A história das emoções é uma nova forma de analisar como as experiências dos seres humanos nem sempre são “sentidas” da mesma forma ao longo do tempo. Provavelmente, por exemplo, os sentimentos experimentados diante da morte têm sido uma questão mais impactante na contemporaneidade do que alguns séculos atrás, visto que, na Idade Média, por exemplo, o tempo médio de vida era menor e as chances de se morrer por sofrer de alguma doença ou acidente eram muito elevadas. As pessoas estavam mais acostumadas a sofrer com perdas humanas do que poderíamos esperar hoje quando alguém próximo a nós morre.
Peter Burke começa uma seção de seu livro se perguntando se as emoções têm uma história. Parece que a resposta imediata é não, ou pelo menos é a frase mais repetida por historiadores cuja tinta se torna mais ‘tradicional’. No entanto, é o próprio autor que traz à tona algumas obras clássicas que, vinculadas a uma perspectiva cultural, têm levado o assunto com maior sensibilidade em suas investigações. Como exemplos imediatos, cita os trabalhos de Burckhardt, Huizinga e Lucien Fevbre como obras que contemplavam, dentro de seus repertórios temáticos e períodos de estudo, a anexação de temas como a raiva, a inveja, o amor ou as características da alma apaixonada (1).
Mais recentemente, outros autores têm respondido sim à história das emoções ao narrar o medo ou as lágrimas, como é o caso de Jean Delumeau com ‘La peur en Occident ‘(2), e mais tarde Piroska Nagy com a obra ‘Le don des larmes au Moyen age’ (3). Embora se discuta a existência de uma tradição historiográfica consolidada em torno desse campo de estudos, há, sem dúvida, pesquisas substanciais e aprofundadas que têm tomado a questão do estudo dos sentimentos como um ponto importante em sua agenda acadêmica, especialmente a partir da última década do séc. século XX e a primeira do século atual.
Embora as propostas teóricas de cada um desses autores pressionem particularidades conceituais díspares, é importante enquadrá-las em um debate mais amplo que se liga justamente ao dilema fundamental da história das emoções. Nas palavras de Burke, esse debate se coloca a respeito da escolha do objeto de estudo, isto é, se consideram a possibilidade de tornar históricas as emoções. O exposto acima pode ser conectado com uma reflexão complementar que gira em torno de considerar as emoções como construções sociais, ou, por outro lado, entendê-las como fatos inerentes à natureza humana, isto é, ponderar mais sobre uma interpretação biológica.
Há uma proposta baseada na emocionologia histórica, entendida como “o estudo das regras de expressão e ocultação das expressões que, explícita ou implicitamente, regulam a vida cotidiana dos indivíduos”(4). Está focado em detectar e analisar mudanças no “estilo” emocional dentro das sociedades propondo que tais mudanças ocorram de diferentes formas. Por um lado, enfatiza-se as emoções em geral, depois olhamos para a importância relativa de sentimentos específicos e, finalmente, para o controle e “gestão das emoções”.
Esta proposta poderia ser atribuída à perspectiva maximalista que Burke defende, uma vez que esta “emociologia” histórica está interessada de maneira especial nas mudanças que podem ser perceptíveis através das normas que são institucionalizadas e que penetram na cultura popular. Assim, a categoria analítica sobre gestão emocional, ou prática emocional, volta-se para o uso social que homens e mulheres podem fazer de um sentimento através do seu controle, dando origem à construção social específica a que aludimos anteriormente.
Atrelado ao que foi dito, as emoções podem ser verbalizações emocionais que alteram o humor ao serem expressas, ou seja, são afirmações cujo ponto nodal está centrado na linguagem: “Uma declaração de amor, por exemplo, não é uma mera expressão de sentimentos. É uma estratégia para estimular, intensificar ou mesmo transformar os sentimentos da pessoa amada” (5).
Por fim, são os meios que expressam conjuntos de emoções normativas que nos permitem compreender o que está emocionalmente permitido ou não em determinado época, de tal forma que a história das emoções subsidia a análise de um uso social específico que se interioriza nos indivíduos no espaço-tempo. Com base nesses preceitos, María Tausiet e James Amelang se propuseram a buscar e analisar a emoção realmente sentida a partir de espaços individuais, traduzida em registros que permitissem compreender aspectos cotidianos da Idade Moderna, focando na análise de fontes como como cartas, que se tornam extremamente ricas em informações sobre este último tema (6).
Artigo de: Karina Mora Mendoza. Graduado em História pela UMSNH, Professora e Doutora pelo Colégio de Michoacán. Realiza pesquisas históricas sobre o século XIX em relação ao discurso e uso dele em temas como a história das mulheres e a construção da Nação.
Referencia autoral (APA): Mora Mendoza, K.. (Maio 2023). Conceito de História das Emoções. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/historia-emocoes/. São Paulo, Brasil.