A noção de etnocentrismo refere-se à expressão da crença na superioridade da própria cultura sobre a de outros grupos étnicos ou populações humanas. Por sua vez, define-se como etnocêntrico, como adjetivo, aquele comportamento ou atitude que considera sua posição cultural como central, valorizando negativamente as diferenças culturais em relação a outros grupos sociais. No âmbito das Ciências Sociais —como a Sociologia e, particularmente, as Ciências Antropológicas—, o conceito de etnocentrismo tem sido amplamente debatido em relação à questão da interculturalidade e o problema do racismo. Tem sua origem no estudo dos fenômenos sociais que se manifestam na interação entre grupos de indivíduos, caracterizados por lógicas de pertencimento e exclusão.
Ao longo da história, o homem ocidental construiu uma imagem de si mesmo como herdeiro do legado da razão grega, que, por sua vez, se consolidou na oposição à irracionalidade dos povos “bárbaros” da Antiguidade. O mito fundacional greco-romano, na Idade Média, foi retomado pelo cristianismo, cujo regime perseguiu os povos considerados pagãos e infiéis. Já na Modernidade, a imagem do homem ocidental foi redefinida em termos de uma universalidade da razão, em virtude da qual se justificava que as culturas caracterizadas como “selvagens” —e, portanto, desumanizadas— fossem submetidas à colonização, no contexto da expansão imperial que o desenvolvimento do capitalismo exigia.
A tradição hegemônica do Ocidente, dessa forma, elaborou um conceito de homem que se apresenta como universal, mas que não deixa de refletir as condições particulares de algumas sociedades, tais como as europeias. Ao apresentar o próprio pensamento como universal, sem considerar as particularidades de outras formas de existência humana, de modo que elas permaneçam invisíveis, na prática, aciona-se um dispositivo de exclusão epistêmica/cognitiva, que sai do campo do conhecimento para uma grande parcela da humanidade. Nesse sentido, várias correntes teóricas têm criticado o etnocentrismo da tradição hegemônica do pensamento ocidental (representado, por exemplo, por pensadores como René Descartes (1596-1650) ou Immanuel Kant (1724-1804), que desenvolveram uma concepção universal do homem, entre tantos outros), por considerar a racionalidade europeia como a única válida ou mesmo a única possível.
Existem diferentes abordagens sobre o tema. Alguns autores defendem que o etnocentrismo cumpre uma função social e cultural positiva, pois preserva a coesão social e a adesão a princípios comuns dentro de um grupo. Nesse sentido, entendem o etnocentrismo como uma diretriz social que serve para a sobrevivência do grupo, promovendo a cooperação e a defesa entre seus membros. Por outro lado, visões críticas do etnocentrismo enfatizam a dimensão violenta desse fenômeno, pois leva à marginalização, exclusão e discriminação de outros indivíduos por suas características ou etnia. Dessa forma, o sentido de identidade, como forma de integração coletiva, não deve ser confundido com o etnocentrismo, como forma de exclusão do outro cultural, baseado na hostilidade ao diferente.
Autores como o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) apresentaram o etnocentrismo como inerente à condição humana, na medida em que cada cultura, para não perecer, busca se distinguir das demais. A tese do etnocentrismo como constante cultural proposta por Lévi-Strauss foi criticada pelo antropólogo Clifford Geertz (1926-2006), pois implicaria supor que as culturas se comportam como conjuntos fechados, enquanto, na prática, o mundo não é dividido em grupos separados por oposições nítidas, mas relacionados entre si na forma de uma “colagem”. Nesse sentido, Geertz entende que o mundo caminha para um acordo universal sobre valores e questões fundamentais, que transcendem as barreiras culturais.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Etnocentrismo. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/etnocentrismo/. São Paulo, Brasil.