Conceito de Ciúme

Agustina Repetto | Abril 2023
Licenciada em Psicologia

Os ciúmes são um sentimento complexo no qual estão envolvidas emoções primárias como medo, raiva e/ou tristeza. Podem surgir em resposta a uma ameaça percebida -real ou imaginária- em um relacionamento. Quase todos nós já experimentamos ciúmes em algum momento de nossas vidas e, para efeitos de movimentos primários, pode ser expressado em diferentes graus e combinações, podendo variar de pessoa para pessoa e de situação para situação. Por exemplo, relacionando-se ao medo pode aparecer quando a exclusividade sexual é perdida em um relacionamento amoroso e isso é interpretado como um perigo para a continuidade do casal. Com a raiva pode ser uma resposta emocional a uma percepção de falta de atenção de uma pessoa significativa, como quando uma criança tem ciúmes de seu irmão porque percebe que seus pais prestam mais atenção no outro que nele. Já a tristeza pode aparecer como resultado de uma perda ou abandono.

A psicologia tentou dar uma resposta através das várias teorias que foram propostas ao longo dos anos. O ciúme pode ser resultado de processos cognitivos como percepção e interpretação de informações, mas também é influenciado por fatores evolutivos. A partir da teoria da evolução aponta-se que o ciúme surge da necessidade de proteger o relacionamento e garantir a sobrevivência da prole. Além disso, o ciúme pode ser exacerbado pela dependência emocional no relacionamento, bem como pela presença de estilos de apego inseguros ou padrões de pensamento distorcidos. Quando isso acontece, a vivência do ciúme pode afetar tanto o relacionamento em si quanto a saúde mental dos envolvidos.

Estudos sobre ciúme

Os trabalhos sobre ciúmes exploraram a relação entre ciúme e os tipos de apego. Por exemplo, no artigo publicado em 2008 por Franco y Aragón, argumenta-se que o ciúme está associado ao amor viciante, especialmente naquelas pessoas que têm um estilo de apego ansioso. Os resultados mostraram que os estilos de apego inseguros foram positivamente relacionados ao ciúme. Além disso, o ciúme também foi positivamente relacionado ao amor viciante. Essas descobertas sugerem que pessoas com estilos de apego inseguros têm maior probabilidade de sentir ciúmes e desenvolver padrões de amor viciante em seus relacionamentos. Na pesquisa, os autores concluem que o conhecimento dos tipos de apego e do ciúme podem ser úteis na prevenção e tratamento de problemas relacionados ao amor viciante. Além disso, apontam que trabalhar para melhorar os tipos de apego e reduzir o ciúme podem ser estratégias eficazes para prevenir o aparecimento de padrões amorosos viciantes nas relações de casal.

Outros estudos analisaram o ciúme sob a ótica da psicoterapia analítico-funcional. Por exemplo, no estudo de López, de 2002, no qual se analisou o caso de uma paciente com ciúmes, destacou-se a importância de identificar os pensamentos e sentimentos subjacentes que impulsionam sua manifestação. Argumentou-se que o ciúme pode ser uma resposta pouco funcional a uma série de pensamentos e sentimentos, e que a terapia busca gerar alternativas mais adaptativas para lidar com esses estados emocionais.

Em um estudo complementar de 2008, Costa e da Silva Barros apresentaram uma perspectiva interessante sobre a análise do comportamento para entender o ciúme e ofereceram algumas estratégias práticas para seu tratamento. Os autores argumentaram que o ciúme pode ser entendido como um padrão de comportamento aprendido que é mantido por meio de processos de reforço e punição. Em outras palavras, o ciúme pode ser reforçado pela atenção e carinho recebido de um parceiro, enquanto a falta de atenção ou a percepção de ameaça podem ser punidas por sentimentos de ansiedade e desconforto. O artigo apresenta uma análise detalhada dos diferentes componentes do comportamento ciumento, como vigilância, controle e agressividade. Argumentou-se que esses comportamentos podem ser entendidos como formas de responder à ansiedade e desconforto vivenciados em situações de ciúme. Em relação ao tratamento do ciúme, os autores sugeriram a importância de identificar as situações que desencadeiam o comportamento ciumento e as consequências que o mantêm. A partir dessa análise, estratégias podem ser desenvolvidas para reduzir a ansiedade e o desconforto e estimular comportamentos mais adaptativos.

Para concluir, podemos dizer que, embora seja necessário reconhecer que o ciúme pode ser natural, também é importante saber que quando se torna problemático é prejudicial ao relacionamento e a nossa saúde mental. Por isso, é fundamental desenvolver uma comunicação assertiva e honesta com as outras pessoas, trabalhar a própria segurança e autonomia emocional e buscar ajuda profissional caso o ciúme se torne um problema.

Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.

Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Abril 2023). Conceito de Ciúme. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/ciume/. São Paulo, Brasil.

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