. – 347 a.C.), seu discípulo, apresenta os diálogos entre Sócrates e diferentes interlocutores, nos quais se dá o que se conhece como “questão socrática” ou “método socrático”. O personagem de Sócrates conduz um processo dialético por meio de perguntas e respostas, questionando seu interlocutor sobre o que é determinado conceito em questão. O ponto decisivo para o conhecimento então, segundo Sócrates, é assumir a incerteza como princípio, na medida em que quem acredita já saber tudo, a rigor, não é capaz de investigar nada. Assim, a incerteza ou a dúvida foram, ao longo da história do pensamento, estados de espírito privilegiados para iniciar os processos de interrogação e procura de respostas, que nos permitiram formular hipóteses sobre o mundo em geral.
Da mesma forma, na obra de René Descartes (1596 – 1650), considerado um dos pais da filosofia moderna, podemos observar a função metódica da dúvida radical, assumida como ponto de partida. A dúvida radical consiste em duvidar de absolutamente tudo de que não temos certeza, para finalmente chegar ao conhecimento indubitável.
De modo geral, pode-se afirmar que a rejeição do preconceito e a aceitação da incerteza são comuns à filosofia em seus vários períodos, pelo menos como um primeiro passo. No caso das Ciências Sociais, da mesma forma, é consenso que não é possível determinar o conhecimento absoluto da realidade social e política sem que seja condicionado pelo olhar do observador.
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Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Incerteza. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/incerteza/. São Paulo, Brasil.