A antropologia se dedica ao estudo do ser humano, cujos temas são muito variados e altamente conectados. Muitas vezes, para se conhecer um único tema é necessário investigar alguns outros no decorrer de um trabalho de pesquisa. Por exemplo, para responder à pergunta: Como as pessoas que vivem na selva Lacandona se alimentam?, um antropólogo teria que abordar vários subtópicos tais como: quais as espécies animais e vegetais nativas da selva Lacandona?, como as pessoas obtêm esses organismos?, como eles os preparam?, quem pega e prepara a comida?, eles comem coisas que não vêm da selva?, entre outras questões que podem surgir no caminho.
Como os objetos de estudo da antropologia são amplos, tornasse necessário dividi-la em subdisciplinas, e aí temos a antropologia social que estuda a expressão cultural dos grupos humanos contemporâneos. Por exemplo, um antropólogo social estaria interessado na realização de um ritual, nos mitos de uma sociedade ou na forma como certas atividades comerciais são realizadas.
Além disso, existe a antropologia física, que se interessa tanto pelo aspecto biológico quanto pelo cultural do ser humano, por isso são investigados temas como a evolução humana, a composição corporal das pessoas ou a caracterização osteológica de sepulturas antigas, sempre considerando que a Cultura se manifesta em todos os aspectos da vida, portanto, deixaria sua marca na matéria orgânica que compõe nossos corpos, mesmo em várias espécies já extintas (como o Homo neanderthalensis) e não apenas no Homo sapiens.
Da mesma forma, a arqueologia, a etnologia e a linguística são consideradas disciplinas antropológicas. A arqueologia dedica-se ao estudo dos vestígios da cultura material deixados pelas populações na sua passagem pelo tempo, ou seja, o seu objeto de estudo centra-se nas civilizações antigas. A etnologia é muito parecida com a antropologia social, elas têm o mesmo objeto de estudo e metodologias, mas a história de como surgiram é diferente e isso as torna disciplinas separadas. A Linguística investiga as relações da linguagem humana, suas mudanças ao longo do tempo, suas regras e a diversidade de línguas existentes. Em um mesmo projeto podem colaborar investigadores que se desenvolvam nestas disciplinas, pelo que um antropólogo físico pode trabalhar numa escavação descrevendo os sepultamentos encontrados e um arqueólogo as oferendas que os acompanham.
Parte destas disciplinas antropológicas se desenvolvem diferentes áreas que acabam necessitando um certo grau de especialização como, por exemplo, a antropologia simbólica, antropologia política, antropologia económica, a osteologia, somatologia, antropologia genética, antropologia forense, antropologia do corpo, antropologia do parentesco e algumas outras.
Para realizar um projeto de pesquisa, o antropólogo precisa definir especificamente o que vai estudar dentro do amplo espectro de possibilidades e temas que pode abordar. Após defini-lo, ele desenha um plano que inclui atividades como revisão bibliográfica para saber o que outros pesquisadores dizem sobre o mesmo tema, também é considerado o trabalho de campo, ou seja, a viagem que fará até o local onde as pessoas que protagonizam seu estudo vivem ou onde está localizada a escavação da qual participará. Nesta viagem o antropólogo mantém um registro de tudo o que observa e ouve durante sua estada, ou seja, um diário de campo que quanto mais detalhado mais útil será. Terminado o trabalho de campo, o antropólogo deve escrever suas descobertas e conclusões para que outras pessoas possam conhecer mais sobre o tema.
Os estudos antropológicos são importantes porque nos ajudam a entender outros grupos humanos que não compartilham nossa visão de mundo ou tradições. É assim que se promove o respeito pela diferença e a valorização da diversidade humana presente ao redor do planeta.
Conhecer outros grupos humanos também permite desenhar e aplicar políticas públicas ou alocar recursos de forma mais eficaz. Por exemplo, se o governo de algum país busca ajudar uma comunidade indígena com questões habitacionais, ele teria que investigar que tipo de materiais as pessoas eles tradicionalmente usam para construir suas casas e como distribuem o espaço. Isso é importante porque além de considerar os aspectos culturais também da importância necessária as questões ambientais, geralmente conectadas, como, por exemplo, casas de cimento e tijolo com telhado plano concentrariam muito calor e com a alta umidade, característica do clima em regiões florestais onde chove muito, favoreceria a proliferação de organismos como fungos.
Por outro lado, a casa tradicional, feita de materiais como varas de junco e telhado inclinado coberto com folhas de palmeira acaba sendo a mais adequada, mesmo que pareça “antiquada” ou “desconfortável”, pois permite que o ar flua, a água escorra e não se acumule no telhado, além do fato de os materiais serem mais acessíveis no ambiente, a um custo muito baixo e a construção ser mais rápida e fácil do que o outro tipo de casa. Assim, conhecer a forma como as pessoas vivem, as suas necessidades e preocupações permite-nos compreender que estas casas não são “desatualizadas” mas representam a melhor opção face às suas circunstâncias. Conhecer o outro não só facilita a empatia, como também nos leva a valorizar outras formas de vida.
Artigo de: Águeda Muñoz Gerardo. Licenciada em Antropologia Física pela Escola Nacional de Antropologia e História. Mestre em Antropologia pela Universidade Nacional Autônoma de México. Atualmente cursa o doutorado em Antropologia na UNAM. Entre seus temas de interesse estão migrações humanas, antropologia genética e povos indígenas de México.
Referencia autoral (APA): Muñoz Gerardo, Á.. (Março 2023). Conceito de Antropologia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/antropologia/. São Paulo, Brasil.
