A primeira coisa que nos vêm à mente se somos questionados sobre o que seria um objeto é o seu sentido material, ou seja, um corpo inanimado dotado de uma determinada forma física que exerce uma função. Geralmente, a classificação de um objeto será baseada em sua caracterização, ou seja, seu objetivo, sua origem, seus materiais, etc. Por exemplo, uma cadeira, objeto utilizado para se sentar, pode ser classificada como um produto (quando é utilizada como apoio para se sentar para comer ou trabalhar) ou uma propriedade (como parte da estrutura de um teatro).
O termo objeto pode também estar associado a outra palavra, como forma de diferenciar este objeto dentro um contexto geral. Podemos citar, como exemplo, o objeto decorativo – que costuma exercer uma função visual e cujo formato pode ser algo útil ou não; o objeto de um crime – que seria o bem material ou humano alvo do delito; o objeto astronômico – corpo ou estrutura que surge de forma natural no universo;
Entretanto, os objetos podem ser classificados em dois grandes grupos – o concreto (ou material, já explicado acima) e o abstrato (ou imaterial, do qual saem uma variedade de usos e locuções como mostraremos a seguir).
Primeiramente, utiliza-se muito o objeto nas áreas de gramatica – para sinalizar a palavra que complementa o verbo (o. direta/indireto), e linguística – sinalizando a interação verbal de uma enunciação.
No campo da psicologia, se diz objeto ao foco dos pensamentos de um indivíduo, ou seja, a coisa ou pessoa para qual suas emoções ou ações são direcionadas. Um filho sempre é o objeto de preocupação de seus pais, uma peça rara pode ser o objeto de obsessão de um colecionador, etc.
Já para as ciências, objeto é o tema central de um estudo ou pesquisa, isto é, o conteúdo sobre o qual se desenvolvera todo o trabalho.
Partindo do conceito cientifica, ainda que muito anterior a ele, temos o conceito filosófico de objeto que pode ser descrito de forma simplificada como tudo aquilo que se aprende através da assimilação de uma serie de conhecimentos ou pensamentos.
Em geral, o termo objeto refere-se a uma coisa material, ou então, a uma questão sobre a qual o pensamento trata: por exemplo, o “objeto de estudo” de uma determinada ciência ou o “objeto” de um enunciado. A palavra objeto vem do latim obiectus, que se refere a “colocar a frente” ou “interpor”, assim como “objetar” ou “repreender”.
A origem da noção de objeto como a conhecemos hoje situa-se geralmente no contexto do pensamento da Modernidade, momento em que se funda uma visão dualista do mundo construída sobre uma multiplicidade de dicotomias características: a alma e a mente se opõem ao corpo, a cultura se opõe à natureza, o sujeito se opõe ao objeto. A autoconcepção do ser humano no Ocidente, a partir da Modernidade, baseia-se na conceituação de um sujeito consciente, com interioridade pessoal, com capacidade de agência, oposto ao mundo objetivo, constituído de coisas inertes, sem interioridade espiritual. É possível encontrar antecedentes dessa forma de entender o que existe no dualismo típico do pensamento grego clássico —manifesto, por excelência, na filosofia platônica—; no entanto, deve-se notar que, na medida em que o homem grego se concebe como um ser natural que faz parte do cosmos, não há nele uma noção real de um “sujeito” separado da natureza, ao contrário do que ocorre no pensamento moderno. Sob este último, a natureza, associada ao objetivo, é entendida como exterior versus interioridade do sujeito.
Um dos principais referentes do dualismo moderno entre sujeito e objeto foi René Descartes (1596-1650), que desenvolveu a distinção entre a res cogitans (isto é, a coisa pensante) e a res extensiva (as coisas materiais, sensíveis), ou seja, entre mente e matéria ou entre alma e corpo. O objeto, caracterizado por sua natureza corpórea, apresenta-se como uma entidade essencialmente passiva, capaz de ser percebida, mas não de autopercepção ou percepção de outros objetos.
A concepção dualista do mundo, constitutiva do mundo moderno, ao propor uma divisão entre humanidade e natureza como duas esferas opostas, sugere não apenas uma separação, mas também uma hierarquização entre tais esferas. Nesse sentido, diversas correntes teóricas têm apontado a implicação dessa forma de conceber o mundo com um projeto político-econômico específico, historicamente determinado, segundo o qual a natureza representa um recurso disponível a ser explorado, visando à acumulação de capital.
Assim, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), mostram que a construção ontológica e epistemológica realizada pela modernidade do conceito de natureza como um conjunto de objetos disponíveis — e, portanto, submetida a vontade humana – era funcional para o desenvolvimento do modo de produção capitalista. A natureza se converte, sob tal construção, em um recurso a ser explorado e depois transformado em mercadoria.
Da mesma forma, a ideia de dominação do humano sobre o não humano serviu, por sua vez, para justificar as relações coloniais impostas pela expansão territorial, negando a humanidade dos povos colonizados.
A partir da crítica à concepção moderna do dualismo entre sujeitos e objetos, desenvolveram-se outras conceituações sobre o que existe —e, com ele, sobre o cognoscível—, que sugerem uma capacidade de ação intrínseca aos objetos. Por exemplo, o fenomenólogo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) desenvolveu uma ideia do corpo como dotado de uma forma de consciência própria, propondo com ela uma superação do dualismo.
Por outro lado, o antropólogo e filósofo contemporâneo Bruno Latour (1947), juntamente com outros autores ligados à sua obra, propuseram uma reconceituação da oposição entre natureza e cultura, que devolve aos objetos sua capacidade de agência.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Objeto. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/objeto/. São Paulo, Brasil.