A intolerância à angústia se refere à dificuldade que algumas pessoas têm em tolerar e lidar com o desconforto emocional, especialmente em relação a emoções comumente denominadas “negativas”. Trata-se de um conceito fundamental na psicologia clínica. Exploraremos em profundidade o que é a intolerância à angústia, suas implicações clínicas e como abordá-la a partir de uma perspectiva baseada em evidências. Nesse contexto, pessoas com alta intolerância ao desconforto podem:
● Catastrofizar as emoções: exagerar as consequências negativas de se sentir angustiado. Por exemplo, acreditar que a angústia é um estado impossível de superar.
● Sentir-se incapazes de tolerar o desconforto: percebem as emoções negativas como insuportáveis e sentem que não conseguem enfrentá-las de forma eficaz.
● Adotar comportamento de evitação ou fuga: a intolerância ao desconforto pode levar à evitação de situações ou atividades que possam gerar angústia. Por exemplo, uma pessoa com fobia social pode evitar eventos sociais para não sentir ansiedade.
A intolerância à angústia está intimamente ligada aos transtornos de ansiedade e depressão. Algumas implicações específicas incluem:
Aumento do Sofrimento Emocional: Pessoas com intolerância ao desconforto emocional experimentam um sofrimento emocional adicional devido à dificuldade em lidar com emoções negativas. Isso pode afetar sua qualidade de vida e bem-estar geral, já que utilizam estratégias ineficazes de evitação que apenas intensificam o desconforto. A incapacidade de tolerar a angústia pode levar a uma maior intensidade de sintomas ansiosos e depressivos. Por exemplo, uma pessoa com intolerância à angústia pode sentir que a ansiedade é insuportável, aumentando seu sofrimento.
Ciclo de Evitação e Reforço Negativo: A intolerância ao desconforto emocional pode levar a um ciclo de evitação: quanto mais se evitam situações angustiantes, mais se reforça a crença de que essas experiências são insuportáveis. Por exemplo, alguém com fobia social pode evitar eventos sociais para não sentir ansiedade, mas essa evitação perpetua a intolerância e fortalece a ideia de que a angústia é incontrolável.
Impacto na Tomada de Decisões: Pessoas com intolerância à angústia podem tomar decisões baseadas na evitação do desconforto emocional em vez de considerar objetivamente as opções. Por exemplo, alguém pode rejeitar uma oportunidade de emprego desafiadora por medo de sentir ansiedade ou estresse, ao invés de avaliar racionalmente os benefícios e riscos.
A intolerância à angústia pode ser tratada de maneira eficaz por meio de estratégias terapêuticas baseadas em evidências, como:
Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT):
○ A ACT concentra-se na aceitação das emoções negativas ao invés de evitá-las. Ajuda as pessoas a se comprometerem com seus valores e objetivos, apesar do desconforto emocional. Na ACT, incentiva-se a ideia de que o desconforto emocional faz parte da experiência humana normal. Em vez de lutar contra as emoções negativas, as pessoas são encorajadas a aceitá-las e a agir de acordo com seus valores pessoais. Por exemplo, uma pessoa com intolerância à angústia pode aprender a aceitar a ansiedade como uma resposta natural em determinadas situações e, ao mesmo tempo, comprometer-se com atividades significativas em sua vida.
Exposição Gradual:
○ A exposição gradual a situações que geram angústia ajuda a desafiar as crenças de que o desconforto é insuportável e a dessensibilizar a pessoa frente a essas situações. Por exemplo, uma pessoa com fobia de voar pode fazer exposições graduais, como visitar um aeroporto primeiro e depois sentar-se em um simulador de voo.
Reavaliação de Crenças Irracionais:
○ Identificar e questionar crenças catastróficas sobre o desconforto emocional. Será realmente insuportável? Que evidências há contra isso?
Mindfulness e Atenção Plena:
○ A prática de direcionar e focar a atenção ajuda a reduzir a reatividade emocional e a aceitar as emoções sem julgá-las. Além disso, permite observar pensamentos e emoções sem se identificar totalmente com eles.
Em resumo, a intolerância à angústia afeta a qualidade de vida e o bem-estar emocional ao aumentar o sofrimento, perpetuar a evitação e distorcer a tomada de decisões. Reconhecer e abordar esse aspecto é fundamental na terapia para ajudar as pessoas a desenvolverem estratégias mais eficazes para gerenciar suas emoções.
Imagem: Fotolia. 593
Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.
Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Out. 2024). Conceito de Angústia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/angustia/. São Paulo, Brasil.
