A palavra lúdico refere-se a objetos ou atividades desenvolvidas com o objetivo de divertir. Pensar o lúdico como uma função que inclui, mas não se limita ao brincar, permite ampliar o conceito e entendê-lo como a capacidade de vivenciar a sensação de liberdade, usar a imaginação e a criatividade na realização de atividades prazerosas. Dessa forma, a função lúdica pode ser desdobrada por meio de diversas atividades de acordo com a subjetividade individual, gostos e preferências de cada pessoa. Por exemplo, algumas pessoas podem experimentar a função lúdica por meio de atividades artísticas como desenho, pintura, música ou dança, enquanto outras podem encontrá-la em esportes ou exercícios físicos. Há também pessoas que a empregam em atividades que envolvem aventura e exploração da natureza.
Entender o lúdico como uma função que vai além do brincar permite concebê-lo como uma habilidade humana fundamental, presente não apenas nas atividades de lazer e tempo livre, mas também em outras esferas da vida, como o trabalho ou o estudo. De fato, segundo o texto de Sigmund Freud sobre o mal-estar da cultura, transferir o lúdico das brincadeiras infantis para o trabalho adulto é uma forma de sublimação que favorece o desenvolvimento psicológico. O autor propõe que o jogo, atividade lúdica e prazerosa em si, pode ser orientado para atividades profissionais e produtivas socialmente valorizadas. Desta forma, a sublimação do jogo no trabalho permite que as pessoas encontrem uma saída socialmente aceitável para seus impulsos e desejos, conseguindo assim uma adaptação à ordem cultural e social.
Vários estudos têm mostrado que a prática de atividades recreativas tem efeitos positivos na saúde mental, uma vez que promove a redução do estresse, da ansiedade e da depressão, além de aumentar a autoestima e a satisfação pessoal. Além disso, também foi constatado que as atividades lúdicas podem contribuir para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional de crianças e adolescentes. Nesse sentido, para o renomado psicólogo suíço Jean Piaget, a brincadeira é a forma lúdica pela qual a criança explora o mundo e adquire conhecimento por meio da resolução de problemas e da experimentação.
É comum que muitas pessoas considerem a brincadeira uma função desnecessária ou até mesmo uma função exclusiva de crianças e adolescentes. No entanto, sua implantação é de grande importância no desenvolvimento e bem-estar psicológico de todas as pessoas, em qualquer idade, e sua ausência pode trazer consequências negativas para a saúde mental.
Por outro lado, a função lúdica também pode ter papel relevante no ambiente de trabalho e na produtividade. Atualmente, muitas empresas e organizações estão começando a implementar estratégias de ludificacão ou gamification (em inglês) no ambiente de trabalho, pois foi demonstrado que isso pode ter efeitos positivos na motivação, criatividade e produtividade dos funcionários.
Por isso, é importante incentivar e promover a prática de atividades lúdicas em todas as idades e em todas as esferas da vida, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, pois não é apenas uma atividade recreativa, mas também uma habilidade fundamental para o desenvolvimento humano e para alcançar uma vida plena e satisfatória.
Para o psicólogo russo Daniil B. Elkonin, a função lúdica do jogo refere-se à capacidade do jogo de proporcionar prazer, diversão e satisfação aos participantes. O autor considera que o brincar é uma atividade intrinsecamente motivadora e prazerosa por si só, e que esta dimensão é essencial no desenvolvimento infantil. Por meio da brincadeira, as crianças podem experimentar emoções positivas, desfrutar da criatividade e da imaginação e encontrar satisfação em explorar e praticar habilidades. A função lúdica do jogo é considerada essencial para manter a motivação, o interesse e o comprometimento das crianças, o que contribui para o seu desenvolvimento integral em diferentes áreas, como a cognitiva, emocional, social e motora.
Por fim, essa visão da função lúdica do jogo encontra certa coincidência com a teoria de Jean Piaget, que sustenta que o jogo não é apenas uma atividade prazerosa, mas também desempenha um papel importante no desenvolvimento cognitivo e social das crianças. Segundo Piaget, por meio da brincadeira, a criança pode vivenciar situações e conflitos imaginários, permitindo-lhe explorar e compreender o mundo ao seu redor de forma lúdica, sem consequências reais. Dessa forma, o jogo torna-se uma ferramenta valiosa para o aprendizado e a construção do conhecimento.
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Junho 2023). Conceito de Lúdico. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/ludico/. São Paulo, Brasil.
