Período de vida de cada pessoa, a partir do seu nascimento até alcançar a idade de doze anos, protegido pelos Direitos Humanos a fim de salvaguardar o seu processo de desenvolvimento individual, o que implica a base essencial de crescimento e formação capaz de influenciar o seu futuro.
O conceito de infância sofreu uma evolução significativa ao longo da história, desde as civilizações antigas até a influência de Sigmund Freud no século XX. Neste artigo exploraremos como a infância foi compreendida em diferentes épocas, passando da percepção das crianças como pequenos adultos na antiguidade, à valorização da infância no Renascimento e na Revolução Industrial e, por fim, à influência de Freud e sua teoria sobre a sexualidade infantil.
Nas civilizações antigas, como a grega e a romana, a infância não era concebida como uma fase única da vida. As crianças eram consideradas adultos pequenos e em crescimento, e esperava-se que assumissem papéis e responsabilidades semelhantes aos dos adultos desde pequenos. A educação focada na transmissão de conhecimentos e habilidades para a vida adulta, sem reconhecer a infância como uma etapa com características diferenciadas.
Durante a Idade Média, a visão da infância começou a mudar devido a influências religiosas e filosóficas. A Igreja Católica enfatizou a importância da inocência e pureza infantil, influenciando assim a percepção da infância. A noção de pecado original levou a uma maior proteção das crianças e à criação de instituições como escolas monásticas. No entanto, ainda se esperava que as crianças contribuíssem para o trabalho familiar e assumissem responsabilidades.
Com o Renascimento, houve uma mudança na percepção da infância. Os retratos de crianças tornaram-se mais comuns na arte e a infância passou a ser valorizada como um momento de inocência e aprendizado. Embora essas mudanças representassem avanços na percepção da infância, a maioria das crianças ainda enfrentava vidas difíceis e tinha responsabilidades profissionais desde cedo.
A Revolução Industrial marcou uma virada na concepção de infância. As rápidas mudanças sociais e económicas levaram a uma maior urbanização e à criação de fábricas. As crianças começaram a ser exploradas como mão de obra barata em condições deploráveis. Isto levou a uma preocupação crescente com os direitos das crianças e com a promulgação de leis laborais destinadas a protegê-las.
Em 1989, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Convenção sobre os Direitos da Criança, um tratado internacional que estabelece os direitos fundamentais de todas as crianças. Este tratado reconhece a infância como uma fase especial com especificidades próprias e protege os direitos das crianças à educação, à saúde, à proteção e à participação nas decisões que as afetam.
No século XX, Sigmund Freud desempenhou um papel relevante na compreensão da infância com sua teoria sobre a sexualidade infantil. Freud argumentou que as crianças vivenciam uma série de estágios de desenvolvimento psicossexual, incluindo os estágios oral, anal e fálico. Essa teoria, que considera as crianças como “pequenos pervertidos polimorfos”, revolucionou a forma como a psicologia infantil era compreendida e destacou a importância da infância na formação da personalidade.
Freud sustentou que, nas primeiras fases da vida, as crianças exploram a sua sexualidade de forma ampla e sem inibições, o que chamou de perversidade polimórfica. Isto implicava que as crianças podem experimentar prazer sexual de várias maneiras e que os seus desejos e curiosidades sexuais são intrínsecos ao seu desenvolvimento. Esta teoria desafiou as concepções tradicionais da infância como um estágio de absoluta inocência.
Esta perspectiva leva-nos a reconhecer que a infância é uma fase do desenvolvimento em que as crianças exploram naturalmente a sua sexualidade e que, ao longo da história, passamos a compreender a complexidade desta fase crucial na formação da personalidade.
A evolução histórica do conceito de infância reflete uma transformação significativa na forma como a sociedade percebe as crianças. Desde sermos considerados pequenos adultos em crescimento nas civilizações antigas até à influência de Freud e da sua teoria sobre a sexualidade infantil no século XX, passamos a reconhecer a infância como uma fase única e crucial na vida de qualquer pessoa.
Apesar dos avanços na percepção da infância, ainda enfrentamos desafios na protecção e promoção dos direitos das crianças em todo o mundo. A história nos ensina que a concepção de infância é um processo em constante evolução, cabendo à sociedade garantir a proteção e o pleno exercício dos seus direitos.
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Outubro 2023). Conceito de Infância. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/infancia/. São Paulo, Brasil.