Conceito de Desconstrução (em Filosofia)

Lilén Gomez | Agosto 2024
Professora de Filosofia

A desconstrução é uma ‘operação’ filosófica, no contexto do corpus teórico desenvolvido pelo filósofo argelino Jacques Derrida (1930-2004), que visa ao desmonte de uma série de conceitos fundamentais da metafísica ocidental.

O termo é uma tradução da noção de Destruktion elaborada por Martin Heidegger. Ao trabalhar sobre essa noção, Derrida aponta que a leitura que ele busca propor não implica tanto na ideia de uma “destruição” como demolição da ordem metafísica anterior, mas que a desconstrução visaria a uma operação de desmontagem no sentido de desarmar uma construção (gramática, conceitual) para mostrar como suas partes se encaixam.

Desconstrução, estruturalismo, pós-estruturalismo

A desconstrução tem sido associada à corrente estruturalista, devido ao seu trabalho sobre as estruturas da linguagem. No entanto, ela também supõe um gesto anti-estruturalista, pois trata de desarmar essas estruturas, não apenas linguísticas, mas também sociais, institucionais, políticas, culturais e filosóficas. Por esse motivo, os desenvolvimentos derridianos, em alguns contextos, são incluídos na tradição “pós-estruturalista”, da qual Derrida seria um dos principais expoentes. A operação de desmontagem, à qual fizemos referência inicialmente, busca compreender, assim, o modo como foi construído um arcabouço filosófico-cultural ao longo da história do Ocidente. Assim, embora proponha “desmontar” certas estruturas, implica, ao mesmo tempo, a capacidade de “reconstruí-las”.

Sobre a (im)possibilidade de uma definição

De acordo com a própria teoria derridiana, é difícil dar uma definição positiva da desconstrução, pois ela mesma, segundo o autor, se esquiva de qualquer definição. Consequentemente, podemos nos aproximar da compreensão da desconstrução por meio de uma via negativa: não se limita a um modelo linguístico gramatical, não se trata de uma técnica ou método de análise, nem de uma crítica. Não seria uma análise porque não busca decompor estruturas em seus elementos simples, em uma origem indecomponível; pelo contrário, aqueles elementos relativos a uma suposta origem estariam, eles mesmos, submetidos à operação desconstrutiva.

A questão da origem será um núcleo fundamental da desconstrução, que substitui toda referência a uma presença original pela ideia de uma marca de uma marca: todo sinal na linguagem sempre remete a outro sinal, mas nunca a uma presença absoluta, como postula a tradição metafísica. Sob essa perspectiva, todo signo linguístico opera, então, como uma marca que nunca remete a uma presença original, mas a uma cadeia de significados deslocados. Por outro lado, a desconstrução também não poderia ser reduzida a uma crítica no sentido kantiano do termo, pois o aparato crítico kantiano é, ele mesmo, um tema a ser desconstruído.

Por isso, foi afirmado que a desconstrução seria uma “teologia negativa”, ou seja, um discurso que remeteria a um além irrepresentável na linguagem. Em resposta a essa interpretação, Derrida observa que, em consonância com o que foi dito sobre a noção de marca, não há um sentido originário que esteja além da linguagem. Daí a ideia de que, segundo o autor, não haveria um “fora do texto”.

Finalmente, Derrida dirá que a desconstrução não é sequer uma “operação” ou um “ato” que um sujeito possa executar, aplicando-a sobre um determinado “objeto”, mas que responde à ideia de um “isso” impessoal. Com isso, o filósofo destaca que, a partir da perspectiva desconstrutiva, é preciso questionar a própria separação moderna entre sujeito e objeto. Em conclusão, o filósofo afirma que qualquer enunciado que afirme “a desconstrução é X”, sob a forma lógica “S é P”, careceria de pertinência, porque não haveria, em nenhum caso, uma essência delimitável.

A desconstrução como encadeamento

Como mencionado, a desconstrução não pode ser definida. No entanto, trata-se de uma palavra substituível por uma série, um encadeamento de significados, aos quais Derrida recorre frequentemente ao longo de seu corpus teórico: «escrita», «marca», «différance», «suplemento», «hímen», «fármaco», «margem», «parergon», etc. A lista constitui um encadeamento sempre aberto, pois nenhuma palavra pode lhe atribuir um significado fechado —totalizante—; a lógica do sentido aqui será remeter sempre a outro sentido aberto, dentro de uma cadeia infinita de substituições.

Para concluir, vale mencionar que a desconstrução filosófica tem sido influente em áreas tão vastas que abrangem desde a arquitetura até a gastronomia.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Agosto 2024). Conceito de Desconstrução (em Filosofia). Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/desconstrucao/. São Paulo, Brasil.

  • Compartilhar
Copyright © 2010 - 2024. Editora Conceitos, pela Onmidia Comunicação LTDA, São Paulo, Brasil - Informação de Privacidade - Sobre