A palavra aspiração, deriva do latim aspiratio, cujo significado consiste no exercício de levar ar aos pulmões e tem, em sentido mais amplo, a incorporação de algo externo a si mesmo. Em termos sociais, entendemos por aspirações aqueles desejos ou reivindicações dos seres humanos que fazem parte de um grupo. É influenciado, em maior ou menor grau, pelo nível cultural que os indivíduos adquirem por meio de suas famílias, seus grupos de pares, grupos de referência, relacionamentos interpessoais e instituições sociais (por exemplo, a escola). Quando as aspirações são levantadas tendo em conta, ao mesmo tempo, a possibilidade da sua realização concreta num determinado período, são denominadas metas ou expectativas.
As aspirações podem ser, por exemplo, de natureza pessoal, quando se referem a objetivos que uma pessoa tem para si —como aprender um idioma ou praticar um novo esporte—, ou de natureza profissional —como alcançar um determinado título ou posição no emprego, entre outros.
Seguindo o sociólogo francês PH Chombart de Lauwe (1913-1998), as aspirações humanas podem ser consideradas como objeto de estudo da sociologia, na medida em que estão sujeitas a uma dinâmica particular de satisfação. As necessidades humanas, quando entendidas como aspirações, ao longo do tempo, tornam-se progressivamente obrigações. Porém, uma vez satisfeita a referida obrigação com seu cumprimento, ela é substituída por uma nova aspiração, que passa pelo mesmo processo até se tornar outra obrigação a ser satisfeita. Em outras palavras, as aspirações se transformam ao longo do tempo, tornando-se necessidades que, quando satisfeitas, dão origem a novas aspirações. Dessa forma, a formulação de expectativas se apresenta de forma ilimitada.
As aspirações estruturam-se sempre no marco das classes sociais, nas quais se compartilham traços culturais comuns, aprendidos através da socialização primária, no seio da família e nos primeiros anos de educação formal. A transmissão de valores, objetivos e atitudes, que ocorre durante os processos de socialização, modula progressivamente os interesses, aspirações e expectativas dos indivíduos que fazem parte desses processos. A posição de classe é, portanto, ordenadora das aspirações individuais.
No contexto do sistema de produção capitalista, as aspirações aparecem intimamente ligadas a uma lógica mercantil. Nesse sentido, quando as aspirações se articulam em torno da mercadoria (isto é, aspira-se a possuir determinado objeto), elas recebem um significado dos consumidores, que é independe do significado original recebido de seus próprios produtores. Tal significação consiste em um valor simbólico que se agrega, como valor adicional, aos valores de troca e de uso. Nessa perspectiva, a aspiração dos cidadãos, enquanto consumidores, ao acesso a determinados bens, a rigor, explica-se pela aspiração ao status social que se adquire, simbolicamente, por meio desses bens.
Por exemplo, a aspiração de comprar um determinado modelo de carro, que custa muito dinheiro, é explicada por uma aspiração posterior de fazer parte da classe social que tem poder de compra suficiente para acessar esse nível de consumo. Assim, em última instância, aspira-se ao valor simbólico do automóvel, pois denota, na perspectiva do consumidor, o pertencimento a uma determinada classe social —neste caso, as classes privilegiadas—; ainda que tal pertencimento não se dê de forma objetiva.
As aspirações são, então, condicionadas pelos imaginários coletivos em que, numa cultura de consumo, a posse está associada à identidade das pessoas. Assim, o ter torna-se um núcleo constitutivo do ser, ou seja, a identidade se sustenta com base nas posses materiais.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Abril 2023). Conceito de Aspiração. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/aspiracao/. São Paulo, Brasil.