Conceito de Indústria Cultural

Lilén Gomez | Julho 2023
Professora de Filosofia

Indústria cultural refere-se a produção de objetos culturais em resposta às leis gerais do capital, orientadas para a maximização dos lucros econômicos. Este conceito foi desenvolvido por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), principalmente em sua obra Dialética do iluminismo (1944). Ali, os autores apontam que, com o avanço do capitalismo industrial, a forma como a produção cultural é organizada é condicionada pela lógica geral da produção sob esse sistema.

O projeto de ambos os filósofos pertencentes à Escola de Frankfurt, foi atravessado por uma forte crítica à modernidade filosófica, no contexto de um aprofundamento do desenvolvimento capitalista. A noção de indústria cultural, nesse sentido, refere-se à maneira pela qual a cultura, no referido sistema econômico, torna-se uma indústria regida pelas mesmas leis da produção de mercadorias voltadas para o consumo de massa.

Por sua vez, a crítica da cultura no marco do capitalismo avançado é também atravessada pela experiência da ascensão do nazismo e da emergência dos totalitarismos europeus: as tendências totalitárias, que realizaram o extermínio sistemático de seres humanos, perceberam o fracasso do Projeto iluminista. Dessa forma, o que o Ocidente havia apresentado como a cultura da mais alta civilização, em oposição à barbárie, era, na verdade, bárbaro.

Assumindo um caráter industrial, a produção cultural —musical, editorial e cinematográfica— é articulada sob grandes agências ou monopólios que, por sua vez, se associam a outras grandes empresas, formando uma grande máquina econômica. O benefício econômico é o que, em última análise, determina a orientação da cultura de massa. Como resultado, os bens culturais não são mais produtos artísticos, mas apenas mercadorias. Nesse sentido, são completamente contraditórios no que diz respeito à função social da arte, marcada por sua autonomia.

O papel da cultura nas sociedades industriais

Ao tornarem-se produtos comercializáveis, os bens culturais transformam-se radicalmente em sua essência. É por isso que, pela forma como estão submetidos à lógica do mercado, não é mais necessária sua efetiva troca comercial. Ao contrário, ainda que seu acesso seja gratuito – como, por exemplo, no caso da radiodifusão musical – sua distribuição está sujeita a financiamentos concedidos por aparelhos publicitários, ou seja, se esses produtos podem ser distribuídos gratuitamente é porque são financiados pela publicidade, que está na base de todas as atividades industriais. Dessa forma, o que se vende não é necessariamente o produto cultural, mas está sujeito à lógica mercantil que possibilita seu consumo em massa por meio do suporte publicitário.

Por outro lado, quando se perde o caráter autônomo da arte em sua tradução como indústria cultural, modifica-se também sua função social, de modo que a cultura se torna o reverso do trabalho mecanizado. Ou seja, a esfera do lazer, nos termos da indústria cultural, tem como função a doutrinação das massas através do prazer, mas não a sua emancipação. Os produtos culturais, regidos pela tecnificação industrial que os monopólios possibilitam, como bens de consumo, tornam-se objetos alienantes, funcionais à lógica da esfera do trabalho, já que seu potencial estético e sua capacidade de entretenimento são utilizados para a reprodução massiva da ideologia capitalista.

Em decorrência da industrialização da cultura, os bens culturais são padronizados segundo critérios mercadológicos, mantendo apenas uma aparente diversidade, cujo objetivo é atender a diferentes grupos de consumidores. A produção desses bens é feita em série, a partir de um modelo padrão massivamente replicado mecanicamente, de forma que, mesmo quando parece haver uma grande diversidade no mercado, o que está por trás é a reprodução de um mesmo formato para cada tipo de consumidor, de acordo com seus diferentes interesses.

Portanto, a possibilidade de escolher entre diferentes opções é, para os autores, uma ilusão que dá ao espectador um maior grau de satisfação e, assim, o mantém sujeito à lógica do próprio consumo.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Julho 2023). Conceito de Indústria Cultural. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/industria-cultural/. São Paulo, Brasil.

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