Um filósofo ou uma filósofa é alguém que possui um amplo conhecimento sobre vários tópicos, particularmente, aqueles temas que identificamos com questões fundamentais sobre o mundo como, por exemplo, questões sobre a origem ou significado do universo, sobre o tempo, sobre a vida e a morte, entre outras. Ao longo da história, a figura do filósofo foi associada à do professor, que orienta seus discípulos para que eles mesmos formulem suas próprias questões, bem como à do governante ou conselheiro político, pois seu conhecimento lhe permitiria uma melhor aproximação ao bem da comunidade.
Na Grécia antiga, certos personagens identificáveis na vida pública no contexto da polis eram considerados filósofos, não por seu pensamento abstrato, mas fundamentalmente, pela prática de modos de vida particulares. Por volta do século III d.C., Diógenes Laércio documenta em sua obra ‘Vidas e doutrinas dos Filósofos ilustres’ as biografias de inúmeras personalidades consideradas filósofos e estudiosos em seu tempo.
Apontou-se que o surgimento histórico da figura do filósofo está relacionado à ordem política nas cidades-Estado, pois a filosofia é uma atividade que se desenvolve como consequência de uma certa complexidade social. Parece, com base em dados historiográficos, que há uma relação entre a origem da prática filosófica e os contextos urbanos, que não tiveram a mesma centralidade nos espaços agrários.
A figura de Sócrates, modelo paradigmático de filósofo na história do pensamento ocidental, apresenta a filosofia como um autoconhecimento —consubstanciado na máxima “conhece-te a ti mesmo”—, que avança através de questionamentos, partindo da própria ignorância. O proceder socrático, no desenvolvimento da filosofia pelo diálogo e, principalmente, pelo questionamento, deu origem à associação do papel do filósofo ao do professor e guia, ou seja, há, desde a sua criação, uma estreita ligação entre a prática filosófica e o ensino ou a prática pedagógica.
O conhecimento filosófico, do ponto de vista de Sócrates, deve ser um conhecimento crítico, voltado para o bem da sociedade. Platão retoma essa ideia em sua obra, ao caracterizar o papel do filósofo na polis, tal como apresentado na República, em um de seus escritos mais fundamentais. Para Platão, a figura do filósofo é de inescapável relevância no contexto político, pois quem governa deve ser capaz de dirigir o Estado de maneira virtuosa e, por sua vez, é o filósofo quem melhor conhece a virtude, pois foi educado nela. O filósofo, conhecendo o que é bom e verdadeiro, sabe melhor do que qualquer outro homem como dirigir a comunidade para o seu bem-estar.
O estado ideal é, então, aquele que é governado por um rei filósofo. Caso contrário, o mais provável é que o Estado se constitua como Estado militar ou comercial, deslocando seus interesses do bem comum, na medida em que quem o governa conheceria apenas uma parte da virtude.
A relação entre o papel do filósofo e a política não se limitou ao pensamento grego, mas constitui uma constante na história do Ocidente, chegando até os dias atuais. É comum, ainda hoje, que filósofos sejam convocados pelos governos como conselheiros na tomada de decisões públicas. Nesse sentido, deve-se notar que a figura do intelectual em geral, desenvolvida durante a modernidade, assumiu forte relevância na participação política ativa.
Atualmente, a disciplina filosófica adquiriu um caráter institucional, por isso é raro encontrar “filósofos” dedicados exclusivamente ao pensamento, à maneira de Sócrates. O trabalho filosófico, hoje, consiste em uma prática profissional, cujo status é análogo ao de outras profissões, que se exerce no contexto de determinadas áreas como, principalmente, a universidade.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Filósofo. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/filosofo/. São Paulo, Brasil.
