Espécie são grupos populacionais pertencentes a uma mesma linhagem, capazes de produzir descendentes entre si, mas não com outros grupos, sendo que cada tipo diferente de organismo existente representa sua própria espécie. Este termo é a base do sistema taxonômico, isto é, a classificação biológica que agrupa os organismos em diferentes categorias, sendo que, seu conceito básico está no fato de, intuitivamente, reconhecermos diferentes tipos de seres vivos. Podemos, por exemplo, distinguir tipos de árvores, de caracóis, vertebrados, entre muitos outros grupos a simples vista.
Quando vemos um gato, somos capazes de nomeá-lo como tal, isto é, um membro desta espécie; quando este gato é nosso animal de estimação, podemos diferenciá-lo de outros gatos por suas características particulares, como o timbre de seu miado ou a cor de sua pelagem. Também conhecemos bem as diferenças entre um gato e um cachorro ao ponto de entendermos que eles pertencem a espécies diferentes, e mesmo sem saber nada de biologia, podemos diferenciar um gato de outros felinos intimamente relacionados, como leões, tigres e linces.
Conseguimos identificar a espécie Felis silvestris catus recorrendo às suas características morfológicas e podemos reconhecer um indivíduo dessa espécie pelas suas características individuais. Mas as coisas se complicam quando comparamos estes gatos com seus primos, os gatos selvagens africanos Felis lybica, que são quase iguais.
Até que ponto eles podem ser considerados membros da mesma espécie considerando que um vive na natureza e o outro se adaptou totalmente para viver conosco? Quando vemos um grupo de gatos, todos diferentes, com alguns gatos selvagens misturados entre eles, o que é necessário para diferenciar um gato de um gato selvagem e como marcamos o limite entre os diferentes tipos que há no grupo?
Infelizmente, não existe uma resposta única e definitiva, o que desencadeia discussões entre os biólogos. Existem diferentes conceitos que tentam definir quais são os critérios de distinção e nenhum deles é completamente verdadeiro ou completamente falso. Todos eles servem para reconhecer uma espécie em diferentes contextos.
O conceito mais intuitivo de espécie, e o mais antigo, é o de espécie morfológica. Baseia-se nas características físicas / anatômicas dos organismos para classificá-los em diferentes grupos.
De acordo com esse conceito, uma espécie é um grupo de indivíduos que compartilham características morfológicas semelhantes e que diferem de outros grupos por características distintas. Tem a vantagem de ser de fácil aplicação por permitir o reconhecimento rápido de diferentes espécies por sua forma. Também permite a identificação de espécies a partir de restos fósseis ou amostras incompletas.
Mas, como no exemplo dos gatos, o conceito morfológico não é útil para espécies muito semelhantes entre si. Existem muitas espécies tão parecidas que sob o conceito morfológico seriam as mesmas, mas têm comportamentos muito diferentes, e até vivem em áreas geográficas diferentes.
Existem muitas espécies tão parecidas que sob o conceito morfológico seriam as mesmas, mas têm comportamentos muito diferentes, e até vivem em áreas geográficas diferentes.
Proposto em 1942, o conceito biológico baseia-se na capacidade dos organismos de uma espécie de se reproduzirem entre si, gerando descendentes férteis.
De acordo com esse conceito, membros de duas espécies diferentes não podem cruzar porque são incompatíveis entre si e, se o fizerem, seus descendentes serão híbridos estéreis ou doentes. Isso se vê claramente no resultado do cruzamento entre um burro e um cavalo, cujo descendente é a mula, animal estéril incapaz de deixar descendência.
Este conceito não pode ser aplicado a organismos que se reproduzem assexuadamente, como bactérias, fungos ou plantas. Tampouco pode ser aplicado a organismos extintos, cujo comportamento reprodutivo é desconhecido. Além disso, há casos de hibridização entre diferentes espécies que podem gerar descendentes viáveis.
No caso dos gatos, os cruzamentos entre gatos domésticos e seus parentes selvagens geraram algumas raças férteis de gatos, portanto o conceito biológico de espécie também não se aplica aqui.
Um terceiro conceito de espécie que ganhou relevância nos últimos anos é o de espécie filogenética, que se baseia nas relações evolutivas entre organismos para definir os grupos taxonômicos.
De acordo com esse conceito, uma espécie é um grupo monofilético, ou seja, um grupo que inclui todos os descendentes de um ancestral comum e apenas eles.
Em um grupo monofilético, a ancestralidade dos indivíduos pode ser rastreada até o último ancestral comum a todos eles, ou seja, a árvore genealógica pode ser rastreada até os primeiros casais que deram origem a toda a família.
À medida que a árvore se afasta dos primeiros ancestrais, o DNA de seus membros acumula pequenas alterações, mas continua compartilhando uma base comum. Isso faz com que a maior parte do DNA dos organismos de um grupo monofilético muito semelhante.
Este é o caso atual da humanidade: nosso DNA é quase igual ao de qualquer outra pessoa no mundo. Isso confirma que a humanidade é uma única espécie, o Homo sapiens.
Apresenta a vantagem de refletir a história evolutiva dos organismos e de usar critérios objetivos e quantificáveis, como o número de mudanças em uma determinada sequência de DNA. No entanto, também apresenta dificuldades, como o fato de exigir um conhecimento profundo e detalhado da filogenia dos grupos estudados e a necessidade de técnicas bioquímicas adequadas (e muitas vezes caras) para realizar análises de DNA para se avaliar as diferenças.
Como existe a possibilidade de analisar o material genético dos organismos, este último critério é tomado como critério definitivo, e nos casos em que os demais critérios não conseguem diferenciar as espécies, esta é a melhor alternativa.
Como se vê, não existe um conceito único de espécie válido para todos os casos ou para todos os propósitos. Cada conceito tem suas vantagens e desvantagens, suas aplicações e suas limitações, e os profissionais usam o mais adequado para seu contexto de pesquisa, muitas vezes usando vários ao mesmo tempo.
A biodiversidade é um fenômeno complexo e dinâmico e a capacidade dos seres vivos de se adaptar, ocupar novos ambientes e, por fim, sobreviver, está sempre à frente de nossos conceitos teóricos, por isso não podemos afirmar que temos um único conceito, ou um punhado de conceitos, abrangendo toda a variedade e diversidade da vida.
Artigo de: David Alercia. Licenciado em Biologia pela Universidade Nacional de Córdoba, especializado em gestão ambiental, trabalha com turismo científico.
Referencia autoral (APA): Alercia, D.. (Julho 2023). Conceito de Espécie. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/especie/. São Paulo, Brasil.