Conceito de Solidão

Renata González | ago. 2023
Professora de Psicologia

A solidão é a sensação psicológica de estar sem companhia (na ausência de outras pessoas) ou sem apoio (mesmo com outras pessoas por perto sente-se que não pode contar com ninguém). A solidão, seja fisicamente ou emocionalmente, pode ser voluntário ou involuntário, circunstancial ou constante, agradável ou causa de sofrimento.

No primeiro caso, o sentimento de solidão não está apenas no fato do indivíduo está sozinho, mas sim na vontade ou necessidade de se ter mais alguém conosco. Podemos imaginar, por exemplo: uma pessoa que mora sozinho, mas gostaria de ter alguém para compartilhar seu tempo em casa com ela; um adolescente indo sozinho ao cinema quando preferia ir com os amigos; uma criança brincando sozinha com suas bonecas desejando que os pais brincassem com ela.

No segundo caso, e podemos dizer que o mais comum quando falamos em solidão, manifesta-se uma carência sentimental geralmente ligada a sentimentos de tristeza e/ou desamparo. Essas sensações podem ser desencadeadas por fatores externos (discussões, bullying, dificuldades em socialização em novos ambientes, entre outros) ou internos (depressão). Pensemos nas seguintes situações: um indivíduo pode ter muitos amigos, mas acredita estar sozinho pois ninguém o entende ou pode ajudá-lo ; alguém rodeado de pessoas, em uma festa, e ainda assim sentir-se subjetivamente sozinho. Sentir-se continuamente sozinho pode levar à insegurança emocional, ansiedade ou depressão.

Diferença entre solidão e estar sozinho

Para a psicologia, existe uma diferença entre solidão e estar só sendo a realidade psíquica de cada indivíduo o que define cada caso. Quando falamos em solidão nos referimos a sensação de desconforto ou dor por estarmos sozinhos independente de existir contato físico com outras pessoas naquele momento. Já o ato de estar sozinho é a simples ausência de outras pessoas, sendo que isso não necessariamente é algum ruim. Quem determina o grau de conforto por estar sozinho é o indivíduo que experimenta aquele momento.

Uma pessoa pode gostar de ficar sozinha para estudar ou fazer um trabalho importante pelo simples fato de que não gosta de ser atrapalhada. No exemplo acima, fica claro que opção de ‘estar só’ partiu da pessoa e ela aprecia esse momento sem a companhia de outros.

Pelo contrário, uma pessoa andando sozinha na rua a noite pode se sentir desconfortável com a situação. Neste caso, o sentimento gerado não é de carência, mas sim de medo. A ideia de ter alguém para compartilhar a caminhada passa a sensação de segurança contra um possível perigo. Esse sentimento de não querer estar só é pontual nesta situação especifica.

A opção de ‘estar só’ passa a ser um problema para o qual é necessário buscar ajuda quando uma pessoa busca se isolar dos outros evitando contato com pessoas próximos e optando por não socializar.

Solidão e tristeza

Como dissemos no tópico anterior, muitas vezes, estar sozinho não é uma escolha consciente, nem explica uma preferência por esse tipo de independência, mas representa uma dificuldade em se abrir emocionalmente ligada a alguma condição que dificulte a interação com outros pessoas, como, por exemplo, mudar para outra cidade, perder um ente querido em um acidente, etc.

Quando não nos sentimos seguros e/ou contidos em nosso círculo de afetos (amigos, familiares, parceiros), podemos experimentar a sensação de solidão, isto é, de não ter ninguém mesmo tendo tantas pessoas, gerando tristeza.

Quando isso acontece, o primeiro passo é identificar o quanto essa tristeza está me afetando, se ela e pontual ou contínua, e como posso mudar essa situação. Por exemplo, conversar com meu parceiro o que me incomoda, contar meus sentimentos aos meus amigos. Reconhecer que necessitamos ajuda e buscá-la é um sinal de equilíbrio emocional.

Infelizmente, nem sempre conseguimos sair desse estado de desconforto sozinhos e quando o sentimento de solidão representa um risco para a nossa saúde mental devemos buscar ajuda profissional de um psicólogo e/ou psiquiatra, conforme o caso.

Solidão na depressão e na melancolia

Segundo a Psicanálise, a depressão e a melancolia são dois quadros clínicos, caracterizados pela falta de energia vital, correspondendo cada um a uma determinada estrutura (o primeiro à neurose e o segundo à psicose). Dentro dos muitos sintomas referidos pelas pessoas que padecem desse quadro a solidão se destaca, uma vez que quanto mais fundo eles caem em suas patologias mais sozinhos eles se sentem.

A melancolia pode estar associada à mania e há sintomas maníaco-depressivos, também conhecidos como bipolaridade, que oscila entre humores exaltados e abatidos, este último marcado por uma insatisfação com tudo ao redor, inclusive o próprio indivíduo.

As pessoas com depressão ou melancolia têm sérias dificuldades para realizar atividades simples porque tudo as deixa sobrecarregadas ou cansadas. Elas não necessariamente choram o dia todo, mas têm pouca vontade de viver, de realizar projetos, de pensar no futuro. Pode ser um grande desafio sair da cama, tomar banho ou comer, assim como se comunicar. Eles podem falar devagar e/ou pouco, manifestando essa sensação de estar “desligado”.

Já as pessoas que estão tristes, apesar de enfrentarem conflitos parecidos as depressivas e melancólicas, têm mais consciência e capacidade de sair desse estado. Podem, por exemplo, estar sensíveis, ansiosos, com vontade de chorar ou com pouca energia, mas conseguem levantar-se da cama, comer, conversar. Se houver um quadro de depressão ou melancolia, às vezes pode-se observar uma certa tristeza devido à apatia, mas o fundamental é a falta de energia e o impedimento de fazer coisas básicas e necessárias da vida cotidiana, o que muitas vezes é associado com esgotamento, e não com o que de fato é, no caso, tristeza.

Como dito acima, pessoas tristes se sentem solitárias. Nos quadros de depressão/melancolia elas deixam de se importar se esta solidão e real ou não devido uma grande dificuldade de percepção da realidade em basicamente todos os aspectos de suas vidas.

Como ajudar uma pessoa com depressão ou melancolia

Pessoas com depressão ou melancolia precisam de uma boa rede de apoio para se recuperar. Elas necessitam nossa escuta, respeito e acompanhamento. Devemos validar esses sentimentos sombrios de tristeza e solidão, sem silenciá-las, rejeitá-las ou menosprezá-las, pois, só assim é possível estabelecer uma conexão que permita sua recuperação. Então, assim como não se diria a uma pessoa fraturada para se animar e correr uma maratona, não devemos dizer a uma pessoa com depressão/melancolia para tentar ser feliz pois isso só serve para gerar frustração.

A grande maioria dos casos de depressão e melancolia requerem acompanhamento profissional pelo quadro que provocam, pelos efeitos e riscos. Este geralmente é realizado por uma equipe interdisciplinar, composta por psiquiatra e psicólogo. O paciente provavelmente precisará de uma carona para ir e voltar do tratamento, pelo menos inicialmente, e essa é uma outra maneira pela qual a família e os amigos podem ser de grande ajuda.

Artigo de: Renata González. Professora de Psicologia

Referencia autoral (APA): González, R.. (ago., 2023). Conceito de Solidão. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/solidao/. São Paulo, Brasil.

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