A paisagem pode ser definida como um recorte de espaço-tempo que serve como unidade de análise para compreender processos biofísicos e culturais em um mesmo panorama. O conceito de paisagem surge de duas conotações em duas línguas, o românico e o anglo-saxão.
Para o primeiro, de origem italiana —e que posteriormente teve variantes—, o paesaggio, foi utilizado desde o século XVI para pinturas, ou seja, vistas a partir da estética, como forma de apreciar o mundo. No entanto, devemos considerar que o termo paisagem como o conhecemos na língua portuguesa não aparece até finais do século XVII. A segunda origem da palavra vem do termo inglês landscape e sua derivação germânica Landschaft, esta última vem do uso da terra, da propriedade da terra e da relação entre sociedade e natureza. Foi assim que séculos mais tarde o conceito foi introduzido no campo científico, especialmente na geografia; como meio de estudar a relação entre sociedade e natureza no espaço.
A paisagem é um conceito puramente social, pois é uma porção do espaço que o observador vê (ao contrário de conceitos como ecologia ou ecossistema). A observação pode ser in situ (por exemplo, quando vamos a uma montanha e observamos todo o Vale) ou ex situ (uma fotografia da paisagem ao nosso gosto). Isso lhe confere certa subjetividade, pois é interpretada pelos interesses e afinidades de quem a observa. No entanto, seu caráter acadêmico deu-lhe métodos e teorias para analisá-lo cientificamente.
Pelo exposto, a paisagem é uma fração geográfica que se obtém a partir da observação ou contemplação de uma cena (em um determinado tempo e espaço, a paisagem que vemos pela janela não é a mesma se a vemos novamente 5 segundos — ou menos tarde—, por quê? O tempo é um fator da paisagem, faz as coisas evoluírem, embora do nosso ponto de vista pareça o mesmo). A paisagem é o resultado de um processo cognitivo e interpretativo que dá origem à compreensão de diferentes perspectivas sobre o que se presta atenção.
À primeira vista, pode parecer que a paisagem natural e cultural são duas coisas que são abordadas e explicadas de forma diferente, no entanto, vemos um terreno comum. Este é um debate levantado por geógrafos no final do século XIX e início do século XX, particularmente pela escola determinista de Friedrich Ratzel, e pelo pai do conceito de paisagem cultural Carl Sauer. Embora o determinismo ambiental tenha sido criticado e rejeitado pela literatura contemporânea, Sauer concluiu que a paisagem cultural é baseada na paisagem natural, que é modificada por um grupo cultural. A cultura torna-se um agente de mudança, o espaço natural é o meio e a paisagem cultural é o resultado. Por isso decidimos abordar os dois conceitos em paralelo.
Para alguns autores, a paisagem natural e cultural são pouco utilizadas na literatura, no entanto, lançaram as bases para uma reflexão profunda sobre a relação entre sociedade e natureza. O desaparecimento de ambos os conceitos deve-se ao fato de que para a ciência existem poucas paisagens verdadeiramente virgens, ou seja, certamente possuem alguma influência humana, portanto, grande parte das paisagens observadas seriam culturais.
Atualmente, os cientistas encarregados de estudar a paisagem preconizam estudar suas propriedades, principalmente a partir de métodos holísticos (tudo é mais do que a soma de suas partes) e compreender as dinâmicas e relações que emergem. A paisagem tornou-se um conceito integrador, que permitiu o estudo do património, ordenamento do território, gestão ambiental, ordenamento do território, fragmentação ecológica, entre muitos outros. Cabe destacar que essa perspectiva da paisagem requer uma abordagem transdisciplinar, ou seja, a paisagem não pode ser observada a partir de uma única ciência.
Como vimos até agora, a paisagem é uma observação. Portanto, vem através de nossos sentidos e experiências. Ao observar uma paisagem ouvimos, observamos, cheiramos e dessa observação aprendemos. É por isso que a percepção, embora seja um processo subjetivo, os processos cognitivos são objetivos, o que nos dá uma melhor compreensão da paisagem.
A paisagem pode ter diferentes significados (o que pode parecer um simples deserto para alguns, pode representar sua identidade e modo de vida para um grupo cultural), como se fossem diferentes lentes de percepção. A experiência de observar a paisagem é baseada em suas propriedades e nos fatores fisiológicos, psicológicos e culturais de quem a observa. O estudo e a compreensão dessas formas de analisar a paisagem deram origem a teorias sobre como as pessoas percebem a paisagem (por exemplo, uma paisagem com atributo natural pode ser um espaço de paz, ao contrário de uma cidade poluída)
Artigo de: Pedro Gómez Molina. Licenciado em Ciências Ambientais e Mestre em Geografia. Realiza pesquisas nas áreas históricas de mineração, sistemas de informação geográfica, e cartografia.
Referencia autoral (APA): Gómez Molina, P.. (ago., 2022). Conceito de Paisagem. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/paisagem/. São Paulo, Brasil.